A Copa
acabou e deixou aquele gostinho de dever cumprido. E, com o perdão
da expressão grosseira, realizamos uma Copa boa pra cacete. Apesar
da chateação da cartolagem internacional com o famigerado “Padrão
Fifa”, a verdade é que a Copa de 2014 foi uma Copa com cara de
Brasil. Lembro aqui de uma frase dita há alguns anos atrás pelo
ex-técnico argentino Cesar Luis Menotti, ao criticar a escolha da
África do Sul como sede da Copa anterior: "No mundo todo há
somente oito ou dez lugares sérios para um Mundial. O resto é
negócio.” O que o Menotti quis dizer é que a Copa é um
espetáculo de alto nível que precisa de um grande palco e de uma
platéia selecionada, que saiba apreciar a beleza do jogo de futebol
e não de pessoas que simplesmente pagam o preço do ingresso e
passam os noventa minutos de jogo somente esperando o gol.
Ainda que
dentro das arenas muita gente estivesse mais interessada em aparecer
na televisão ou registrar aquele selfie pra publicar na rede
social, a verdade é que nos quatro cantos do país a Copa pulsava em
nossas entranhas. A Copa foi vivida pelo brasileiro nos telões
espalhados nas ruas, no televisor portátil do vigia, na tela do
notebook, na conversa animada do café ou na mesa do bar. Vivemos o
evento de uma forma que nem acreditávamos ser possível,
principalmente após a onda de manifestações do ano passado. E nem
me venham com esse velho discurso do pão e circo ou aquele do
futebol como instrumento de alienação das massas, que são usados
indiscriminadamente pelas esquerdas e direitas desse país de acordo
com a conveniência. Como já diziam os Titãs, lá pelos anos 1980:
A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte.
Então, se o palco da Copa foi montado no nosso quintal, por que
ficar trancado em casa?
No que
diz respeito à estrutura do evento pouco posso dizer, afinal, não
assisti a nenhum jogo in loco. Mas, pelo que ouvi, se a
organização não foi excelente tudo funcionou direitinho,
principalmente se for levado em consideração o fato de que eram
doze cidades sede. Mas, do ponto de vista técnico, das quatro
linhas, a Copa do Brasil foi sensivelmente melhor que as três ou
quatro edições anteriores. Sem exageros. Mas, o acréscimo de
qualidade dessa edição não tem muito a ver com os ares que se
respira aqui nos trópicos, mas sim, com uma tendência do futebol
europeu atual de privilegiar a técnica, o controle de bola, o passe,
enfim, tentar imitar a experiência bem sucedida do Barcelona. E, na
minha opinião, qualquer tentativa de agregar técnica ao jogo de
futebol merece aplausos.
Por falar
em Europa, a grande decepção foi justamente a seleção da Espanha
que sucumbiu logo na primeira fase e jogou um futebol cansado, pouco
inspirado e com jogadores enfastiados com todos títulos que ganharam
nos últimos anos. No muro da vergonha da Copa vale incluir, ainda,
menções desonrosas às seleções da Italia, Portugal e Inglaterra
que foram uma completa perda de tempo. Deu pena de assistir às três
seleções em campo. Entre os que realmente jogaram bola gostei
demais da França, da Bélgica e, claro, da campeã Alemanha. E a
Holanda? Sinceramente, não gostei muito do time holandês. Talvez
seja resultado de uma fantasia que eu ainda tenho da seleção
holandesa campeã européia em 1988 que acredito tenha sido a última
grande seleção internacional que eu vi jogar. Não sei. Apesar da
presença de um Robben em boa forma, achei apenas bonitinha, mas,
ordinária.
Entre os sul americanos os grandes decepcionaram com
o mesmo futebol “pão dormido” dos últimos anos. Falta qualidade
técnica, falta dinâmica na movimentação de ataque e falta craque.
Tanto Brasil, como Uruguai e até mesmo a finalista Argentina
deixaram a desejar. Mostraram serem equipes de pouca qualidade
técnica e com estrutura de jogo extremamente conservadora. As três
equipes apostando no talento de Neymar, Suárez e Messi, sempre
jogando por uma bola. Gostei muito do vi do Chile, que se tivesse um
grande atacante poderia ter chegado longe na competição, e da
Colômbia que não decepcionou aqueles que gostam do futebol bem
jogado, exceção feita àquela batalha campal nas quartas de final
contra o Brasil.
E, por
falar em Brasil, sinto pena do torcedor de Copa que foi obrigado a
tomar de um veneno que nós, torcedores do futebol nosso de cada dia,
já conhecemos muito bem. O que aconteceu no jogo contra a Alemanha
era uma bola mais que cantada nos últimos anos. Aqui mesmo nesse
espaço cansamos de enfatizar a pobreza técnica e tática do nosso
futebol e ressaltar a qualidade da atual geração do futebol alemão.
A surpresa, na minha opinião, foi a fragilidade emocional do time
verde amarelo. Sinceramente, cansei desse popstar arrogante,
mimado, incompetente e chorão chamado jogador de futebol brasileiro.
Não sofri nem um pouco com a derrota vergonhosa. Na verdade, se
alguma lágrima escorreu dos meus olhos foi pela lembrança de caras
como Zico, Sócrates, Romário, Careca, Bebeto, Mauro Silva, Ronaldo,
Rivaldo, enfim, todos aqueles que ajudaram, num passado recente, a
construir essa marca tão rentável para os cartolas que é a nossa
seleção.
O futuro
do futebol brasileiro, meus caros, é pra lá de incerto, mas, passa,
obviamente, por uma reformulação total nas categorias de base.
Precisamos de métodos diferentes de identificação do talento e
treinamento dos jovens jogadores, para quem sabe colher alguns frutos
no futuro. Esse seria o primeiro passo, bem como capacitar os
técnicos de futebol no país, principalmente aqueles que trabalham
com os jovens. Entretanto, numa estrutura dirigida por CBF,
federações estaduais e clubes, quem abraçará essas reformas? A
quem interessa? É mais fácil apostar na justificativa fantasiosa do
apagão, assim, ninguém precisa assumir responsabilidade alguma
pela decadência do futebol brasileiro. O Sobrenatural de Almeida
está sempre disposto a livrar a cara da incompetência. Por ora,
para nós, torcedores, o jeito é torcer para que brotem da terra
mais uns dois ou três Neymares no futebol brasileiro, porque um só
já não faz verão.
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