sábado, 9 de fevereiro de 2019

NÃO PODES PERDER, PERDER PARA NINGUÉM - I


Exausto. Olho para os lados. Exausto. Pulso ainda firme e os olhos atentos. Que ainda me chama atenção nesse mundo em movimento? Quem me chama atenção? A solidão é uma parada obrigatória aos inconformados. Nada me conforta, nem o som nem o gosto. Tomo um gole da cerveja que estava esquentando em cima do balcão, um punhado de amendoim na boca. Exausto, cansado. Ninguém em mim se anima. Hoje é uma sexta-feira, relembro ao olhar pela terceira vez o calendário. Antigamente eles eram mais atraentes, as mulheres quase nuas e números maiores. Num bar daqueles e o calendário com foto de gatinho, cachorrinho e outros mimos. Um gole na cerveja e outro punhado de amendoim. Queria comer um ovo e um torresmo, mas aquele lugar não me inspirava confiança. Que calor dos infernos e essa chuva que está armando lá fora. Tem algum lugar para eu dormir nessa pocilga? Puta que me pariu, o Botafogo está perdendo novamente. Eu que pensei em jogar futebol. Mas estou exausto, muito exausto.

Quer sair por andando por aí sem caminhar certo. Passos tortos, anjo torto. Minhas pernas tortas? Hoje não tem clássico e amanhã não posso mais perder de ninguém. Um herói que amanhã acorda cedo. Como disse Bukowski, há um pássaro no peito que quer sair, mas não quero que ninguém o veja. Esse bar tem lugar para dormir? Amanhã acordo cedo, amanhã sem calendário e amanhã sem torresmo. Hoje, meus amigos, eu não posso perder para ninguém! Caminho pelas ruas estreitas suas casas velhas e conservadas. Não quero a praia e suas calçadas largas, mas quero o sol que nascerá daqui a pouco. Pois hoje eu trabalho e hoje não tem mais futebol.

História épica é minha história de torcedor. Há quem diga que eu estou por algum canto, aguardando comentários e ilustrações do passado. Mas eu sou do futuro, esperançoso do futuro. Jefferson ou Manga? Não paro de pensar enquanto caminho entre o passado e o futuro. Tem dúvida que só acontece no Botafogo. E eu continuo andando querendo saber afinal quem é General Polidoro. Seria um ilustre botafoguense? Nilton dos Reis Santos! Santos nosso rival de craques. Não, não posso mais perder para ninguém.

Sigo andando para Rodrigo de Freitas. Suas ruas não são mais tão estreitas. Andando minha cabeça vai voltando ao normal. Sem torresmo e essa cerveja gelada. Do meu lado esquerdo cruzes, crucifixos e o silêncio. São João Batista onde quero meus dias tranquilos. Mas amanhã ainda vou trabalhar, amanhã não tem clássico. Amanhã não ganho de 1 a zero do Flamengo com noventa e duas mil pessoas. E eu era tão novo e eu sabia que não precisava ter esperança. Hoje preciso, hoje é essencial.

Hoje tão solitário e andando tão exausto. Hoje a noite uma estrela que eu sou, mas quem sabe não me sinta tão triste em ser tão solitário.



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