quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Alguma coisa está fora da ordem.

"O São Paulo oferece demais e cobra pouco. São coisas que ninguém oferece. E eles dão muito pouco ao São Paulo. Não dão o retorno necessário. A vitória é importante na formação".

A frase acima não foi dita por nenhum torcedor colérico, nem mesmo por esse colaborador do Patativa, tricolor até de olhos fechados. A frase foi dita pelo técnico do time são-paulino sub-alguma coisa que foi eliminado da Copa São Paulo de Futebol Júnior na última terça-feira. Ninguém mais ninguém menos que o próprio Zé Sérgio, um dos maiores ponta-esquerda do futebol mundial de todos os tempos (ou somente da época que existia ponta). O rebuliço foi geral nos sites, blogs e redes sociais. O que o Zé Sérgio quis dizer com isso? Óbvio que a interpretação é livre, mas, não pode ser simplória, rasteira. De fato, os resultados obtidos pelo pessoal de Cotia (como é popularmente chamado o Centro de Formação de Atletas Laudo Natel), não estão agradando ao torcedor. Dizem que o investimento é muito alto para o pequeno retorno técnico que proporciona para o time principal. É aquela velha encruzilhada capitalista do custo x benefício a serviço da bola.
O São Paulo, de fato, oferece uma grande estrutura para que seus jovens atletas possam desenvolver todo o seu potencial técnico, desde que tenham o dito cujo. Parece não ser o caso desse time que foi precocemente eliminado da Copinha. Alguns talentos individuais que pouco contribuem para o jogo coletivo. Sabem qual time lembrou? O time profissional do ano passado. Bingo! Salvo raríssimas exceções os clubes brasileiros colhem exatamente aquilo que têm plantado nos últimos anos. Abandonaram as categorias de base ao deixar que os seus departamentos amadores fossem tocados de acordo com os interesses e conveniências do empresário de futebol. Atualmente, um empresário dono do jogador tal manda mais no clube que o próprio presidente eleito. Aí não dá. Para não desagradar esse ou aquele empresário o clube aceita todo o pacote do capitalista da bola. Quer levar o Didi?, Então, tem que levar o Dedé, o Mussum e o Zacarias e botar pra jogar. O técnico da base, por sua vez, muitas vezes em início de carreira e sem moral para causar grande impacto, aceita as imposições. É óbvio que o clube tem ganhos financeiros com o processo. Desses moleques que fizeram o papelão na Copinha vários irão jogar em clubes brasileiros ou lá na periferia da Europa. O São Paulo lucrará com todos. Fica pra torcida o prejuízo maior, o vexame de, ano após ano, não ter um time que honre as tradições do futebol são paulino. Eu mesmo critiquei vários técnicos recentes que não promoviam os jogadores da base para o time profissional. Pois bem, errei feio! O problema é bem mais grave e exige uma reflexão ampla. Vejo os hermanos uruguaios bem a frente nesse particular!
Agora isso não quer dizer que o clube tenha de oferecer um campo esburacado e pão com banana para os garotos comerem. Não tem cabimento. Que conversinha burguesinha é essa? Quer dizer então que os garotos, atletas, não merecem um tratamento digno de uma instituição que todos os anos fatura milhões de reais? Ah, pára com isso! Nem venham com essa história de esvaziar a piscina, tirar internet dos meninos, instituir toque de recolher e outros hábitos da caserna. São jovens atletas e merecem um tratamento digno e, porque não, alguns mimos de vez em quando, sem exageros. O que os clubes precisam fazer, na verdade, é formar o homem. Oferecer um ambiente sadio para moradia, alimentação adequada, saúde e, principalmente, educação, cultura e auxílio psicossocial. A disciplina é importante, claro, afinal esse é um esporte coletivo e sem noções básicas de disciplina, organização e preparação não tem jogo. O clube não pode tratar o jovem apenas como boi de engorda a espera da transação lucrativa e depois cobrar comprometimento com a instituição.
O assunto, meus caros, é palpitante, já foi tratado nesse espaço e merece outras discussões e comentários. Não sou o dono da verdade e já mudei de opinião inúmeras vezes sobre o tema. Acredito que um maior entendimento da Caixa de Pandora que é o trabalho de base feito pelos clubes permitirá entender um pouco da mediocridade reinante nos gramados atualmente.

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