Não sei quanto aos leitores desse
espaço, mas, estou ansioso pela próxima manhã de segunda feira. Não, não estarei
de férias! Estou ansioso mesmo pelo fim da campanha eleitoral. Essa maldita que
não contribuiu em nada com ninguém e ainda semeia a discórdia e ceifa o bom
senso e o pouco de civilidade que ainda nos resta.
Desde o resultado do primeiro
turno, estamos vivendo um clima insuportável de semana de derby, semana de
clássico decisivo. Quem não acompanha futebol deve estar provando desse amargo
remédio que tomamos homeopaticamente desde o nosso primeiro grito de gol na
arquibancada do estádio ou em frente à televisão. Afinal, não basta comemorar o
gol, a felicidade suprema é ridicularizar, menosprezar e até mesmo ofender o
adversário. Esse sim, o verdadeiro orgasmo do torcedor.
Tem sido assim, também, nesse
interminável Fla-Flu eleitoral que virou a campanha presidencial. A divisão
entre vendidos x desinformados, ptralhas x coxinhhas e outros tantos adjetivos não é novidade pra
quem acompanha futebol. A luta de classes que foi transportada, de maneira
infantil e oportunista, para a campanha eleitoral sempre rendeu grandes rivalidades
no campo de futebol. O Comefogo (Comercial x Botafogo), em Ribeirão Preto, o
Grenal (Grêmio x Internacional), o Derby Campineiro (Guarani x Ponte Preta),
entre outras grandes rivalidades, são
exemplos disso e carregam na tinta das diferenças social, cultural e racial,
presentes na origem de seus clubes, para ofender ou ridicularizar o rival.
Não importa de que lado o leitor
está. Para os Geraldinos & Arquibaldos das eleições somente quem vota e
apóia as suas siglas é digno de compaixão. Os demais, ou são vendidos, ou
iludidos, ou ignorantes ou desinformados. Ou tudo junto. É a própria lógica do
torcedor de botequim. Temo que esse fervor futebolístico (eleitoral) acabe com
algumas amizades, tal é o nível das agressões que tenho ouvido e lido. Se o
futebol é o ópio do povo, a disputa eleitoral, pelo visto, é o seu cheirinho da
loló.
Mais uma vez, a exemplo do que
aconteceu no pós 7 a 1, estamos perdendo a oportunidade da discussão, do debate
de idéias. Após 12 anos de um mesmo regime político era o momento de pensar no
país que almejamos para o futuro próximo. Mas não. A agressão sufoca o
argumento. O dedo na cara silencia o debate de idéias. O xingamento pretende
desqualificar a idéia contrária. Vencer o jogo tornou-se a única opção. Pouco
importa se foi com gol impedido ou se o atacante anotou com a mão. CHUPA
COXINHA! CHUPA PTRALHA! É NÓIS!
É, meus amigos, o grito de “CHUPA”,
nesse ano, veio acompanhado de um botão de CONFIRMA. O problema é que, no futebol, a dor da derrota em um clássico dura somente
até o returno. Na política, as decisões, muitas vezes, causam benefícios ou
malefícios perenes. Não dá pra confundir as 02 coisas. A disputa política é
bacana e tal, mas, desacompanhada de um padrão de jogo, com discussão dos
problemas e indicação de soluções, vira Libertadores. Uma terra de ninguém,
onde todo mundo briga, ninguém joga e quase ninguém ganha. Esse não deve ser o
nosso jogo. Nação alguma ganha jogando somente no erro do adversário. Um pouco
de fair play não faz mal a ninguém.
No final das contas, independente
do número que for digitado lá na maquininha, segunda-feira de manhã
acordaremos, TODOS, brasileiros e cumpriremos com as nossas obrigações do dia.
Porque aqui, meus caros, em mais de quinhentos anos de bola rolando, a gente nunca
perdeu por W.O. ou por abandono.
Nenhum comentário:
Postar um comentário