Caros leitores!
Recentemente, numa “reunião de pauta” do blog, optamos por
diversificar as postagens, sair um pouco do futebol. Concordei com
essa inovação do Patativa e espero que os nossos fiéis leitores
apreciem essa novidade . Entretanto, como membro da Velha Guarda,
seguirei falando apenas sobre futebol, dentro das quatro linhas.
Acredito que o nobre esporte bretão ainda é capaz de render bons
textos e boas histórias.
E, por falar em
história, acabo de lembrar de um conhecido que reencontrei semana
passada, lá no Ibotirama, da Rua Augusta. Sabe aquele tipo de
parceiro de mesa/balcão que sempre preenche algumas horas da noite com uma
conversa animada sobre futebol? Que conhece a história do futebol e
é capaz de dar uma aula sobre o Esquadrão Tricolor de 1992, sobre o
porquê o Telê Santana é o maior treinador de todos os tempos e,
claro, sabe explicar para corintianos, palmeirenses e santistas que o
São Paulo não foi rebaixado em 1990, com direito a desenhos no
guardanapo para os mais lerdos das ideias? Pois bem, é exatamente
esse o cara que estou falando. E o melhor; um são paulino da mais
pura cepa.
Devo
confessar que alguns dos melhores textos que escrevi aqui no
Patativa contaram com a consultoria técnica, histórica e etílica
desse meu conhecido. Encontrar esse homem, após tanto tempo sem
escrever sobre futebol, era uma oportunidade única. Fiquei até tentado a
pegar um caderninho de anotações. Acenei da entrada do bar, que já
estava apinhadíssimo e, logo, o amigo fez um convite acenando com a
cabeça. Estava encostado no balcão. Como tem sido nos últimos anos
ele aponta pra garrafa de cerveja e pergunta se aceito um copo.
Agradeço, mas, recuso a cortesia. E, pela enésima vez ele pergunta
se eu parei mesmo de beber. Respondo, pela enésima vez, que sim e já
me apresso a pedir um suco de limão batido no liquidificador com
gelo, o meu novo aperitivo de botequim.
Pergunto ao amigo sobre o Tricolor, o time, o Osório, as chances de título, a
virada histórica contra o Ceará, no jogo de volta da Copa do
Brasil. Ele responde com um lacônico “Estou por fora”. Como
assim? O maior são paulino em atividade que eu conheço não tinha
disposição pra falar sobre futebol? Esse sim é o fim, caro Marcelo Nova. Pedi mais uma
cerveja para o amigo, essa na minha despesa. Ele resolveu desabafar. Disse
que estava “meio a fim de uma mina lá do trampo”, que a coisa
não ia bem, que não tinha certeza disso ou daquilo, que estava
confuso. Enfim, esse meu conhecido padecia de um amor não
correspondido no local de trabalho. Um osso duríssimo de roer e que
nem sempre acaba bem. Vide os barracos e mal entendidos nas festinhas de confraternização das
empresas.
Tentei ajudar,
explicando que a conquista amorosa é como ganhar um Brasileirão,
tem que marcar pontos em todas as rodadas e, mesmo assim, é
possível que algum concorrente da parte de baixo da tabela, atropele
todo mundo e ganhe o título, ou melhor, o amor da moça. Ele
perguntou, ainda desanimado: - “Tipo o São Paulo, em 2008?”.
Sim, claro! Agora bastava saber se esse meu amigo estava no G4, na
zona da Libertadores ou na zona da degola da conquista amorosa.
Bastava que ele respondesse às seguintes perguntas que foram
desenvolvidas por mim, durante anos de pesquisa nesse assunto. Eis:
1 – Já esteve em
contato com a moça fora do ambiente de trabalho?
2 – A moça já te
chamou para conversar no Whatsapp? (veja bem, leitor, chamar para
conversar não é a mesma coisa que responder ao chamado, mesmo que
seja um dia depois)
3 – E nas
conversas de Whatsapp, quem manda mais emoticons, você ou ela? (sim,
isso tem base científica)
4 – A moça já
ligou para falar de qualquer assunto que não seja relacionado ao
trabalho? (se o leitor respondeu negativamente à pergunta nº 2,
nem precisa se dar ao trabalho de responder essa)
5 – Vocês já
conversaram sobre assuntos que não dizem respeito à rotina ou ao
ambiente de trabalho? Se sim, vocês têm alguma coisa em comum?
Bom o
teste é simples, mas, pelas minhas contas o amigo entrou na zona do
rebaixamento. Acredito que a moça em questão não sabe nem o nome dele.
Lamentável. Expliquei que o teste era tiro e queda e que o melhor a
fazer era esquecer aquela paixonite adolescente e se concentrar no que era
realmente importante; o jogo de volta contra o Ceará. O Tricolor
precisava dele.
Amigos, o
homem inflou o peito e se encheu de energia. Foi quase que uma
ressurreição ali na minha frente e com o garçom do Ibotirama por
testemunha. Tomou o último gole de cerveja, bateu o copo no balcão,
num dramaticidade sem propósito e disse: “Você esqueceu de fazer
a pergunta mais importante”. Tentei ainda sorver o último gole do
suco de limão, mas, só tinha a espuma, bati o copo no balcão
atraindo um olhar de reprimenda do garçom e emendei: “Qual
pergunta?”. Esse meu amigo sorriu como se tivesse descoberto o
final da temporada do Game of Thrones e disse: “Ainda hoje eu
perguntei para qual time ela torcia. E sabe o que ela respondeu?”.
Nem me preocupei em responder aquela bobagem. Ele prosseguiu: “Ela
é são paulina, são paulina, bicho!” E esse meu amigo saiu do
Ibotirama, em direção à Paulista, como se fosse comemorar um
título, me deixando ali, sozinho, no balcão com uma despesa de 01
suco de limão, 02 Stellas e 01 Steinhaeger que eu nem vi ele
bebendo, mas, que o garçom e o gerente do Ibotirama juraram de pés
juntos que ele bebeu, sim.
Fiquei
ali naquele balcão apinhado de gente por mais alguns minutos
tentando entender o que tinha acontecido. Da onde veio aquela
demonstração de perseverança? Após alguns minutos, já descendo
a Rua Augusta, foi que compreendi o raciocínio daquele “Zé
Doidim”. Lembrei que em alguns textos aqui no Patativa ressaltei o
quão ilógica e irracional era a paixão clubística, capaz de
aglutinar pessoas tão diferentes sob a mesma bandeira, a mesma
camisa. No mínimo ele deve ter interpretado que a paixão clubística
era capaz, por si só, de enlaçar pessoas diferentes, sem
afinidades e sem atração mútua. Que viagem! Enfim, acho que preciso tomar
um pouco mais de cuidado com as coisas que escrevo nesse blog.
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