Começo esse post com um pedido de
desculpas ao leitor desse espaço. Sempre defendi que o futebol deve ser
discutido em alto nível, com leveza, sem carregar na tinta da paixão
clubística, sob pena de cairmos em ofensas gratuitas e, convenhamos, já existem
outros foros de discussão com esse propósito. Por essa razão, peço desculpas
pelo tom que adotarei nesse texto, mas, isso é o que acontece quando você perde
uma noite de sono tentando entender exatamente o que se passa com esse time do
São Paulo. Não me entendam mal. Eu não estou preocupado com o resultado do jogo
da noite passada, em Belo Horizonte, nem tampouco com a eliminação do
Campeonato Paulista, pois, acompanho esse esporte tempo o suficiente para
entender vitórias e derrotas com naturalidade. Acontece. Segue o jogo. O que
incomoda é forma como elas acontecem e o rumo perigoso que esse time vem
trilhando. Bem, desculpas pedidas, vamos ao que interessa.
Os problemas técnicos do São Paulo são
conhecidos de todos os torcedores: não temos laterais confiáveis, os volantes
são sofríveis, o que coloca a nossa defesa em péssima situação em praticamente
todas as partidas e, óbvio, não conseguimos estabilizar uma dupla de zaga. Isso
não faz a nossa equipe muito pior do que qualquer outro time desse capenga futebol
brasileiro ou da Libertadores. O nosso time é muito pior que Arsenal de
Sarandí, The Strongest, Tijuana ou qualquer outro dessa competição? Eu acho que
não. Então, o que explicaria essa campanha medíocre do São Paulo na
Libertadores e na fase decisiva do Campeonato Paulista? A comissão técnica
acerta e erra como qualquer outra no futebol brasileiro. Substituições
equivocadas, escolhas questionáveis, mas, não acho que Ney Franco esteja
fazendo um mau trabalho. Ele realmente conseguiu mudar a forma de o time jogar
e valorizou o toque de bola no meio de campo, com jogadores acima da média como
PH Ganso e Jadson. A diretoria continua contratando mal como sempre, continua
arrogante como sempre e querendo os créditos somente das vitórias, como sempre.
Até aí, nada de mais, nada que justifique uma campanha de 3 vitórias, 1 empate e 6 derrotas. Com dezoito gols a favor e
dezoito gols contra. Lembrem-se o São Paulo só jogou com Atlético Mineiro (que
não ganha um título relevante há mais de quarenta anos), Arsenal de Sarandí e a
dupla boliviana The Strongest e Bolivar. A campanha desse ano foi vergonhosa
pro torcedor, pra dizer o mínimo. O que explica isso?
Bem, amigos, na minha opinião
esse time sofre de um grave problema de caráter. O que eu vejo, baseado nos
últimos jogos do time no Campeonato Paulista e na Libertadores, é um time sem
qualquer compromisso com o resultado dentro de campo, um time sem cara, sem
alma. A questão não é bem falta de raça ou disposição pra correr. Não é isso.
Falta aos jogadores encararem aqueles noventa minutos de jogo como algo
realmente importante, no qual cada passe, cada arremate, cada cruzamento, cada
marcação é importante. É o time mais relaxado e descompromissado que eu já vi
vestindo um uniforme do São Paulo em toda a minha vida. Aliás, se nada for
alterado, sugiro que a diretoria adote a utilização daquela camisa vermelha até
o final da temporada, pois, eu poderia ter a ilusão de que aquele time medíocre
que está em campo não é o meu time do coração, mas, quem sabe o América-RN ou o
Juventus. Seria menos doloroso.
Quem essa gente pensa que é para
esculhambar com a história e a tradição do São Paulo Futebol Clube dessa forma?
Jogadores como Denilson, Wellington, Douglas, Paulo Miranda, Rafael Tolói são
titulares do São Paulo? Não quero ser desrespeitoso com ninguém, mas, esses
homens, tempos atrás, não serviriam nem como gandulas no Morumbi e deveriam agradecer
todos os dias por terem o privilégio de vestir o uniforme desse time. Deus,
tenha piedade de nós, torcedores. O que dizer, então, do “nosso Beckenbauer”, o
Lúcio, um dos jogadores mais caros do elenco e que deveria ser um dos líderes
desse time, exemplificando o ideal de comprometimento e profissionalismo que se
espera de um jogador do São Paulo? Pois bem, esse é o mesmo jogador que se
recusa a ser substituído, mesmo estando mal nas partidas, que se acha no
direito de deixar o time na mão em dois jogos importantes, porque quis
bancar o xerife da zaga? Esse homem, até agora, é um total desperdício de tempo
e, principalmente, de dinheiro. Livrem-se dele assim que possível. O Luis Fabiano
foi um excepcional atacante, mas, num futebol caro e extremamente profissional
dos dias de hoje não é possível manter um jogador no elenco apenas por
gratidão. É fato que ele teve problemas físicos, mas, nitidamente ele não é
mais um grande atacante. É uma pena, mas, o tempo passa pra todo mundo e acho
que é ora de tomar outro rumo.
Por fim, quero falar do Rogério
Ceni. As pessoas que acompanham esse espaço sabem que eu não tenho o Rogério
Ceni como ídolo e nem tampouco como o melhor arqueiro da história do São Paulo,
mas, tenho um profundo respeito por esse homem e pela idolatria que a maioria
da torcida, principalmente aqueles na faixa dos vinte anos, tem pelo titular do
gol são paulino. Mas, entendo que está mais do que na hora de o São Paulo
caminhar em outra direção. A idade avançada e os problemas físicos não deixam
outra solução. Falhas fazem parte da vida do goleiro, mas, chega um certo ponto
que os erros acontecem acima da conta e principalmente, em jogos decisivos. E o
pior, eu começo a questionar essa tal liderança que algumas pessoas creditam ao
Rogério. Não dá pra ignorar o tweet da esposa do goleiro reserva Denis durante
o jogo contra o The Strongest, em La Paz. O que pode ser apenas um recalque de
uma esposa em defesa da titularidade de seu marido pode também significar muito
mais que isso. Será que nas internas, outros jogadores do São Paulo não pensam
a mesma coisa acerca do goleiro, de que ele é egocêntrico, controlador, que só
pensa nos seus números e recordes e, o que é pior, vale-se da idolatria da
torcida para passar imune às críticas mesmo quando joga mal? Sinceramente, eu
não sei como esse tipo de “liderança” pode ser benéfica para o grupo. É hora de
agradecer pelos serviços prestados, realizar tantos e quantos jogos de
despedida forem necessários e colocar o Rogério Ceni como uma página bonita da
história desse clube. Ponto!
Concluindo, apesar do meu rancor e
rabugice, típicas de um dia após o atropelamento, eu acho que bons ventos podem
soprar do lado do Morumbi, basta a diretoria ter sapiência nesse momento. Temos
algum técnico disponível melhor que o Ney Franco pra conduzir esse time? Eu
acho que não. Então, não tem porque mudar. Apesar desse início de temporada
catastrófico eu jamais duvidarei completamente de um time que tem PH Ganso e
Jadson no meio de campo. Acho que precisamos de mais ajuda na defesa e
precisamos desesperadamente de um atacante de qualidade. É lógico que nada
disso servirá se continuarmos com a mesma atitude apática, passiva e
descompromissada em campo. Mudança já. Perder, como disse no início do post é
normal, é do jogo, mas, perder da forma como perdeu em Belo Horizonte, ontem, ou
a forma como jogou contra o Corinthians, no domingo, é inadmissível. Nós,
torcedores, merecemos e exigimos mais.