quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Nem só de bola vive o homem

Caros leitores! Recentemente, numa “reunião de pauta” do blog, optamos por diversificar as postagens, sair um pouco do futebol. Concordei com essa inovação do Patativa e espero que os nossos fiéis leitores apreciem essa novidade . Entretanto, como membro da Velha Guarda, seguirei falando apenas sobre futebol, dentro das quatro linhas. Acredito que o nobre esporte bretão ainda é capaz de render bons textos e boas histórias.
E, por falar em história, acabo de lembrar de um conhecido que reencontrei semana passada, lá no Ibotirama, da Rua Augusta. Sabe aquele tipo de parceiro de mesa/balcão que sempre preenche algumas horas da noite com uma conversa animada sobre futebol? Que conhece a história do futebol e é capaz de dar uma aula sobre o Esquadrão Tricolor de 1992, sobre o porquê o Telê Santana é o maior treinador de todos os tempos e, claro, sabe explicar para corintianos, palmeirenses e santistas que o São Paulo não foi rebaixado em 1990, com direito a desenhos no guardanapo para os mais lerdos das ideias? Pois bem, é exatamente esse o cara que estou falando. E o melhor; um são paulino da mais pura cepa.
Devo confessar que alguns dos melhores textos que escrevi aqui no Patativa contaram com a consultoria técnica, histórica e etílica desse meu conhecido. Encontrar esse homem, após tanto tempo sem escrever sobre futebol, era uma oportunidade única. Fiquei até tentado a pegar um caderninho de anotações. Acenei da entrada do bar, que já estava apinhadíssimo e, logo, o amigo fez um convite acenando com a cabeça. Estava encostado no balcão. Como tem sido nos últimos anos ele aponta pra garrafa de cerveja e pergunta se aceito um copo. Agradeço, mas, recuso a cortesia. E, pela enésima vez ele pergunta se eu parei mesmo de beber. Respondo, pela enésima vez, que sim e já me apresso a pedir um suco de limão batido no liquidificador com gelo, o meu novo aperitivo de botequim.
Pergunto ao amigo sobre o Tricolor, o time, o Osório, as chances de título, a virada histórica contra o Ceará, no jogo de volta da Copa do Brasil. Ele responde com um lacônico “Estou por fora”. Como assim? O maior são paulino em atividade que eu conheço não tinha disposição pra falar sobre futebol? Esse sim é o fim, caro Marcelo Nova. Pedi mais uma cerveja para o amigo, essa na minha despesa. Ele resolveu desabafar. Disse que estava “meio a fim de uma mina lá do trampo”, que a coisa não ia bem, que não tinha certeza disso ou daquilo, que estava confuso. Enfim, esse meu conhecido padecia de um amor não correspondido no local de trabalho. Um osso duríssimo de roer e que nem sempre acaba bem. Vide os barracos e mal entendidos nas festinhas de confraternização das empresas.
Tentei ajudar, explicando que a conquista amorosa é como ganhar um Brasileirão, tem que marcar pontos em todas as rodadas e, mesmo assim, é possível que algum concorrente da parte de baixo da tabela, atropele todo mundo e ganhe o título, ou melhor, o amor da moça. Ele perguntou, ainda desanimado: - “Tipo o São Paulo, em 2008?”. Sim, claro! Agora bastava saber se esse meu amigo estava no G4, na zona da Libertadores ou na zona da degola da conquista amorosa. Bastava que ele respondesse às seguintes perguntas que foram desenvolvidas por mim, durante anos de pesquisa nesse assunto. Eis:
1 – Já esteve em contato com a moça fora do ambiente de trabalho?
2 – A moça já te chamou para conversar no Whatsapp? (veja bem, leitor, chamar para conversar não é a mesma coisa que responder ao chamado, mesmo que seja um dia depois)
3 – E nas conversas de Whatsapp, quem manda mais emoticons, você ou ela? (sim, isso tem base científica)
4 – A moça já ligou para falar de qualquer assunto que não seja relacionado ao trabalho? (se o leitor respondeu negativamente à pergunta nº 2, nem precisa se dar ao trabalho de responder essa)
5 – Vocês já conversaram sobre assuntos que não dizem respeito à rotina ou ao ambiente de trabalho? Se sim, vocês têm alguma coisa em comum?
Bom o teste é simples, mas, pelas minhas contas o amigo entrou na zona do rebaixamento. Acredito que a moça em questão não sabe nem o nome dele. Lamentável. Expliquei que o teste era tiro e queda e que o melhor a fazer era esquecer aquela paixonite adolescente e se concentrar no que era realmente importante; o jogo de volta contra o Ceará. O Tricolor precisava dele.
Amigos, o homem inflou o peito e se encheu de energia. Foi quase que uma ressurreição ali na minha frente e com o garçom do Ibotirama por testemunha. Tomou o último gole de cerveja, bateu o copo no balcão, num dramaticidade sem propósito e disse: “Você esqueceu de fazer a pergunta mais importante”. Tentei ainda sorver o último gole do suco de limão, mas, só tinha a espuma, bati o copo no balcão atraindo um olhar de reprimenda do garçom e emendei: “Qual pergunta?”. Esse meu amigo sorriu como se tivesse descoberto o final da temporada do Game of Thrones e disse: “Ainda hoje eu perguntei para qual time ela torcia. E sabe o que ela respondeu?”. Nem me preocupei em responder aquela bobagem. Ele prosseguiu: “Ela é são paulina, são paulina, bicho!” E esse meu amigo saiu do Ibotirama, em direção à Paulista, como se fosse comemorar um título, me deixando ali, sozinho, no balcão com uma despesa de 01 suco de limão, 02 Stellas e 01 Steinhaeger que eu nem vi ele bebendo, mas, que o garçom e o gerente do Ibotirama juraram de pés juntos que ele bebeu, sim.
Fiquei ali naquele balcão apinhado de gente por mais alguns minutos tentando entender o que tinha acontecido. Da onde veio aquela demonstração de perseverança? Após alguns minutos, já descendo a Rua Augusta, foi que compreendi o raciocínio daquele “Zé Doidim”. Lembrei que em alguns textos aqui no Patativa ressaltei o quão ilógica e irracional era a paixão clubística, capaz de aglutinar pessoas tão diferentes sob a mesma bandeira, a mesma camisa. No mínimo ele deve ter interpretado que a paixão clubística era capaz, por si só, de enlaçar pessoas diferentes, sem afinidades e sem atração mútua. Que viagem! Enfim, acho que preciso tomar um pouco mais de cuidado com as coisas que escrevo nesse blog.

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