Olá, leitores!
Quando eu era criança, na década de 70, volta e meia ouvia
minha avó repetir um velho ditado (e que provavelmente quando ela nasceu já era
velho) que dizia “não cuspa para cima que o cuspe pode cair no seu olho”...
pois bem, a Mercedes desde que voltou à Fórmula 1 criticava as ordens de equipe
que a Ferrari tantas e tantas vezes ordenou. E não é que no GP da Rússia ela se
utilizou do expediente da ordem de equipe para fazer a vantagem do Hamilton
sobre Vettel aumentar (ainda) mais? Depois da bandeirada é claro que ficou um
climão pior que reunião de conciliação em vara de família entre os pilotos da
Mercedes. Hamilton se sentiu constrangido em comemorar a vitória, Bottas ficou
com mais cara de pastel de vento ainda, apenas Vettel dava um riso levemente
sarcástico, como se lembrasse das críticas anteriormente recebidas e soubesse
como seria a repercussão da ordem do Cachorro Lobo (Toto Wolff) até a próxima
corrida, que para sorte dos alemães já é final de semana que vem.
Vamos deixar claro, entendo perfeitamente que automobilismo
é um esporte coletivo, que o que é bom para a equipe deve se sobrepor ao que é
bom para o piloto, mas... existem maneiras e maneiras de fazer a coisa. A mais
correta é a inversão de posições na troca de pneus, porém os pneus já tinham
sido trocados e não daria para usar essa opção. A segunda melhor alternativa é
ser direto, e avisar ao piloto da frente que é para dar passagem pois aquilo é
melhor para o campeonato. Avisar o piloto da frente que é para dar passagem
acenando com a possibilidade de inverterem posições mais à frente e não efetuar
a inversão é mais desrespeitoso que pedir “na cara dura”, em minha opinião.
Agora vamos ver como a equipe Mercedes e seu “capo” Cachorro
Lobo se comportarão após Hamilton garantir matematicamente o título (lembrando,
após a bandeirada a vantagem foi para 50 pontos, ou seja, Hamilton pode não
pontuar em 2 corridas que Vettel na melhor das hipóteses empatará na
pontuação). Após Schumacher garantir o título, a Ferrari passou a trabalhar
para Barrichello ser o vice campeão, inclusive com Schummy cedendo vitória para
o brasileiro. Não espero menos que isso da Mercedes até a prova de Abu Dhabi. Que
o título deve ser decidido antes do GP Brasil, isso é líquido e certo levando
em conta a debilidade psíquica de Vettel e os erros de estratégia da Ferrari,
sempre fiel aos seus princípios de homenagear o exército peninsular, que não vê
um GRANDE estrategista desde os tempos de Júlio César e Marco Antônio. A dúvida
que paira é se Hamilton terá a hombridade e a decência de ajudar aquele que
tanto o ajudou durante o ano após ter seu quinto título garantido.
A vitória de Lewis Hamilton era esperada, seja pela
superioridade de carro, seja pela superioridade de pilotagem sobre Vettel, mas
poderia ser alcançada sem a troca de posições ordenada pela equipe. Enfim, cada
um com seus problemas, e a Mercedes que lide com as consequências (até
mercadológicas e de imagem) de seu ato. Foi seguido no 2º lugar por seu escudeiro
Valtteri Bottas, que teve de ceder posição em uma das poucas pistas em que ele
consegue ser mais rápido que Hamilton, e merece ficar com o vice campeonato no
final da temporada. Como manifestei anteriormente, apenas cobrarei coerência da
equipe...
Em 3º e 4º lugares chegaram os pilotos da Ferrari,
respectivamente Sebastian Vettel e Kimi Räikkönen, esse último já preparando
suas malas para ir correr na Sauber-Alfa Romeo ano que vem (e presumo que,
secretamente, comemorando que não terá mais de lidar com os “jênios” que fazem
a estratégia da Ferrari) em companhia do jovem Antonio Giovinazzi, piloto da
Academia Ferrari que terá um grande professor na equipe para evitar os erros
bobos que cometeu quando teve chance de pilotar na Sauber em duas corridas de
2017. Quanto a Sebastian Vettel, sua expressão no pós bandeirada pareceu-me
indicar que ele já tem consciência que não será esse ano que ele conseguirá ser
campeão novamente. Estava relaxado o suficiente para, na antessala do pódio,
cobrir a câmera com uma toalha para evitar a filmagem da tensão entre os dois
pilotos da Mercedes. Quem sabe agora, com menos pressão sobre os ombros, ele
pare de cometer erros infantis como tantas vezes cometeu esse ano... e se
preparar para seu desafio ano que vem: não ser “engolido” pelo novo
companheiro, Charles Leclerc, hipótese que considero perfeitamente plausível
haja vista a fragilidade emocional que ele demonstrou esse ano.
Em 5º e 6º lugares chegaram os pilotos da Red Bull,
respectivamente Max Verstappen e Daniel Ricciardo, que fizeram corridas
excelentes. A equipe preferiu antecipar a punição de troca de componentes da
unidade de potência do Japão para a Rússia, e ambos largaram lá atrás... e
foram responsáveis por melhorar consideravelmente a qualidade da corrida, que
sem eles teria se enquadrado na categoria “modorrenta”. Ricciardo, inclusive,
fez parte razoável da prova com a asa dianteira danificada, o que aumenta o
valor do seu resultado.
Em 7º lugar, o “melhor do resto”, Charles Leclerc, que fez
uma grande classificação e durante a corrida mostrou maturidade de veterano. Ano
que vem deverá dar trabalho para Vettel, que nitidamente aparenta iniciar a
fase descendente de sua carreira e portanto o monegasco deve ser o próximo
piloto a trazer um título para Maranello.
Seu companheiro Marcus Ericsson (13º) não conseguiu efetuar as
ultrapassagens que planejava e estava bastante decepcionado ao final da prova.
Em 8º lugar um batalhador Kevin Magnussen, que ao passo que
não tinha ritmo para acompanhar Leclerc era “alvo” dos carros da Force Daddy,
digo, Racing Point, mas teve a habilidade de defender sua posição e conquistar
mais 3 pontos no campeonato. Seu companheiro Romain Grosjean (11º) lutou contra
a falta de velocidade do carro e não conseguiu entrar na zona de pontuação,
para seu desgosto.
Fechando a região de pontos, em 9º e 10º chegaram os carros
róseos da Racing Point Force India, respectivamente Esteban Ocon e Sérgio
Pérez, que lutaram muito mas mesmo contando com a força do motor Mercedes
empurrando não conseguiram efetuar a sonhada ultrapassagem sobre o Haas –
Ferrari de Magnussen, o que certamente desapontou ambos os pilotos. Tem dias
que nem tudo funciona como se quer...
Próxima corrida, GP do Japão, já na próxima semana. Em tese,
mais uma vitória fácil de Hamilton, acelerando a conquista do 5º título do
inglês. Vamos ver...
E F-1 é bom, mas não é 100%, o final de semana teve também
outras competições motorizadas. Comecemos com a Superbike, onde na chatíssima
pista de Magny-Cours ainda no sábado Jonathan Rea venceu a corrida e garantiu
seu nome na história como maior campeão da categoria Superbike, conquistando
seu 4º título e se isolando na liderança de títulos conquistados. O piloto da
Kawasaki foi acompanhado no pódio pelo seu companheiro de equipe Tom Sykes em
2º lugar e pela Ducati independente de Xavi Fores em 3º lugar. Na corrida do
domingo, como seria de se prever, vitória de... Jonathan Rea, claro, sua 8ª
vitória consecutiva na temporada 2018. O acompanharam no pódio Chaz Davies
(Ducati) em 2º lugar e Michael van der Mark (Yamaha) na 3º posição. Agora
teremos mais duas etapas (Argentina e Qatar) com 4 corridas para cumprir
tabela... resta saber se Rea irá querer ampliar seu score de vitórias ou vai
relaxar um pouco e deixar os outros brincarem também.
E precisamos comemorar o primeiro título feminino em uma
categoria internacional de motociclismo: a espanhola Ana Carrasco se sagrou
campeã na última corrida de 2018 da categoria Supersport 300 do Mundial de Superbike
(o equivalente da WSBK para a Moto3 do Mundial de Motovelocidade), e com 21
anos de idade podemos acreditar que ela tem um brilhante futuro pela frente.
Ela tentou participar da Moto3, mas não se adaptou à moto. No Mundial de
Superbike, ela se entrosou facilmente com a moto e conseguiu exibir seu
talento. Todo o sucesso possível para Ana, é o que deseja essa coluna.
Também tivemos corrida da NASCAR, uma inédita etapa em um
circuito misto feito na parte interna do oval de Charlotte aproveitando grande
parte do oval e batizado de “Roval” (Road OVAL), com algumas chicanes para
reduzir a velocidade em pontos críticos... e talvez essas chicanes tenham sido
a fonte dos momentos plasticamente mais impressionantes do final de semana da
categoria. Nos treinos a chicane da reta oposta foi a responsável por belas
imagens de carros perdendo o controle e destruindo a barreira de pneus colocada
na parte externa da segunda perna dela, e na corrida... bem, foi a vez da
chicane antes da linha de chegada. O primeiro segmento foi vencido pelo grande
nome da corrida, Kyle Larson, ao passo que o segundo segmento ficou nas mãos de
Ryan Blaney, o herdeiro da vitória no segmento final.
Nesse ponto vocês, caros leitores, podem perguntar “Por que
herdeiro?”, e explicarei: a pouco menos de 10 voltas do final, a disputa pela
liderança era um jogo de xadrez entre Brad Keselowski e Kyle Larson, até que
tivemos bandeira amarela e uma relargada (com boa parte dos pilotos usando
pneus para lá de gastos) na volta 104 de 109... e Brad perdeu o controle na
freada para a curva de quase 90 graus para a esquerda logo após a largada,
passou reto e envolveu vários pilotos no acidente, dentre eles Kyle Busch (que
abandonou a corrida com a suspensão destruída) e Larson, que sofreu grandes
danos mas... conseguiu prosseguir. Quando deram bandeira vermelha para
conseguir limpar a lambança que foi feita, ele parecia catatônico dentro do
carro, ao ver suas chances de prosseguir nos playoffs acabando. No entanto, ele
conseguiu chegar aos boxes ao final da bandeira vermelha, e a equipe Ganassi fez
uns reparos emergenciais que permitiram que ele relargasse para as 3 voltas finais
mesmo com o carro apresentando grandes danos, mas não grandes o suficiente para
impedir que se movimentasse ou fizesse curvas... e nas últimas 3 voltas a
disputa foi acirrada entre Martin Truex Jr. (na frente) e Jimmie Johnson logo
atrás em 2º, finalmente fazendo uma grande corrida esse ano. O 2º lugar
garantia a passagem de Johnson para a próxima fase dos playoffs, mas... ele
queria a vitória. E na última volta fez o possível para se aproximar, deixando
pra dar o bote final na última chicane... só que ele perdeu ligeiramente o
controle do carro na transição entre a parte inclinada da pista (oval) e a
parte plana, e nesse momento deu aquele “branco” na cabeça do heptacampeão e
ele tentou mergulhar por dentro... resultado: perdeu o controle, rodou e,
rodando, atingiu a traseira de Truex Jr., fazendo esse rodar também. Blaney,
que vinha em 3º lugar, agradeceu o enrosco e cruzou a linha de chegada em 1º
lugar, seguido por Jamie McMurray em 2º lugar, Clint Bowyer em 3º, Alex Bowman
(finalmente conseguindo um resultado decente com o #88) em 4º lugar e Kurt
Busch fechando o Top-5. E Kyle Larson? Conseguiu arrastar seu carro para o 25º
lugar, conseguindo pontos suficientes para a próxima fase dos playoffs e
demonstrando uma força de vontade e estabilidade emocional que faltam, por
exemplo, ao Vettel na F-1. Para mim, o grande nome da corrida foi Larson,
disparado.
Agora na próxima fase dos playoffs seguem Kyle Busch, Kevin
Harvick, Martin Truex Jr., Brad Keselowski, Clint Bowyer, Joey Logano, Kurt
Busch, Ryan Blaney, Chase Elliott, Kyle Larson, Aric Almirola e Alex Bowman,
nessa ordem de pontuação. Ciao, Jimmie Johnson, ciao... o mesmo pode ser dito (ou
cantado) para Austin Dillon, Denny Hamlin e Erik Jones.
Até a próxima!
Alexandre Bianchini
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