quarta-feira, 17 de julho de 2019

Governança Esportiva: A elitização das conquistas


Acabo de ver uma reportagem sobre a saúde financeira dos clubes brasileiros. Palmeiras e Flamengo aparecem no topo da lista, respectivamente. Parte desse processo segue a ideia de uma boa gestão administrativa e de financiamentos. Tem um lado positivo desse estudo que é mostrar o quanto a profissionalização do futebol pode gerar riqueza, grandes times e consequentemente conquistas. Do lado negativo, essa puxada para o topo dos dois cubes trará uma elitização da festa, restando aos dois clubes as maiores e melhores conquistas.

É fato que o futebol não é matemática, mas também é fato que as melhores peças se movem melhor no tabuleiro. As chances de uma onipresença nacional dos dois clubes jogará para o limpo a ideia de que o Brasileirão começa com cinco ou seis potenciais candidatos ao título.

A pesquisa mostra uma situação preocupante, mas não tão desastrosa de Corinthians e São Paulo. O primeiro, nas últimas décadas, não desapontou na questão dos títulos, mas não podemos deixar de lembrar que tal feito deve-se muito mais a competência do gerenciamento do esporte, considerando treinadores e afins, que propriamente uma ótima questão financeira.

O resultado da pesquisa não mostra efetivamente o risco do negócio e, apesar de se mostrarem rentáveis, o quão são sólidos. O futebol no mundo é um grande negócio, no Brasil ele é mal trabalhado, pela incompetência dos seus dirigentes, em muitos casos, e pela dependência de uma fonte de renda que não exige uma contrapartida, ou seja, a televisão paga e com isso prende o devedor. No caso do Palmeiras, essa amarra foi colocada à prova, visto a dura negociação do clube com a Globo.

Se o futebol continuar desse modo, a gestão de Palmeiras e Flamengo trará para o centro da discussão a divisão entre Barcelona e Real Madrid, como na Espanha; restando aos outros candidatos atrapalharem menos ou mais a competição, cabendo aos clássicos regionais uma disputa isolada, dando a única chance do time de menor investimento caçoar do adversário.

Palmeiras e Flamengo estão trazendo um novo futebol para o país, resta saber se para os outros clubes será o fim ou o começo de uma Nova Era.

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sexta-feira, 21 de junho de 2019

A rede social do Boteco

Faço minha corrida matinal. Todos os dias, com frio ou com chuva. Não é bem uma corrida, é uma caminhada daquelas de soar a camisa e tirar o peso morto do excesso da janta. Nos nos excedemos em quase tudo, mas não percebemos. Então, como estamos no inverno eu resolvi sair de casa um pouco mais tarde, já era quase onze da manhã. Passo na frente da padaria e algum movimento. No bar do Seu Geraldo eu vejo duas pessoas. Um bar aberto aquela hora não era nada de se espantar. Seu Geraldo sai correndo de dentro do bar e vai até a porta do estabelecimento, ele grita meu nome bem alto:

"Preciso que você dê um recado ao seu irmão!.
"Faz tempo que eu não vejo meus irmãos"
"Se você encontrar o Miguel, não deixe de dar um recado à ele. Diga que o negócio aqui está feio e que eu estou precisando de dinheiro".
"Só que está precisando de dinheiro? É esse o recado?"
"Isso mesmo, ele vai entender".

Eu me despeço e pronto para continuar minha rotina, ele novamente puxa assunto. Eu tenho muito respeito pelo Seu Geraldo, por isso não queria sair assim, sem dar muita atenção. Lembro de quando era pequeno e ia comer ovo colorido naquele bar. Antigamente bar era coisa de família, onde os velhos aposentados e os jovens desiludidos se encontravam para falar de futebol. Hoje não se fala mais sobre futebol, se fala sobre a vida dos jogadores. Você viu aquele carro de fulano? Viu a esposa de sicrano? Viu a mansão de beltrano? Seu Geraldo me segura pelo braço, amigavelmente.

"Vai ver o jogo hoje?"
"Não ligo mais para futebol. Assisto quando não tenho nada para fazer, mesmo assim, quase sempre eu durmo no meio da partida".
"Não é possível você dormir no meio de uma partida".
"Ando muito cansado, Seu Geraldo".
"Venha hoje aqui, vamos queimar uma carne".
"Pode ser".
"Andrade que vai bancar, ele trouxe oito quilos de carne. Tem frango, tem linguiça e tem um pedaço de picanha. Picanha ele disse que é para o final".
"Obrigado pelo convite".
"A bebida é por sua conta".

Pronto para continuar minha caminhada, ele continua o assunto do futebol, não deixando de lembrar que eu tenho um compromisso com ele, o de dar o recado para meu irmão:

"Da última vez tinha umas quarenta pessoas aqui. Seu irmão saiu meio tonto, vai ver que e por isso que ele esqueceu de acertar a cerveja e as caipirinhas".
"Eu darei o recado",
"Hoje é o Brasil, por isso do churrasco".
"Entendo"
"Você gosta do trabalho do Tite? Dizem que ele é retranqueiro. Eu não sei, acho que ele faz um bom trabalho. Olha só o que ele tem na mão, rapaz!"
"Os tempos são outros".
"Contra a Venezuela foi horrível, mas não faltou vontade".
"Vi um pedaço do jogo. Perderam muitos gols, né"
"Se fosse o Romário"
"Os tempos são outros".
"E esse lance com o Neymar? Puta que o pariu, como o cara se envolve com uma mulher assim?"

Eu estava com meu treino atrasado e entrar num assunto que eu não tenho a menor condição de opinar só seria mais constrangedor.

"Ele faz falta, não faz?"
"Não tenho opinião. Ele não fez muito pela seleção até agora".
"Não? Como, não?"

A pior sensação de acordar tarde é saber que o bar estará aberto?

"Não tem ninguém melhor que ele no mundo. Veja só o Messi, o quê ele fez?"
"O senhor razão".
"Vai ver hoje, vai ser um jogo difícil, não tenho menor dúvida que se Neymar estivesse em campo iríamos golear. Tínhamos goleado também a Venezuela".
"Bom, vou andando..."
"Não esquece o seu irmão"
"Lembrarei do recado".
"E venha hoje.. vai ser bom você falar com seus amigos... desde as eleições você anda sumido".
"Virei".

Nunca se sabe se conversar muito sem dizer nada é o mal da humanidade, mas tenho certeza que passar na porta do bar logo pela manhã é uma das coisas mais inúteis que podemos fazer.






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segunda-feira, 13 de maio de 2019

Pé no Fundo na Espanha


Olá leitores!


Neste final de semana em que as grandes homenageadas foram as mães houve muita ação no campo do esporte a motor, e com certeza muitas se orgulharam do trabalho feito pelos seus filhos… exceto, claro, as mães da cúpula da Scuderia Ferrari, cujos filhos mais uma vez enfiaram os pés pelas mãos.

Mais uma dobradinha da Mercedes, dessa vez com Lewis Hamilton à frente de Valtteri Bottas, indicando que existe grande possibilidade da temporada 2019 ser uma quase reprise de 1988, onde a McLaren só não ganhou todas as provas do campeonato por conta da soberba. Descontando a largada, Lewis e Valtteri não foram incomodados. Nem há muito o que comentar, foram soberbos. O domínio foi tão grande que a corrida foi a mais tediosa dos últimos tempos, tanto que na segunda metade da prova estavam reprisando a largada...

Em 3º chegou Max Verstappen, mais uma vez arrancando ótimo desempenho da sua Red Bull Honda, motor ao qual não falta mais velocidade em reta e digo sem pudor que atualmente o segundo melhor carro do grid é a Red Bull. Comprovando a boa fase da equipe, seu companheiro Pierre Gasly chegou em 6º lugar, conquistando importantes pontos para a equipe no Mundial de Construtores.

Em 4º e 5 º lugares chegou a dupla da Ilha de Lost, digo, Ferrari… Sebastian Vettel e Charles Leclerc fizeram o possível com a mais desordenada equipe Ferrari desde as temporadas de 1992 e 1993. A equipe está uma caricatura do que foi há 2 anos atrás.

Em 7º terminou Kevin Magnussen, com o seu Haas Ferrari bem acertado para a pista e obtendo o melhor resultado entre as equipes do segundo pelotão. Seu companheiro Romain Grosjean também pontuou, terminando a corrida em 10º lugar. Grande resultado para a equipe estadunidense.

Em 8º chegou o herói local, Carlos Sainz Jr., com seu McLaren apresentando nítida evolução no desempenho em relação às últimas temporadas. Quem sabe em 2020 possam voltar a brigar por pódio… seu companheiro Lando Norris (19º) abandonou a corrida após superestimar a capacidade de Lance Stroll e tentar fazer o Esse lado a lado com o canadense. Deu certo na primeira perna, claro que não deu certo na segunda… faz parte do aprendizado.

Em 9º lugar mais um carro com motor Honda, a Toro Rosso de Daniil Kvyat, que foi prejudicado na entrada do safety-car provocada por Norris e Stroll por conta da equipe não ter os pneus prontos para troca quando chegou… era para ter terminado em 7º, logo atrás de Gasly. Seu companheiro, Alex Albon, foi 11º colocado após uma corrida bem interessante e sem erros da parte dele (sim, também foi prejudicado no pit lane…).

Próxima corrida será em Mônaco, e vamos esperar para ver como a Ferrari vai atrapalhar a vida do monegasco Leclerc… esse ano temos 2 grandes certezas: a que ao final da vida morreremos e que a Ferrari vai enfiar os pés pelas mãos em algum momento.

Nem só de Fórmula 1 vive o ser humano… ou o Principado de Mônaco, cujas ruas receberam (em traçado mais curto, utilizando apenas a “parte baixa” do traçado da F-1) a Fórmula E para aquela que talvez tenha sido a corrida mais interessante da temporada. Antes de mais nada, gostaria de mencionar o “pé frio” da emissora que transmite a categoria no Brasil: calhou deste sábado ser dia decisivo no Campeonato Alemão, e os dois canais da emissora se voltaram ao futebol… até devido ao fato que (fora a vitória do di Grassi no México) os brasileiros não vinham fazendo uma grande temporada na categoria e as provas com o carro de 2ª geração não estarem muito interessantes, e o resultado foi que a corrida foi transmitida via aplicativo. Pois bem, na segunda pista mais larga do campeonato a corrida foi muito interessante e o Felipe Massa conquistou seu primeiro pódio na categoria. Murphy jamais se engana… a propósito, a pista de Mônaco ser a segunda mais larga mostra o quâo perdidos estão os gestores da categoria no quesito “escolha de traçado de pista urbana”. Nada, rigorosamente nada, contra pista de rua, desde que sejam pistas DE RUA. Algumas pistas onde a categoria vai correr são estreitas o suficiente para serem consideradas pistas de viela, de travessa, de alameda… de nada adianta levar o espetáculo para perto do público se a pista não tem largura para os pilotos efetuarem ultrapassagens. Quem levou a melhor foi Jean-Éric Vergne, que aproveitou de forma magistral o fato de largar na pole position para ser o primeiro piloto na temporada 2018/2019 a vencer 2 vezes. Foi seguido pelo competente Oliver Rowland, que perdeu a pole por conta daquelas punições randômicas da categoria, e o pódio ficou completo com o já mencionado Felipe Massa, que fez boa classificação e boa corrida em uma pista que ao menos 2/3 ele já conhecia. Lucas di Grassi, que estava no meio do “pelotão do tiroteio”, levou a pior em uma dividida de posição com Alexander Sims e abandonou a prova.

Também tivemos Brasil no pódio na categoria preliminar da F-E, e em dose dupla: não apenas Cacá Bueno venceu a prova do Jaguar i-Pace eTrophy como seu companheiro de equipe Sérgio Jimenez chegou em 2º lugar, seguidos do (por enquanto…) líder do campeonato Bryan Sellers, que está apenas 1 ponto à frente de Jimenez na classificação geral. Parabéns a Cacá e Sérgio!!!

E após a etapa da Argentina o WRC foi para outro país latino, aproveitando o deslocamento para a América do Sul: o primeiro Rali do Chile (sim, poderia ser no Brasil, mas… vocês sabem tão bem quanto eu que automobilismo deve ser a última prioridade esportiva em terras tabajaras). Em uma etapa “virgem”, já que ninguém tinha anotações prévias de nenhuma especial, o talento de Sébastien Loeb (Hyundai) voltou a aparecer, e ele andou o tempo todo entre os ponteiros. O campeonato trocou de liderança graças à vitória de Ott Tänak (Toyota) conquistada com uma pilotagem “faca nos dentes” e ao espetacular acidente de Thierry Neuville (Hyundai) no sábado, onde piloto e navegador sofreram apenas hematomas mas o carro deu perda total… podem continuar a temporada com outro chassi, esse não vai conseguir outro destino que não o ferro velho. Ao menos tivemos a certeza da segurança e da ótima qualidade de construção da gaiola de proteção do carro. As imagens foram assustadoras. Em 2º lugar chegou Sébastien Ogier (Citroën), que é o novo líder da pontuação e em 3º terminou a lenda Sébastien Loeb, em seu primeiro pódio após o retorno à categoria para fazer algumas provas.

Também tivemos WTCR, no travado porém interessante Slovakia Ring (confesso que o traçado me lembra uma mistura de Pocono com Brasília, se fosse possível misturar os dois) para mais 3 corridas cheias de emoção. A primeira prova (aquela realizada no sábado) teve a vitória do Frédéric Vervisch (Audi) após largar em 9º lugar, com o lindo Alfa Romeo de Ma Qinghua (espero que a grafia seja essa mesma…) em 2º e Norbert Michelisz (Hyundai) em 3º lugar. Augusto Farfus (Hyundai) saiu de 19º para um bom 8º lugar na corrida. Na primeira corrida do domingo o domínio foi argentino: vitória de Nestor Girolami (Honda) seguido de Esteban Guerrieri (Honda) em 2º lugar, acompanhados de Kevin Ceccon (Alfa Romeo) em 3º lugar. Augusto Farfus não pontuou. A última prova do final de semana foi um retorno às boas lembranças do passado, com 2 carros da Alfa Romeo no pódio: vitória de Ma Qinghua e 3º lugar para Kevin Ceccon, com o Hyundai de Michelisz em 2º lugar. Nesta prova Farfus terminou em 7º lugar, após batalhar na escalada de posições novamente.

No sábado os norte americanos foram brindados com algo pouco usual para eles: uma corrida de Indy em Indianapolis… que não parou por causa da chuva. OK, foi no traçado misto usado para MotoGP e F-1 no passado, mas ainda assim deve ter dado nó na cabeça de alguns fãs mais antigos da categoria. Prova interessante, começando no seco e com a chuva chegando após poucas voltas da largada, e prosseguindo com diferentes intensidades até a bandeirada final. Quem se deu bem nessas condições climáticas foi Simon Pagenaud (Penske), que aproveitou sua habilidade no molhado para deixar Scott Dixon (Ganassi) para trás já no final da corrida, com o garoto Jack Harvey conquistando seu primeiro pódio e também o primeiro pódio da equipe Meyer Shank na Indy (os caras são bons no IMSA, mas ainda não tinham conseguido bom desempenho nos monopostos) com um ótimo 3º lugar. E não ficou aí: em 4º lugar, sem melhor resultado até agora, chegou o brasileiro Matheus Leist, com o fraco carro da Foyt. Ainda bem que ele salvou as honras do Brasil, pois os experientes Tony Kanaan e Hélio Castroneves (em seu retorno especial pra categoria para as 2 corridas de Indianapolis) tiveram que se contentar com o 20º e o 21º lugares, respectivamente, 2 voltas atrás dos líderes. Hélio conseguiu a proeza de rodar no piso molhado… após colocar pneus de chuva. No comments…

A NASCAR foi até Kansas City para mais uma corrida em oval de 1,5 milha, e foi a vez de Brad Keselowski mostrar que nesse tipo de pista ele é dos melhores que existe, conquistando a vitória já na prorrogação do final da prova. Em que pese Kevin Harvick ter vencido o 1º segmento e Chase Elliott o 2º, ao final a estrela do piloto da Penske brilhou mais forte. Foi seguido por Alex Bowman em 2º lugar, que conseguiu talvez o melhor resultado da Chevrolet na temporada, por Erik Jones – que dessa vez foi bem melhor que seus experientes companheiros de Joe Gibbs Racing – em 3º lugar, por Chase Elliott em 4º lugar e fechando o Top-5 chegou Clint Bowyer, que já na prorrogação ultrapassou Jimmie Johnson, que terminou em 6º.

Até a próxima!


Alexandre Bianchini

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Pé no Fundo no Azerbaijão


Olá leitores!


Não deu pra reclamar de monotonia nesse final de semana, tivemos muita atividade nas pistas seja no asfalto, seja na terra. E quero começar ressaltando mais uma vez a incapacidade da Ferrari em modificar sua estratégia no meio da corrida. Pelo jeito, estavam contando com um safety-car… e como o safety-car não apareceu, se perderam mais do que cegos em tiroteio. Se a Scuderia Ferrari precisar, por favor, podem me chamar. Pela metade do salário do Iñaki Rueda eu faço coisa muito melhor do que ele, vocês não se arrependerão. Até consigo me comunicar com os mecânicos em italiano, não tem problema. Pior que o Rueda só a decisão da RGT em não mostrar o pódio da corrida ao final… afinal, tinha que mostrar entrevista com jogador de futebol falando que ganhou a primeira bola aos 9 meses de idade… no more comments. O momento bizarro/surreal da corrida aconteceu na tentativa de ultrapassagem de Daniel Ricciardo sobre o Kvyat: Daniel perdeu o ponto de freada e passou reto na curva. Com o australiano errando a curva, Daniil teve que abrir a trajetória e não conseguiu fazer a curva. Enquanto o russo se preparava para engatar a marcha a ré e retornar à pista, o Ricciardo fez a mesma manobra mais rapidamente e… bateu no carro do russo. Confesso que não lembro de um acidente entre carros na F-1 causado por uma marcha a ré. Evidentemente a internet se encheu de memes do Ricciardo com uma câmera de ré no volante do carro… se eu não tivesse visto a imagem, dificilmente acreditaria.

Vitória merecida de Valtteri Bottas, que não só fez a pole como teve a competência de segurar a investida de seu companheiro de equipe Lewis Hamilton (2º lugar) logo após a largada, abrir vantagem quando foi necessário e resistir à pressão de Lewis no final da prova. Fez tudo certo, e foi agraciado com a posição de honra do pódio. Lewis fez o que pôde para superar Bottas, mas o finlandês estava em um dia iluminado e o pentacampeão teve de se contentar com o degrau intermediário do pódio.

Em 3º lugar, cerca de 10 segundos atrás de Hamilton, chegou Sebastian Vettel, que em nenhum momento ofereceu real oposição aos carros da Mercedes. Depois da prova alegou que não conseguiu esquentar devidamente os pneus macios e os danificou. Tá bom, farei de conta que acredito… seu companheiro Charles Leclerc (5º) largou com pneus médios ao contrário dos macios da maioria dos outros pilotos e andou muito bem enquanto os pneus duraram… aí o “brilhante” setor de estratégia da Ferrari entrou em ação e atrasou a troca dos pneus o quanto foi possível, fazendo ele perder MUITO tempo na pista. Tá certo que pra quem largou em 9º o resultado está no lucro, mas…

Em 4º terminou Max Verstappen, que fez uma corrida bem decente até o safety-car virtual por conta do abandono do seu companheiro Gasly (absolutamente desnecessário, afinal ele parou em uma área de escape fora da pista, uma bandeira amarela no local seria suficiente, mas…), onde perdeu a temperatura ideal de funcionamento dos pneus e não mais a recuperou, prejudicando sensivelmente seu desempenho. Gasly (17º) foi vítima de falha no câmbio e teve de abandonar após uma corrida decente em comparação às anteriores.

6º colocado foi Sérgio Perez, que fez mais um de seus “milagres” e levou o carro da Racing Daddy, digo, Racing Point, até o melhor resultado esse ano, com uma pilotagem muito segura. Quando ele está “inspirado” é um grande piloto… seu companheiro Lance Stroll (9º) também fez uma apresentação acima da sua média, pelo que a equipe tem todos os motivos para comemorar o final de semana.

Em 7º e 8º chegaram os dois carros da McLaren, em nítida melhora após a saída de Fernando “o desagregador” Alonso, onde os pilotos Carlos Sainz Jr. e Lando Norris (nessa ordem) pilotaram de maneira segura e sem erros, conquistando preciosos pontos pra equipe.

Fechando a zona de pontos chegou Kimi Räikkönen, mantendo a escrita de ser o único pontuador da Alfa Romeo. Para quem largou dos boxes, excelente resultado. Seu companheiro Antonio Giovinazzi acelerou muito mas não passou do 12º lugar… para quem reclamou o tempo todo do carro, não foi um mau resultado.

Próxima etapa deve ser mais sonolenta ainda, GP da Espanha, onde todas as equipes fazem os testes de pré temporada… podem prepara o café para assistir a corrida.

Mas o final de semana não teve só F-1. Aqui ao lado, na Argentina, tivemos mais uma etapa do WRC, onde Thierry Neuville contou com sua própria habilidade e com os azares de Ött Tänak para conquistar a vitória e se assegurar na ponta do campeonato. Foi acompanhado no pódio pelo seu companheiro de equipe Andreas Mikkelsen (2º), que conseguiu voltar aos pontos após uma sequência de azares, e por Sébastien Ogier em 3º após acelerar tudo que tinha direito nas especiais do domingo. O carro pode não ser mais o melhor da categoria, mas ele mostrou que os títulos não vieram de mão beijada… para os brasileiros a alegria ficou na categoria WRC2, onde Paulo “Palmeirinha” Nobre chegou em 3º na categoria e 13º na geral, deixando os diversos competidores “hermanos” para trás. Como o rali argentino é muito mais forte que o brasileiro, esse foi um feito e tanto.

O WTCR foi até o kartó… ops, autódromo de Hungaroring para mais uma rodada tripla, e lá não teve jeito: tivemos que aguentar a supremacia argentina, que teve 2 vitórias em 3 corridas no final de semana: Néstor Girolami (Honda) venceu a prova 1 (sábado), seguido pelo experiente Yvan Muller (Lynk&Co) em 2º e por outro argentino, Esteban Guerrieri (Honda), em 3º. A corrida 2 (já no domingo) também foi vencida por Girolami, dessa vez seguido por Jean-Karl Vernay (Audi) em 2º e pelo Daniel Häglof (Seat) em 3º. O destaque foi a pista escorregadia por conta de uma chuva intermitente que atrapalhou e muito a vida dos pilotos e deu muito trabalho para as equipes remendarem os carros para a 3ª corrida do final de semana, logo em seguida… essa corrida também teve a influência da pista escorregadia e foi vencida pelo interminável Gabrielle Tarquini (Hyundai), 57 anos mas vontade e determinação de um garoto de 17 anos, seguido pelo herói local Norbert Michelisz (Hyundai) em 2º lugar e pelo sobrinho do Loeb, Yann Ehrlacher (Lynk&Co), em 3º. O brasileiro Augusto Farfus Jr., se readaptando aos tração dianteira, pontuou nas 3 corridas, fazendo 9º nas duas primeiras provas e 8º na última.

No sábado a Fórmula E foi para as ruas de Paris, onde fizeram a primeira corrida da categoria com chuva, e a escrita da temporada se manteve: mais uma vez a corrida teve um vencedor inédito, dessa vez foi o holandês Robert Frijns, seguido por 2 alemães, Andre Lotterer em 2º e Daniel Abt em 3º. Lucas di Grassi teve de se contentar com o 4º lugar, ao passo que Felipe Massa terminou em 9º.

E a NASCAR foi fazer sua 100ª corrida na pista de Talladega, onde pela primeira vez desde a década de 80 correram sem a placa restritora nos carros, fruto do novo regulamento que limita a potência no sistema de injeção em 550 cv… e a corrida foi muito interessante. Apenas em alguns momentos se fez a “minhoca”, aquela fila única absolutamente tediosa. No geral os carros andaram bem embolados na pista, propiciando um espetáculo à altura daquilo que o público da categoria gosta. O interessante foi que não apenas os pilotos das equipes se ajudaram durante a prova, mas também entre equipes rivais que correm para a mesma marca fizeram “jogo de equipe”, com trocas de vácuo entre os carros. O primeiro segmento ficou nas mãos de Ty Dillon, e o segundo com Chase Elliott. No segmento final tivemos um bocado de novidades no pelotão da frente. Começando pelo vencedor, Chase Elliott, que conquistou a primeira vitória para a Chevrolet esse ano, fábrica que por sinal dominou o Top-10: 6 carros em 10 foi um resultado a ser comemorado em um ano de domínio Toyota e Ford. Em 2º lugar chegou o Chevrolet de Alex Bowman, seguido por outro Chevy, dessa vez de Ryan Preece. Primeiro Ford chegou em 4º (Joey Logano), seguido por outro Chevy para encerrar o Top-5, o de Daniel Hemric. Primeiro Toyota apareceu em 10º lugar, com Kyle Busch.

Até a próxima!


Alexandre Bianchini

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Pé no Fundo na China


Olá leitores!


Eis que a Fórmula 1 chegou à sua corrida número 1000. Uma corrida que teria tudo para ser festiva acabou se mostrando um anticlímax. Primeiro que, devido à distância entre o Ocidente e a China, as festividades pré corrida para comemorar a milésima corrida chamaram mais atenção pelos grandes pilotos que não compareceram do que pelos que compareceram, e a corrida em si foi… meia boca. Também ficou mais marcada pelos monstruosos erros de estratégia da Ferrari que pelas boas atuações na pista.

Dobradinha da Mercedes (mais uma…), com Lewis Hamilton em 1º e Valtteri Bottas em 2º. Bottas fez a pole, mas perdeu a liderança na primeira curva e depois não conseguiu alcançar Hamilton, que já tinha vencido a corrida nº 900 e levou a nº 1000 também. A Mercedes ainda esnobou as outras equipes chamando seus dois pilotos para fazer a segunda troca de pneus na mesma volta. Um autêntico espetáculo.

Em 3º chegou Sebastian Mansell, digo, Sebastian Vettel, que mais uma vez andou menos do que se esperava e ultrapassou Leclerc na base da ordem enviada pelo rádio. Claro que Leclerc (5º lugar) ficou “muito feliz” (só que não) com a equipe e saiu soltando cobras e lagartos após a corrida, até por ter recebido uma estratégia absolutamente ridícula por parte do Sr. Rueda, o estrategista mais incompetente da atualidade no automobilismo.

O 4º lugar ficou com Max Verstappen, que na habilidade e na velocidade conseguiu um grande resultado para seu Red Bull-Honda, acompanhado dessa vez pelo seu companheiro Pierre Gasly, autor da volta mais rápida da prova e que terminou em um bom 6º lugar.

Finalmente a Renault terminou uma corrida, fazendo Daniel Ricciardo marcar seus primeiros pontos na temporada com um 7º lugar, bom para as condições da corrida e principalmente do carro. Seu companheiro Nico Hülkemberg (20º lugar) abandonou com problemas na unidade de força.

Em 8º chegou Sérgio Pérez, que conseguiu um desempenho razoável com a Racing Daddy, digo, Racing Point, cujo carro aparentemente começou o ano pior que os anos anteriores mas estão voltando a encontrar seu ritmo. Fez uma boa largada e depois administrou bem o desgaste dos pneus. Seu companheiro Lance Stroll (13º lugar) tentou uma estratégia diferente e… se deu mal. Acontece com equipes menores, mas não deveria acontecer com uma Ferrari, por exemplo.

Em 9º lugar terminou Kimi Räikkönen, sofrendo com a temperatura dos pneus (aparentemente o carro da Alfa Romeo é melhor com clima quente) mas fazendo uma corrida honesta. Seu companheiro de equipe, Alexander Albon, foi o grande destaque da corrida, largando lá atrás e conseguindo ao final marcar seu primeiro ponto na categoria ao terminar em 10º lugar. Em um GP cheio de nulidades e de desempenhos abaixo do esperado, ele entregou mais do que era esperado dele, e foi meu voto no site da categoria como piloto da corrida.

Próxima corrida será em Baku, onde tradicionalmente a Ferrari anda bem mas que não tenho nenhuma esperança de uma vitória da equipe de Maranello, justamente por conta das estratégias ridículas adotadas pelo time. Mais um clamoroso fracasso deve chegar… (espero queimar minha língua...)

O final de semana, entretanto, não se resumiu à corrida festiva da F-1: tivemos muito mais ação nas pistas. Comecemos pela vitória brasileira no Jaguar iPace eTrophy, categoria preliminar da Fórmula E onde Sérgio Jimenez aproveitou sua pole position e venceu na claustrofóbica pista de Roma. Aliás, fica a pergunta: será que na F-E é pré requisito para o circuito ser aprovado a largura máxima da pista ser de 8 metros de largura, com o México se tornando a honrosa exceção? Enfim, retornando à competição, como seria de se prever as posições de largada foram as de chegada, já que a pista romana somente permitia ultrapassagem caso o piloto da frente errasse, que foi o que beneficiou Cacá Bueno, que enfrentou problema na classificação e largou em um fraco 7º lugar. Pressionou o 6º colocado no grid de partida, Ahmed Bin-Khanen, até que esse errasse em uma curva e o permitisse diminuir o prejuízo. De resto, Jimenez largou em 1º e terminou em 1º, Bryan Sellers largou em 2º e terminou em 2º, e Simon Evans classificou em 3º e terminou em 3º. Sim, a corrida foi chata.

Já nos fórmulas, o ótimo piloto de Turismo José Maria “Pechito” López provou que o negócio dele é mesmo WTCR, TC 2000 e outras categorias de turismo: se atrapalhou na largada, e ainda na segunda volta bateu sozinho no muro, fechando o caminho para Paffett e Vergne, que provocaram um congestionamento na super estreita pista e consequentemente uma bandeira vermelha. Como o resgate da categoria prima pela rapidez (#sqn), foram 45 minutos de corrida interrompida… após a limpeza da pista, os pilotos voltaram a duelar não apenas entre si, mas também para achar algum ponto de ultrapassagem na pista e para tentar acertar a área de acionamento do modo ataque, mal posicionado mas menos que na corrida passada. Ao cabo da prova, tivemos o sétimo vencedor em sete corridas, e com a sétima equipe diferente. Equilíbrio da categoria? Sim, um tanto quanto artificial por conta dos zigue-zagues do regulamento, mas equilíbrio. Dessa vez coube a Mitch Evans trazer a primeira vitória para a equipe Jaguar. Foi seguido por Andre Lotterer, da DS Techeetah, em 2º lugar e por Stoffel Vandoorne, da HWA Venturi (que na próxima temporada deve virar equipe oficial da Mercedes), em 3º. No tocante aos brasileiros, Felipe Massa abandonou com pane no seu carro, que subitamente perdeu potência e não o permitiu prosseguir na prova, e Lucas di Grassi batalhou bastante mas, até por conta da falta de pontos de ultrapassagem na pista, não passou de um 7º lugar.

Ainda no sábado aconteceu em Long Beach a 3ª etapa do ano da temporada da IMSA, e a primeira das provas “curtas” da categoria. Por ser em uma pista de rua, apenas os protótipos e os GTLM estiveram na pista, sem a participação dos GTD, e a vitória coube à bestial dupla lusa Filipe Albuquerque e João Barbosa, que levaram o Cadillac DPi #5 a uma apertada vitória (menos de 1 segundo de vantagem na bandeirada final) sobre o Acura DPi #7 pilotado por Ricky Taylor e Hélio Castroneves. Aliás, a Penske levou também o 3º lugar, com o carro #6 de Dane Cameron e Juan Pablo Montoya. O Cadillac DPi #31 de Felipe Nasr e Pipo Derani terminou em 6º lugar.

Na noite de sábado tivemos mais uma etapa da NASCAR, no oval curto de Richmond, onde Martin Truex Jr. obteve sua primeira vitória em ovais curtos em 81 largadas na categoria principal. De quebra, ajudou a equipe de Joe Gibbs a manter seu desempenho dominante: de nove corridas dessa temporada, a equipe mais forte da Toyota ganhou 6 delas, com a Penske (Ford) vencendo as outras 3. Essa foi a clássica corrida que o Truex fez ficar fácil, embora tenha triunfado apenas no último segmento, já que o primeiro foi vencido por Kyle Busch e o segundo por Joey Logano. Atrás de Truex chegaram Joey Logano em 2º lugar, Clint Bowyer em 3º, Kevin Harvick em 4º e Denny Hamlin em 5º lugar.

Neste domingo tivemos em Campo Grande mais uma etapa da Copa Truck, e apesar da pista travada não favorecer, foram duas boas corridas. Na primeira, mais uma vitória de Beto Monteiro (VW), que mostrou um caminhão extremamente bem acertado e que não teve dificuldades de ultrapassar os dois pilotos que estavam à frente e abrir vantagem. Está em um momento iluminado da carreira, e não me surpreenderá se ao final do ano conseguir o título da categoria. Já conseguiu ser campeão da Copa Centro Oeste, vamos ver o que virá até o final do ano. Foi seguido por Paulo Salustiano(VW) no 2º lugar e por Wellington Cirino (Mercedes) em 3º lugar. Para a segunda corrida, como Débora Rodrigues (Mercedes) terminou em 8º lugar, ela largou na pole por conta da inversão do grid e mostrou grande forma na corrida. Largou bem, vendeu caro as ultrapassagens para Paulo Salustiano e Beto Monteiro (respectivamente 1º e 2º colocados na segunda corrida) e terminou em um ótimo 3º lugar, e o trio foi acompanhado no pódio por Felipe Giaffone (que está batalhando duro para desenvolver o Iveco) em 4º e por André Marques em 5º.

A MotoGP foi até Austin para correr no ondulado COTA, e surpreendentemente desta vez a vitória NÃO ficou com Marc Márquez, já que ele cometeu um de seus poucos erros e caiu quando liderava isolado. Isso permitiu que a briga pela liderança ficasse entre Valentino Rossi e… Alex Rins, fã de Valentino que ficou absolutamente feliz em conseguir ultrapassar seu ídolo de infância (sim, Valentino tem muitos anos de carreira…) e conquistar sua primeira vitória na categoria rainha. Em 3º lugar chegou Jack Miller, da Pramac Ducati, com um desempenho que botou a pulga no macacão dos pilotos da equipe oficial da Ducati, especialmente Danilo Petrucci, que não passou de um magro 6º lugar no final. Dovizioso assumiu a liderança do campeonato chegando em 4º lugar, mas precisa ficar esperto na fase europeia da competição, que já começa na próxima etapa… não é todo dia que Márquez irá errar como esse domingo.

Por falar em pista ondulada, a Indy correu esse domingo em Long Beach, e a vitória ficou com o competente Alexander Rossi, que foi o ponto fora da curva na modorrenta corrida na Costa Oeste e obteve sua primeira vitória de 2019 com uma atuação dominante. Não deu chance aos adversários, que chegaram bem atrás. O 2º lugar ficou com Josef Newgarden, ao passo que o 3º ficou com o mais regular piloto da atualidade, Scott Dixon. Mais um dia de sofrimento para os pilotos brasileiros, que terminaram em 15º lugar (Matheus Leist) e 19º (Tony Kanaan). Fico triste pelo jovem Leist, bom piloto desperdiçando seu tempo em uma equipe que não o permite mostrar seu talento.

E infelizmente vou ter que encerrar a coluna dando bronca: OK, eu sei que um dos atrativos do esporte a motor é justamente o fator “acidente”. Nada contra gostar de presenciar acidentes nas pistas, principalmente aqueles “big ones” nos ovais grandes da NASCAR, mas… como em TUDO na vida, precisamos de bom senso e respeito. Uma coisa é você estar na arquibancada com seu smartphone e registrar um acidente de longe. Outra, completamente diferente, é você filmar, dar zoom para registrar o piloto ferido e ainda espalhar o vídeo pelo Whatsapp. Que foi o que aconteceu nesse domingo, quando em uma prova da Superbike Series em Interlagos (pista excelente para carros e caminhões, mas absolutamente inadequada para motociclismo devido à falta de áreas de escape) o piloto Maurício “Linguiça” Paludete teve um sério acidente no final da reta dos boxes com a pista molhada, que acabou provocando ferimentos que o levaram ao óbito. E algum ser sem noção, sem respeito e sem educação não contente em filmar o acidente, ainda aproximou a imagem para captar o piloto agonizando, e compartilhou o vídeo… é, acho que Deus fez uma má escolha trocando os dinossauros pelos seres humanos. Deixo os meus sentimentos aos amigos e familiares do Paludete, e a esperança que as pessoas tenham mais RESPEITO com os outros.

Até a próxima!


Alexandre Bianchini