Nesse último domingo foi
celebrado o Dia Internacional da Mulher. Ao contrário do que muita gente pensa,
inclusive algumas moças que insistem em exigir presentes e agradinhos na data,
o dia 08 de março não é de comemoração, mas sim, de reflexão. Mulheres e homens
devem refletir sobre o papel que a mulher exerce na sociedade, no mercado de
trabalho, na família, na Igreja, etc. Lembrar das lutas, das conquistas e
compreender que há ainda um longo caminho a ser percorrido em busca da
igualdade de gêneros.
Como o nosso assunto aqui é
futebol, não posso deixar de expressar o
meu descontentamento com a situação das nossas moças futebolistas. Não sei
quanto ao leitor, mas, esse blogueiro já está de saco cheio do choro do dia
seguinte protagonizado pelas nossas atletas. Sempre o mesmo discurso da falta
de apoio, da falta de campeonatos, da estrutura precária de treinamentos. Chega!
Não que a lamúria seja injusta, afinal, eu imagino o quanto é difícil ser
atleta, mulher e futebolista, no Brasil. Mas, eu gostaria de ver um pouco mais
de atitude revolucionária de nossas moças.
Entendo que os rapazes optem por
não protestar. É coerente. Quem vive como se tivesse nascido em berço
esplêndido não tem motivos pra reclamar mesmo. Mas, as moças têm todos os
motivos do mundo pra botar o dedo na cara de cartola e exigir mudanças. Sonho
ouvir Marta, a nossa melhor jogadora, recusar a convocação pra Olimpíada enquanto a CBF não se dignar a criar um departamento de futebol feminino,
dirigido por mulheres e com poder de decisão. Enquanto não sequer entrevistarem
uma mulher para o cargo de técnico da Seleção.
Nada contra o técnico atual, o Vadão, mas,
também, nada a favor. Esse cargo deve ser exercido por uma mulher. E a experiência? – dirão os mais
afoitos. Ora, desconheço a experiência do Vadão com futebol feminino. Por que
não experimentar uma mulher no cargo? Alguém que conheça a realidade do futebol
feminino, seja respeitada pelas moças da seleção, entenda todas as dúvidas,
incertezas que passam pela cabeça das jogadoras nos momentos decisivos dos
jogos ou torneios. Acho que a experiência seria válida se alguém tentasse, se
alguém quisesse. Mas, ninguém quer, ninguém está interessado no futebol
feminino.
O dirigente quer apenas a foto ao
lado da Marta ou de qualquer outra grande jogadora. Ninguém quer bancar o
futebol feminino, brigar por ele. É mais fácil colocar o Vadão ou qualquer
outro técnico desempregado no cargo. Cadê os campeonatos?
Cadê os times? Da onde vai sair essa seleção? Ninguém sabe e a ninguém
interessa.
Esporte praticado por mulher só é
interessante pro clube, pra mídia, quando as gostosas estão em campo. “Sex
sells” – sim, o sexo vende. Daí o porquê é fácil achar jogo de vôlei feminino
na televisão e tão difícil achar um joguinho de basquete ou futebol feminino na
telinha. Reconheço, claro, que o vôlei feminino tem alcançado resultados
expressivos nos últimos anos, mas, sempre foi assim, meus caros. A mídia quer
cobrir esporte feminino apenas se tiver algumas meninas que se adéquam ao “padrão
global” de beleza. Dane-se o jogo, a gente quer ver um close de câmera na bunda
da levantadora.
E essa é uma guerra injusta, inglória e cruel
para as nossas futebolistas. Diferentemente das jogadoras de vôlei, as nossas
futebolistas têm origem humilde, iniciaram no esporte jogando na rua com outros
meninos, não tiveram acesso à melhor alimentação na infância, nem a clubes,
médicos, nutricionistas, dermatologistas e preparadores físicos. Elas têm, sim,
esse jeitinho de gabiru e algumas tem trejeitos um pouco mais masculinos. E
daí? A aparência física não impede que elas acertem passes, chutes ou dribles.
O padrão estético exigido pela Sra. Bola, nada tem a ver com cabelos sedosos,
pele bem tratada, nariz afilado, rosto proporcional. Quando a bola começa a rolar no gramado,
nada disso interessa.
Alguns otimistas acreditam que a
situação seria diferente caso elas tivessem ganho algum torneio importante. Eu
duvido. Acho que nada vai mudar enquanto homens e mulheres não mudarem a sua
forma de enxergar o esporte. Eu aposto que, mesmo agora, em 2015, muitos pais
tenham calafrios só de imaginar a sua filhinha jogando futebol. O estigma da
mulher atleta, masculinizada e lésbica ainda é forte na sociedade brasileira. E
não apenas isso, cabe às atletas e ex-atletas brasileiras, brigar de todas
formas, em todas as plataformas, para que esse estado de coisas mude, afinal, o que elas têm a perder? Enfim,
caros leitores, ainda temos um grande caminho a percorrer. O Dia Internacional
da Mulher já passou, mas, a luta de homens e mulheres pela igualdade deve
continuar.
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