quarta-feira, 10 de abril de 2019

Corinthians não passa por nocaute, mas passa



Não gosto de boxe, mas já assisti algumas lutas. Nela um boxeador pode apanhar, apanhar e apanhar. Se nada extraordinário acontecer, perderá por pontos ou por nocaute. É um esporte que dá margens para interpretações, só não acontece de um surrado conquistar alguma coisa. Talvez essa analogia não sirva para o futebol, em que as regras são matemáticas: ganha quem faz mais gols, não quem bate mais. Ainda pior, dentro da esportividade de campo, ganha quem segue a regra da competição. O campeonato, o jogo e o esporte têm suas definições próprias.

Mas competir, dentro do futebol, é algo muito contraditório.

Aquilo que vimos na última semifinal entre Corinthians e Santos deixará bem evidente a diferença entre competir e competição. Assim como um boxeador que apanha o tempo todo, o Corinthians apanhou do Santos. Inúmeras chances desperdiçadas, um time batendo e outro como “sparring bob”. Competir é disputar e o Corinthians competiu? Ataque contra a defesa - A clássica definição dos comentaristas esportistas quando há uma notória diferença de comportamento das equipes dentro de campo - Mas o futebol não é boxe, ganha quem está na competição, nem sempre quem agride mais, por nocaute ou pontos.

Vão dizer certo ou errado, vão analisar a estética do esporte. Vão achar argumentos sobre a justiça e coisa do gênero. Chegaremos à conclusão de que o Corinthians não deveria estar na final. E depois de tantos debates, tantas discussões e já com uma definida opinião sobre o clássico, enfim os termos que definem todos os argumentos acabam mudando tudo: competir e competição. Corinthians não disputou, mas competiu. Competir é definido pela competição, por suas regras diretas e matemáticas. Competir é usar a regra. Ousar é a beleza estética. A Seleção Brasileira de 1982 era ousada, o Corinthians de 2019 segue resignado. Corinthians competiu na regra do futebol, por sua sorte não era um boxeador.

A soma dos resultados dos dois jogos foi 2 x 2. Na história do esporte a surra será diminuída com o tempo. Os vitoriosos não precisam de justificativas, seguem na competição. E os perdedores? É válido que queiram vencer. Nem que vençam pela beleza, pela plástica e pelo “jogo bem jogado”. Ainda que no DNA do futebol venha enriquecido pelo gol, sua mudança genética é a competição. O torcedor prefere um time brilhante desclassificado ou um medíocre na final? Corinthians foi medíocre, mas poderá entrar na história. Santos foi fascinante, mas um encanto que acaba com o apito final.

É verdade que a melhor das opções é uma equipe jogando brilhantemente e vitoriosa, agregando resultado e beleza. Mas nem sempre dá para ser assim. Alguns times já conseguiram fazer isso? Muitos. E ainda muitos continuam sendo eficientes e agradáveis. Mas, tantos outros medíocres entraram para história, narrando seu feito heroico ainda que covardes. Pois no futebol a covardia não é como no boxe.

No futebol quem sabe apanhar também pode ganhar.


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