quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

E São Marcos se foi...

E São Marcos se foi.
Anunciou aquilo que muitos esperavam, derrotado pelo seu maior adversário: seu próprio corpo. As dores não permitiam mais que ele exercesse a arte para a qual ele parece ter nascido: defender bolas que vão em direção ao gol. A lista de contusões dele parece com a de um skatista, corredor de motocross, alpinista... tantas e tantas contusões um dia cobrariam seu preço. E cobraram.
São Marcos surgiu na esteira de uma sequência de goleiros titulares onde os pontos mais baixos foram o esforçado Martorelli e o igualmente esforçado (mas azarado) Sérgio. Antes dele a torcida reverenciou Zetti (que depois faria grande sucesso no São Paulo) e Veloso. Esse último, da mesma maneira que foi alçado à titularidade da posição por uma fratura sofrida por Zetti, foi substituído por Marcos quando também se fraturou. Nunca mais voltaria a ser titular pelo Palmeiras, pois Marcos fechou o gol com tal maestria que só deixaria de ser titular quando estava entregue ao departamento médico ou servindo à Seleção Brasileira. Sob as asas de Marcos surgiram o ótimo Diego Cavallieri e agora o promissor Deola. Cumpre agora a Deola e seu reserva Bruno manterem a tradição do Palmeiras criar bons goleiros.
Marcos foi um atleta diferenciado não só por aquilo que fez debaixo das traves, mas também pelo seu comportamento avesso à autopropaganda, tão corriqueira nos dias de hoje. Em tempos onde o atleta tem relações públicas próprio e troca de clube como se troca de cuecas, Marcos se manteve o atleta de comportamento simples do começo de carreira, não dava declarações apenas para aparecer de "bonzão" do pedaço e se manteve fiel ao time que o revelou mesmo quando o time caiu para a Segunda Divisão, desperdiçando a oportunidade de jogar no forte futebol inglês.
Esse tipo de atleta não existe mais. Provavelmente seu último expoente em atividade é outro goleiro objeto de culto pela torcida, Rogério Ceni, que possui o diferencial das cobranças de bola parada mas foi menos espetacular que Marcos debaixo das traves quando ambos estavam em seu auge.
Ele não foi unanimidade, nem entre os palmeirenses. Conheço alguns (poucos) torcedores que achavam o Sérgio melhor... questão de gosto, creio eu, mas definitivamente foi um dos poucos jogadores que transpuseram a barreira do clube em termos de admiração. Causou-me espanto o número de corinthianos, santistas e sãopaulinos que publicaram mensagens nas redes sociais falando da grandeza de São Marcos do Palestra Itália.
Marcos continuará no clube, em algum cargo administrativo ou - quem sabe - ajudando no treinamento de goleiros, ou até mesmo fazendo algum trabalho com a categoria de base (essa hipótese nem eu acredito, mas a esperança do Palmeiras dar alguma atenção para a base é a última que morre). E tenho certeza que, cada vez que encontrar algum torcedor pelas dependências do clube, será reverenciado como se ainda estivesse em atividade.

Alexandre Bianchini

2 comentários:

Cesar Augusto disse...

Muito bom. Só um palmeirense poderia mandar um texto desse. Falta um jogo de despedida, com direito a um intervalo para um cafezinho.

Mario disse...

Onde estão os visionários de plantão que dizem que para se ter sucesso, precisa ir jogar da Europa???