sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Ídolo gente, ídolo jogador

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Eis que um dos melhores goleiros do mundo resolveu descansar. Exagero e um pouco de ufanismo de torcedor? Pode ser. Mas convenhamos que o apelido de santo não é à-toa. Afinal de contas, sou do outro time: inimigo, arqui-rival e sofrido. Realmente é um exemplo, um marco e uma história. Quem ganhou? O Palmeiras. Mas os resultados da boa maneira, do ótimo goleiro e a humanidade do Marcos marcam toda história do futebol. Menos folclórico do que Garrincha; menos jogador do que Pelé: mas querido como pessoa e como jogador.

Dispenso o lado goleiro, afinal de contas, dentro das quatro linhas minhas lembranças são péssimas. Nem mesmos as gafes que ele cometia, como qualquer goleiro comete, me consolam no momento de relembrar uma das suas maiores defesas (a mais importante): O chute do Marcelinho. “Cornetando” aquele momento, eu sei que ele se adiantou; que foi irregular; mas tudo isso é papo passional, de torcedor; de quem baixou a cabeça e soltou um palavrão engasgado na garganta. A verdade é que tudo foi limpo, defendido e eternizado como um troféu para os palmeirenses.

Numa suposição apaixonante, Marcos não defende aquele pênalti. Que glória para o Corinthians, estaria numa final de Libertadores. Iria ganhar? Boas chances. Mas não aconteceu. Os deuses do futebol quiseram assim, e os homens praticaram. Marcos virou um pouco mais ídolo, eternizado e rememorado em todos os cantos alviverdes dos botecos, academias e escolas. Se ele não tivesse defendido, talvez continuasse sendo esse Marcos que todos conhecem, mas quem sabe hoje não o chamaríamos de santo.

Marcos não é só do Palmeiras. Daqui para frente, depois de dizer adeus ao futebol em campo, mude os trejeitos e as maneiras. Num posto administrativo qualquer do clube pode se perder no meio das lembranças da época em que era jogador. Mas a figura do Marcos, o humano; quase ninguém vai esquecer. Se estamos exagerando em dizer que ele foi o maior goleiro de todos os tempos, não podemos exagerar em dizer que ele; com seu jeito verdadeiro, de interior; de gente normal sem estrelismo, conseguiu a simpatia de muitos torcedores, inclusive dos adversários.

O goleiro do Palmeiras, que na seleção brasileira foi o melhor da Copa, (mas que por algum motivo político qualquer teve a escolha de um alemão), é esse Marcos que ficará eternamente na história. E mais lá na frente, a história que será contada aos netos e bisnetos não carregará essa divisão prática do futebol, entre alviverde, alvinegros e tricolores. Na história, mesmo que haja identificação com determinado clube, o jogador será de todos: assim como o Pelé, Zico, Ronaldo, Romário e tantos outros, que carregam no peito um escudo, mas no corpo todas as demais cores do futebol brasileiro.

Marcos é a história que queremos para o jogador de futebol e ídolo. Carrega determinadas características de uma nobreza, de uma dignidade profissional; e mais do que isso, o amor. Todas as declarações, comentários, críticas e afinidades que os torcedores carregam pelo goleiro, têm nas entrelinhas, uma dose de amor pela profissão, pelo clube e pela maneira de encarar o esporte.

Então, mais do que exemplo para os torcedores, hoje a despedida do Marcos carrega uma particularidade incomum no futebol, cheia de disputas de egos e discussões monetárias: Marcos tem exemplos que podem ser seguidos por aqueles que, além de fama, poder e dinheiro; procuram no futebol uma maneira de fazer a coisa certa, ser feliz e eternamente lembrado por todos aqueles que gostam de futebol.

Boa sorte ao aposentado Marcos em sua nova vida e da condição nada pejorativa de “chinelinho”. Do futebol, enfim, pode descansar em paz.
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