
Para mim, pra começar, estes estádios “padrão Fifa” acabam
com a alegria do futebol. Encarecem o evento (nem vou chamar de “espetáculo”) e
deixam de fora quem trouxe esta paixão e tornou o esporte popular: o povão. Lindos
por fora e por dentro, mas melancólicos e cheio de regrinhas. É isto que os
estádios da Fifa são.
Só que o padrão Fifa não conseguiu acabar com a violência.
Evidente que isto não é responsabilidade da entidade, pois é um caso de
segurança pública e de quem organiza os eventos. Mas os principais responsáveis
por tirar o torcedor comum dos estádios são os próprios clubes. Financiam estas
gangues em troca de apoio político. Quando criança, me lembro da festa que era
quando ia com meu pai e amigos assistir a um clássico. E o território era demarcado
conforme as torcidas iam chegando. Havia até “apostas” sobre qual torcida iria
prevalecer naquele dia. Tudo isto sem ninguém matar o outro. Havia brigas sim,
muitas até, mas acabavam ficando nas “vias de fato”. O maior prejuízo, era um
olho roxo. Acabou o jogo, ônibus da CMTC até o Anhangabaú e volta pra casa. Fim
de papo.
Por estas, que acho
ridículo quando há clássico hoje e a torcida visitante fica apenas com dois mil
ingressos ou com apenas um “alqueire” de estádio, que acabam sempre destinado
para as organizadas. Estamos assinando nosso atestado de incompetência, por não
dar civilidade a um evento e com isto acabando com a democracia no futebol.
Outro fator que está minando o futebol e a paciência são estes campeonatos
inchados, terríveis, e intermináveis. Todos tem que participar, sim, mas desde
que tenham nível para tal. Caso contrário, nivelamos por baixo, e é o que
estamos fazendo. Aproveitando o jogo de ontem, quem é que merece assistir um
“Bahia de Feira de Santana” (com todo respeito que o clube merece pois sabemos
a dificuldade que possuem até em colocar um time em campo) x Corinthians, time
campeão mundial (não estou querendo puxar o saco, apenas usando um exemplo). A
Copa do Brasil é um torneio que perdeu a razão de ser, não leva mais os
representantes de cada estado, com seus campeões e vices; pois seu intuito
passou a ser basicamente o de levar a outra competição que está cada vez mais
horrorosa: a Copa Libertadores.
O auge do absurdo aconteceu no ano de 1979, com a “V Copa
Brasil” (sem o “do”), nome oficial do campeonato brasileiro da época. Governo
militar, tempos de ditadura e inúmeros apadrinhamentos. Muitos convidados para
a festa. O resultado foi uma competição com 96 clubes. Nem me perguntem como
conseguiram. Em 1980, diminuiram a quantidade e mudaram o nome e o formato: Passou a se chamar “Taça de
Ouro” com 40 clubes (o que já era muito) e para não tirar o doce da boca do
restante das agremiações, criaram uma segunda divisão camuflada, que se chamou
“Taça de Prata”, com 64 clubes. Explico: Segunda divisão camuflada porque os 4
melhores times da Taça de Prata, entravam na Taça de Ouro que era dividida em
quatro grupos. Sobrava um grupo pra cada. Portanto, se seu clube participou da
Taça de Prata, vai ter muita discussão se ele já jogou ou não uma “segunda
divisão” do nacional. Olha só a confusão. Obs: Este formato foi até 1983,
quando mudou tudo novamente.
Citei a fase áurea da quantidade de clubes do futebol
brasileiro para mostrar que estamos recorrendo no mesmo erro do passado.
Inchando campeonatos, estendendo o calendário, e bombardeando o espectador com
jogos ruins e apenas para encher linguiça e também a programação da TV,
utilizando o português bem claro. A diferença é que o futebol de hoje está bem pior
que naquela época. E mais triste como citei no início. A Taça Libertadores foi
vulgarizada, e está cada vez menos interessante. Clubes que pelo quesito técnico
e tradição, quiçá chegariam ou chegarão a uma final, quanto mais a um título
deste torneio.
Mais desgosto é quando vemos uma Champions League, só que
agora pelo efeito inverso. Times que tratam muito bem a bola, como Bayer,
Borussia, Barcelona, Real Madrid. Mas também não são muitos, estes poucos que
me vieram à cabeça. Mas já são suficientes para transformar a Champions numa
vitrine. Como deveria ser a nossa Libertadores.
Por estas e outras que “dentre as coisas menos importantes” como diz
Milton Neves, o futebol para mim está se tornado cada vez menos importante.
Acompanho e torço pelo meu clube do mesmo jeito como sempre fiz, mas tenho
procurado algo mais interessante pra fazer, principalmente nas noites de
quarta-feira e domingos.
2 comentários:
A sensação não é apenas a sua. Eu mesmo, que nunca fui ligado ao futebol internacional, estou eufórico com o clássico que vai rolar domingo. Barcelona e Real me chamando mais atenção que um Palmeiras e Santos. O que antes era inimaginável, hoje é a realidade.
Hum... o que será que o blogueiro tem feito, de tão interessante, nas noites de quarta-feira?
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