Quando você ouve a palavra
MARATONA qual a imagem que vem à sua cabeça? Muitos lembrarão da imagem da
corredora suíça Gabriela Anderssen-Schiess, chegando completamente depletada e desorientada no Coliseu de Los Angeles, na maratona do Jogos Olímpicos em 1984. É uma imagem realmente chocante que destrói qualquer associação da prática esportiva com a saúde e o bem estar. Pois é, essa era uma das imagens que vinha à minha cabeça quando em pensava em
maratona. Imaginava o nível de sofrimento físico e mental experimentado por
esta moça. Só de pensar em algo do gênero desistia de enfrentar os 42km.
Outros lembrarão dos Jogos
Olímpicos de Atenas, em 2004, quando Vanderlei Cordeiro de Lima liderava
bravamente a prova e foi covardemente agredido por um espectador sedento por
holofotes. Essa imagem é revoltante para todo e qualquer esportista, amador ou
profissional que se prepara para estar no melhor da sua forma durante
uma competição e é impedido por fatores externos. Pouco importa se o Vanderlei
é brasileiro ou não. Aliás, tenho dúvidas se ele teria conseguido manter a
dianteira até o final, mas o simples fato de ter prosseguido após ter sido derrubado daquela forma demonstra que atletas de elite são seres diferenciados mesmo e quando dizem que aquela medalha de bronze que o Vanderlei ganhou vale ouro, acredite! Tenho dificuldades de lembrar o nome do primeiro atleta a cruzar a linha de chegada, mas o nome do vencedor, ah... esse todos nós sabemos.
Mas, para mim, a imagem da
maratona é a imagem do etíope Abebe Bikila correndo descalço pelas ruas de Roma
nos Jogos Olímpicos de 1960. Ainda que o Bikila tivesse acostumado a correr
descalço (ele não gostou dos tênis oferecidos pela Adidas) a proeza de encarar
42 km em vias asfaltadas ou de paralelepípedos, até hoje é considerado um
exemplo de superação e resiliência. É lógico que o fato de Bikila vir de um
país praticamente desconhecido (Etiópia), ser africano e correr descalço rendeu
pauta para diversas publicações do Ocidente, que tentavam construir a narrativa do atleta humilde, vindo de um país pobre etc e tal. Balela! Bikila já era um dos competidores favoritos dentre aqueles que conheciam o esporte. Correr descalço foi uma opção do corredor e não uma necessidade.
Uma curiosidade sobre esse feito
é o fato de que dias antes da maratona, traçando a estratégia de prova com seu
treinador, foi acertado que a arrancada final deveria ser dada cerca de 1,5km
antes da chegada, exatamente aonde estava instalado o Obelisco de Axun, jóia
rara da engenharia do Império Axumita, com cerca de 1700 anos de construção e
que foi roubado por militares fascistas italianos durante o período de ocupação
da Etiópia. E foi ali, em frente ao Obelisco de Axum, que Bikila deu arrancada
final, vencendo a prova em território italiano e cruzando a linha de chegada sob
o Arco de Constantino. Sensacional!
A maratona também é isso. Seja pra quem assiste ou pra quem corre, a maratona é uma coleção de imagens de alegria, de superação, de dor. Não posso prever o que acontecerá domingo, na SP City Marathon, mas sei que quando as minhas pernas pararem de correr terei colecionado outras tantas imagens que, assim como estas acima, farão parte da minha memória.
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