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sexta-feira, 21 de abril de 2017

Aconteceu num 21 de abril.

Há 90 anos, em abril de 1927, surgia o maior estádio da América Latina e um dos maiores do mundo na época. Vamos lembrar que o estádio Centenário (construído para a primeira Copa do Mundo) levaria ainda três anos para ser finalizado. E até a construção do Pacaembu (em 1940), São Januário seria o maior estádio do Brasil.

Mas por trás da história de São Januário não existe apenas suntuosidade e concreto.  O Vasco da Gama – fundado por portugueses do subúrbio carioca – era formado basicamente por operários e negros numa época em que o “football” era um esporte dominado pela elite. O Gigante da Colina como ficaria conhecido teve uma ascensão meteórica no futebol carioca, sendo campeão em 1923. No ano seguinte, Flamengo, Fluminense e Botafogo, fundariam a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), deixando o clube cruzmaltino de fora e exigindo do clube uma espécie de investigação social de seus integrantes ou associados.

Óbvio que isto gerou revolta, resultando numa carta do presidente do clube à AMEA, alegando preconceito e racismo. Na época, 12 jogadores vascaínos eram negros, mulatos e imigrantes. Mas, se racismo não seria o motivo (em que alegaria a AMEA), a exigência para participar da Associação era que o clube possuísse um campo ou estádio próprio (algo que o Vasco não possuía  pois mandava os jogos no campo do América).  Sem entrar em muitos detalhes, o fato é que o Vasco conseguiu adquirir um terreno em São Januário, e numa espécie de mutirão, ajudado pela sua torcida, construiu o maior estádio do Brasil em tempo recorde (em 11 meses segundo informações de um blog).

Não tinha mais jeito:   O Vasco, de sub-julgado, tinha o maior estádio, e conseguiu fazer um  dos maiores eventos desportivos do Rio de Janeiro (então capital federal). Para cortar a fita de inauguração, nada menos que o presidente da república, Washington Luís. O convidado para festa era um clube paulista que, além de boas relações com os fluminenses, era uma sensação na época em virtude dos placares elásticos que aplicava aos adversários: O Santos Futebol Clube.


Cortada a fita, começado o jogo e aos 11’do primeiro tempo, as redes balançavam pela primeira vez em São Januário: Gol anotado pelo santista Evangelista. Negrito, aos 45’empatava para o clube da colina. E o primeiro tempo terminava empatado em 1x1.

Mas o time de Vila Belmiro parecia não ter se impressionado com o maior público que o futebol brasileiro presenciava até então (dados oficiais de 35000 mas deveria haver bem mais) e impôs seu jogo no segundo tempo: Feitiço faria aos 15’ novamente para o Santos  e Baiano empataria logo depois, aos 18’. Omar aos 22’, e Araken aos 30’, ampliariam para o time santista. Pachoal aos 34’ diminuiria para o Vasco. Evangelista, autor do gol de inauguração, encerraria a pugna, anotando aos 39’. Final 3x5; Vasco feliz com seu novo estádio, e o Santos com o placar.


E para encerrar mais uma curiosidade: O Vasco inconformado com a derrota, marcou uma revanche poucos meses depois, em 14 de julho do mesmo ano. O cenário parece que teria sido o Estádio das Laranjeiras, contando novamente com a presença do presidente Washington Luís. Novamente venceu o Santos, por 4x1. Os vascaínos, irritados por estarem inferiorizados novamente no placar, não pouparam algumas botinadas pra cima dos santistas. E como os santistas não revidavam e continuavam tocando a bola, o repórter  Carlos Gonçalves do jornal “O Globo”, escreveu uma manchete que ficaria para sempre registrada na história do clube paulista: “O Santos é o campeão da técnica e disciplina”. E o Clube de Regatas Vasco da Gama, principalmente a partir de São Januário, figuraria entre os grandes do futebol brasileiro, sendo um dos pioneiros da luta contra o preconceito no futebol.