sexta-feira, 18 de julho de 2014

Um último suspiro sobre a Copa das Copas

A Copa acabou e deixou aquele gostinho de dever cumprido. E, com o perdão da expressão grosseira, realizamos uma Copa boa pra cacete. Apesar da chateação da cartolagem internacional com o famigerado “Padrão Fifa”, a verdade é que a Copa de 2014 foi uma Copa com cara de Brasil. Lembro aqui de uma frase dita há alguns anos atrás pelo ex-técnico argentino Cesar Luis Menotti, ao criticar a escolha da África do Sul como sede da Copa anterior: "No mundo todo há somente oito ou dez lugares sérios para um Mundial. O resto é negócio.” O que o Menotti quis dizer é que a Copa é um espetáculo de alto nível que precisa de um grande palco e de uma platéia selecionada, que saiba apreciar a beleza do jogo de futebol e não de pessoas que simplesmente pagam o preço do ingresso e passam os noventa minutos de jogo somente esperando o gol.

Ainda que dentro das arenas muita gente estivesse mais interessada em aparecer na televisão ou registrar aquele selfie pra publicar na rede social, a verdade é que nos quatro cantos do país a Copa pulsava em nossas entranhas. A Copa foi vivida pelo brasileiro nos telões espalhados nas ruas, no televisor portátil do vigia, na tela do notebook, na conversa animada do café ou na mesa do bar. Vivemos o evento de uma forma que nem acreditávamos ser possível, principalmente após a onda de manifestações do ano passado. E nem me venham com esse velho discurso do pão e circo ou aquele do futebol como instrumento de alienação das massas, que são usados indiscriminadamente pelas esquerdas e direitas desse país de acordo com a conveniência. Como já diziam os Titãs, lá pelos anos 1980: A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. Então, se o palco da Copa foi montado no nosso quintal, por que ficar trancado em casa?

No que diz respeito à estrutura do evento pouco posso dizer, afinal, não assisti a nenhum jogo in loco. Mas, pelo que ouvi, se a organização não foi excelente tudo funcionou direitinho, principalmente se for levado em consideração o fato de que eram doze cidades sede. Mas, do ponto de vista técnico, das quatro linhas, a Copa do Brasil foi sensivelmente melhor que as três ou quatro edições anteriores. Sem exageros. Mas, o acréscimo de qualidade dessa edição não tem muito a ver com os ares que se respira aqui nos trópicos, mas sim, com uma tendência do futebol europeu atual de privilegiar a técnica, o controle de bola, o passe, enfim, tentar imitar a experiência bem sucedida do Barcelona. E, na minha opinião, qualquer tentativa de agregar técnica ao jogo de futebol merece aplausos.

Por falar em Europa, a grande decepção foi justamente a seleção da Espanha que sucumbiu logo na primeira fase e jogou um futebol cansado, pouco inspirado e com jogadores enfastiados com todos títulos que ganharam nos últimos anos. No muro da vergonha da Copa vale incluir, ainda, menções desonrosas às seleções da Italia, Portugal e Inglaterra que foram uma completa perda de tempo. Deu pena de assistir às três seleções em campo. Entre os que realmente jogaram bola gostei demais da França, da Bélgica e, claro, da campeã Alemanha. E a Holanda? Sinceramente, não gostei muito do time holandês. Talvez seja resultado de uma fantasia que eu ainda tenho da seleção holandesa campeã européia em 1988 que acredito tenha sido a última grande seleção internacional que eu vi jogar. Não sei. Apesar da presença de um Robben em boa forma, achei apenas bonitinha, mas, ordinária.

Entre os sul americanos os grandes decepcionaram com o mesmo futebol “pão dormido” dos últimos anos. Falta qualidade técnica, falta dinâmica na movimentação de ataque e falta craque. Tanto Brasil, como Uruguai e até mesmo a finalista Argentina deixaram a desejar. Mostraram serem equipes de pouca qualidade técnica e com estrutura de jogo extremamente conservadora. As três equipes apostando no talento de Neymar, Suárez e Messi, sempre jogando por uma bola. Gostei muito do vi do Chile, que se tivesse um grande atacante poderia ter chegado longe na competição, e da Colômbia que não decepcionou aqueles que gostam do futebol bem jogado, exceção feita àquela batalha campal nas quartas de final contra o Brasil.

E, por falar em Brasil, sinto pena do torcedor de Copa que foi obrigado a tomar de um veneno que nós, torcedores do futebol nosso de cada dia, já conhecemos muito bem. O que aconteceu no jogo contra a Alemanha era uma bola mais que cantada nos últimos anos. Aqui mesmo nesse espaço cansamos de enfatizar a pobreza técnica e tática do nosso futebol e ressaltar a qualidade da atual geração do futebol alemão. A surpresa, na minha opinião, foi a fragilidade emocional do time verde amarelo. Sinceramente, cansei desse popstar arrogante, mimado, incompetente e chorão chamado jogador de futebol brasileiro. Não sofri nem um pouco com a derrota vergonhosa. Na verdade, se alguma lágrima escorreu dos meus olhos foi pela lembrança de caras como Zico, Sócrates, Romário, Careca, Bebeto, Mauro Silva, Ronaldo, Rivaldo, enfim, todos aqueles que ajudaram, num passado recente, a construir essa marca tão rentável para os cartolas que é a nossa seleção.

O futuro do futebol brasileiro, meus caros, é pra lá de incerto, mas, passa, obviamente, por uma reformulação total nas categorias de base. Precisamos de métodos diferentes de identificação do talento e treinamento dos jovens jogadores, para quem sabe colher alguns frutos no futuro. Esse seria o primeiro passo, bem como capacitar os técnicos de futebol no país, principalmente aqueles que trabalham com os jovens. Entretanto, numa estrutura dirigida por CBF, federações estaduais e clubes, quem abraçará essas reformas? A quem interessa? É mais fácil apostar na justificativa fantasiosa do apagão, assim, ninguém precisa assumir responsabilidade alguma pela decadência do futebol brasileiro. O Sobrenatural de Almeida está sempre disposto a livrar a cara da incompetência. Por ora, para nós, torcedores, o jeito é torcer para que brotem da terra mais uns dois ou três Neymares no futebol brasileiro, porque um só já não faz verão.

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