quarta-feira, 28 de junho de 2017

Cartola e o novo Futebol


Tenho acompanhado o futebol como quem segue o sobe e desce na bolsa de valores. Há um elemento que me inseriu nesse mundo de estatísticas, apostas e previsões. Algo no futebol que me faz pensar numa análise criteriosa, que olha para o jogador de futebol e seu histórico dentro do campo. Ver o jogo dentro de um contexto, que não deixa de lado a análise do mando de campo, histórico de confrontos, pressão por resultados; a tabela de classificação, o artilheiro e assim por diante. Tenho acompanhado o futebol numa nova postura de torcedor, que já não torce mais pelo time, mas pelos jogadores. Esse elemento se chama Cartola FC.

E para quem não conhece o Cartola FC, ele é um jogo onde os participantes montam equipes com jogadores da vida real. A pontuação numa partida de futebol alimenta os pontos dos jogadores dentro do Cartola. Assim, de uma forma resumida: você escolhe o jogador para apostar e esse jogador terá uma pontuação dentro de um jogo real. Você monta uma equipe com onze jogadores que pode ser de qualquer equipe do futebol que participa da Série A do Campeonato Brasileiro. Bom, mas a intenção aqui não é ser um tutorial para o esporte fantasy, mas sim, discutir o quanto esse game está influenciando o torcedor na vida real.

É verdade que o futebol está longe da modernidade e aos trancos e barrancos quer chegar ao século XXI. Parte dessa pressão surge dos próprios torcedores. Outra pressão vem das empresas que gastam milhões em publicidade. O futebol altamente lucrativo não pode lutar contra a evolução tecnológica que surgiu nos anos 90, e que fez mudanças grandiosas em nossa vida cotidiana. Mudamos tudo em nossa vida nos últimos trinta anos. Lazer, negócios, exposição, segurança entre outras coisas. Tudo adaptado à “nova tecnologia da Informação”, que não é mais nova assim. A adaptação só não aconteceu ainda no futebol. As mesmas regras, o mesmo jogo e a mesma praça. O futebol não se diferencia na essência do futebol jogado pelo seu avô.

O Cartola FC é só mais uma ferramenta que auxilia essa participação high tech no mundo do futebol. É preciso conexão, celular, agilidade e conectividade. É matemática, dados, como nos jogos virtuais. Chute vale um ponto, falta vale outro. A matemática define objetivamente. Não dá para ver o futebol de forma subjetiva. “Plasticidade”, que é um termo muito usado pelos torcedores para definir uma jogada bonita, não tem participação no Cartola FC. Exceto um critério chamado “defesa difícil”, tudo que existe no Cartola é lógico, pontual, sem discussão. É futebol? Em partes. Futebol que não quer qualificar um gol que parte da torcida, mas pontuar um gol registrado na planilha. Acompanhar o futebol através do Cartola nos torna mais frios? Não necessariamente. Cartola é um mundo paralelo do futebol, pois não remete aquilo que vemos dentro de campo, mas dá objetividade em tudo que acontece dentro dele.

Nesses três anos tenho acompanhado um grupo de discussão num grupo de Whatsapp. Em sua maioria, os participantes ali têm a metade da minha idade. E todos eles dizem e falam sobre o futebol com um amor que eu já pensei não existir mais. Sou, talvez, de uma geração que determina que certa ilusão deve ser mantida mesmo na linha do entretenimento. E nesse amor que eles vivem, acompanhando nomes, estatísticas de clubes e jogadores estranhíssimos ao meu mundo; todos eles sabem e se divertem com o Cartola como se ali eles pudessem realmente co-participar do mundo do futebol. Não deixa de ser curioso que o futebol, que parece morrer a cada ano, renasça a cada nova onda tecnológica.

O futebol, portanto, por vias tortas, está chegando ao futuro. Onde não basta apenas torcer, é preciso participar. Uma participação dinâmica que vê o futebol em seus detalhes, passo-a-passo. Não basta torcer, é preciso opinar (através de Whatsapp, Facebook ou afins). Não basta torcer e opinar, é preciso acompanhar e armazenar dados, lançar as informações em estatísticas e gráficos, decidir a melhor opção, de acordo com tudo que envolve uma partida de futebol. E somando tudo isso, ter o poder de escalar e verificar sua escolha virtual de acordo com o mundo real, como acontece com o Cartola.

Com isso, o futebol que existiu antes vai morrer; mas a cada nova rodada nasce uma nova forma de torcer. Errado ou não, é através dessa nova maneira que eu ainda não abandonei o futebol.

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