terça-feira, 10 de março de 2015

Um desabafo sobre as nossas moças futebolistas

Nesse último domingo foi celebrado o Dia Internacional da Mulher. Ao contrário do que muita gente pensa, inclusive algumas moças que insistem em exigir presentes e agradinhos na data, o dia 08 de março não é de comemoração, mas sim, de reflexão. Mulheres e homens devem refletir sobre o papel que a mulher exerce na sociedade, no mercado de trabalho, na família, na Igreja, etc. Lembrar das lutas, das conquistas e compreender que há ainda um longo caminho a ser percorrido em busca da igualdade de gêneros.

Como o nosso assunto aqui é futebol,  não posso deixar de expressar o meu descontentamento com a situação das nossas moças futebolistas. Não sei quanto ao leitor, mas, esse blogueiro já está de saco cheio do choro do dia seguinte protagonizado pelas nossas atletas. Sempre o mesmo discurso da falta de apoio, da falta de campeonatos, da estrutura precária de treinamentos. Chega! Não que a lamúria seja injusta, afinal, eu imagino o quanto é difícil ser atleta, mulher e futebolista, no Brasil. Mas, eu gostaria de ver um pouco mais de atitude revolucionária de nossas moças.

Entendo que os rapazes optem por não protestar. É coerente. Quem vive como se tivesse nascido em berço esplêndido não tem motivos pra reclamar mesmo. Mas, as moças têm todos os motivos do mundo pra botar o dedo na cara de cartola e exigir mudanças. Sonho ouvir Marta, a nossa melhor jogadora, recusar a convocação pra Olimpíada enquanto a CBF não se dignar a criar um departamento de futebol feminino, dirigido por mulheres e com poder de decisão. Enquanto não sequer entrevistarem uma mulher para o cargo de técnico da Seleção. 

Nada contra o técnico atual, o Vadão, mas, também, nada a favor. Esse cargo deve ser exercido por uma mulher. E a experiência? – dirão os mais afoitos. Ora, desconheço a experiência do Vadão com futebol feminino. Por que não experimentar uma mulher no cargo? Alguém que conheça a realidade do futebol feminino, seja respeitada pelas moças da seleção, entenda todas as dúvidas, incertezas que passam pela cabeça das jogadoras nos momentos decisivos dos jogos ou torneios. Acho que a experiência seria válida se alguém tentasse, se alguém quisesse. Mas, ninguém quer, ninguém está interessado no futebol feminino.

O dirigente quer apenas a foto ao lado da Marta ou de qualquer outra grande jogadora. Ninguém quer bancar o futebol feminino, brigar por ele. É mais fácil colocar o Vadão ou qualquer outro técnico desempregado no cargo. Cadê os campeonatos? Cadê os times? Da onde vai sair essa seleção? Ninguém sabe e a ninguém interessa.

Esporte praticado por mulher só é interessante pro clube, pra mídia, quando as gostosas estão em campo. “Sex sells” – sim, o sexo vende. Daí o porquê é fácil achar jogo de vôlei feminino na televisão e tão difícil achar um joguinho de basquete ou futebol feminino na telinha. Reconheço, claro, que o vôlei feminino tem alcançado resultados expressivos nos últimos anos, mas, sempre foi assim, meus caros. A mídia quer cobrir esporte feminino apenas se tiver algumas meninas que se adéquam ao “padrão global” de beleza. Dane-se o jogo, a gente quer ver um close de câmera na bunda da levantadora.

E essa é uma guerra injusta, inglória e cruel para as nossas futebolistas. Diferentemente das jogadoras de vôlei, as nossas futebolistas têm origem humilde, iniciaram no esporte jogando na rua com outros meninos, não tiveram acesso à melhor alimentação na infância, nem a clubes, médicos, nutricionistas, dermatologistas e preparadores físicos. Elas têm, sim, esse jeitinho de gabiru e algumas tem trejeitos um pouco mais masculinos. E daí? A aparência física não impede que elas acertem passes, chutes ou dribles. O padrão estético exigido pela Sra. Bola, nada tem a ver com cabelos sedosos, pele bem tratada, nariz afilado, rosto proporcional. Quando a bola começa a rolar no gramado, nada disso interessa.

Alguns otimistas acreditam que a situação seria diferente caso elas tivessem ganho algum torneio importante. Eu duvido. Acho que nada vai mudar enquanto homens e mulheres não mudarem a sua forma de enxergar o esporte. Eu aposto que, mesmo agora, em 2015, muitos pais tenham calafrios só de imaginar a sua filhinha jogando futebol. O estigma da mulher atleta, masculinizada e lésbica ainda é forte na sociedade brasileira. E não apenas isso, cabe às atletas e ex-atletas brasileiras, brigar de todas formas, em todas as plataformas, para que esse estado de coisas mude, afinal, o que elas têm a perder? Enfim, caros leitores, ainda temos um grande caminho a percorrer. O Dia Internacional da Mulher já passou, mas, a luta de homens e mulheres pela igualdade deve continuar.


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