quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Bar Concentração - O último que fecha.

A história é antiga. Em algum momento na história da humanidade o técnico de futebol achou que seria uma boa idéia trancafiar um monte de boleiros dentro de algum lugar bucólico, antes dos jogos. Vale hotel-fazenda, sítio, casa de campo, qualquer lugar distante da civilização. É a chamada concentração. Pesadelo dos jogadores de futebol.

A idéia nem é manter o camarada concentrado no jogo de futebol em si. Longe disso. O objetivo é tirar o boleiro das casas noturnas, dos bares, dos churrascos intermináveis, das casas de tolerância, das Marias-Chuteiras. O jogador de futebol, com dinheiro no bolso e a cabeça vazia, é um convite à tragédia. Pelo menos é assim que pensam os técnicos de futebol dos quatro cantos do mundo. É inevitável.

Quanto mais rígida é a concentração maior a tentação do boleiro na já famosa “escapadinha”. Dá-lhe pulação de muro. Algumas escapadelas viraram célebres. O Garrincha era campeão na arte da fuga. Tanto é verdade que conseguiu, em plena Copa do Mundo da Suécia arrumar até um filho com uma beldade local. Na Copa do Chile, casado, mas, amancebado com a cantora Elza Soares a historia foi um pouco diferente. A Matriz ficou no Brasil, mas, a Filial foi fazer companhia pro craque naquele gélido inverno chileno. Levantamos o caneco.

O Romário alterou a ordem das coisas ao trazer a balada para dentro dos muros da concentração. Ficou famosa a sua escapadinha na Copa de 1994, sem sequer atravessar o portão. Trouxe a Maria Chuteira oficial para dentro da caserna. Levantamos a taça de novo, graças à vista grossa da comissão técnica.

Na Copa de 1986 uma escapadinha acabou mal. O lateral Leandro e o ponta Renato Gaúcho saíram da concentração, lá na Toca da Raposa, direto pro brega mais próximo, pra aliviar as tensões do estafante período de treinamentos. O negócio custou o corte do atacante gaúcho e o Leandro foi na rabeira. Alguns chegaram até a insinuar alguma relação homossexual entre os boleiros, mas, quem já deu as suas esticadas boêmias sabe que a parceiragem deve sobreviver ao corte do professor e ao pau de macarrão da patroa. Enfim, perdemos o nosso lateral-direito, o nosso ponta e também o caneco.

Outra escapadinha que virou clássica aconteceu numa pré-temporada do Corinthians. O próprio presidente do clube, acompanhado do gerente do futebol e de mais meia dúzia de boleiros resolveram dar aquela esticada numa famosa boate no interior paulista. Tudo certo, legítimo e abençoado pelo próprio presidente da instituição. Só esqueceram de convidar o técnico de futebol, que tinha marcado um treino inconveniente logo pela manhã. Dizem que o professor ficou uma arara. Só não deu confusão maior porque o homem que assina o contracheque também estava no rebolado. A boleirada saiu bem dessa vez.

Parece que mais uma vez o duelo boleiro versus concentração fará mais uma vítima no Flamengo, clube apreciado pela ala mais boêmia dos futebolistas brasileiros. Mais um craque tentando burlar o regulamento do quartel, um professor irritado exigindo providências e uma presidenta tentando colocar panos quentes no rebuliço. Uma coisa parece certa; se o técnico entrar na sala de reuniões batendo na mesa, do tipo “ou ele ou eu”, possivelmente, será mandado para o departamento pessoal.

Um comentário:

Mario disse...

Pra dizer a verdade, o Gaúcho já não joga bola há um bom tempo. Seu último brilho foi naquele jogo na Vila, dos 5x4 e o gol que Neymar atravessou o Angelim. Mas Ronaldinho vende muitas camisas para o Flamengo, aumenta a bilheteria, e é útil para o time, mesmo com atuações medianas, pois não existem mais meias. Talvez seja bom o Luxemburgo dar um "migué", e deixar pra desabafar depois em alguma mesa redonda televisiva. Ou caso contrário, passar no RH como você mesmo disse.