Não gosto de
boxe, mas já assisti algumas lutas. Nela um boxeador pode apanhar, apanhar e
apanhar. Se nada extraordinário acontecer, perderá por pontos ou por nocaute. É
um esporte que dá margens para interpretações, só não acontece de um surrado
conquistar alguma coisa. Talvez essa analogia não sirva para o futebol, em que
as regras são matemáticas: ganha quem faz mais gols, não quem bate mais. Ainda
pior, dentro da esportividade de campo, ganha quem segue a regra da competição.
O campeonato, o jogo e o esporte têm suas definições próprias.
Mas competir,
dentro do futebol, é algo muito contraditório.
Aquilo que vimos
na última semifinal entre Corinthians e Santos deixará bem evidente a diferença
entre competir e competição. Assim como um boxeador que apanha o tempo todo, o
Corinthians apanhou do Santos. Inúmeras chances desperdiçadas, um time batendo
e outro como “sparring bob”. Competir
é disputar e o Corinthians competiu? Ataque contra a defesa - A clássica
definição dos comentaristas esportistas quando há uma notória diferença de
comportamento das equipes dentro de campo - Mas o futebol não é boxe, ganha
quem está na competição, nem sempre quem agride mais, por nocaute ou pontos.
Vão dizer certo
ou errado, vão analisar a estética do esporte. Vão achar argumentos sobre a
justiça e coisa do gênero. Chegaremos à conclusão de que o Corinthians não
deveria estar na final. E depois de tantos debates, tantas discussões e já com
uma definida opinião sobre o clássico, enfim os termos que definem todos os
argumentos acabam mudando tudo: competir e competição. Corinthians não
disputou, mas competiu. Competir é definido pela competição, por suas regras
diretas e matemáticas. Competir é usar a regra. Ousar é a beleza estética. A
Seleção Brasileira de 1982 era ousada, o Corinthians de 2019 segue resignado.
Corinthians competiu na regra do futebol, por sua sorte não era um boxeador.
A soma dos
resultados dos dois jogos foi 2 x 2. Na história do esporte a surra será
diminuída com o tempo. Os vitoriosos não precisam de justificativas, seguem na
competição. E os perdedores? É válido que queiram vencer. Nem que vençam pela
beleza, pela plástica e pelo “jogo bem jogado”. Ainda que no DNA do futebol
venha enriquecido pelo gol, sua mudança genética é a competição. O torcedor
prefere um time brilhante desclassificado ou um medíocre na final? Corinthians
foi medíocre, mas poderá entrar na história. Santos foi fascinante, mas um
encanto que acaba com o apito final.
É verdade que a
melhor das opções é uma equipe jogando brilhantemente e vitoriosa, agregando
resultado e beleza. Mas nem sempre dá para ser assim. Alguns times já
conseguiram fazer isso? Muitos. E ainda muitos continuam sendo eficientes e agradáveis.
Mas, tantos outros medíocres entraram para história, narrando seu feito heroico
ainda que covardes. Pois no futebol a covardia não é como no boxe.
No futebol quem
sabe apanhar também pode ganhar.
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