Lição de Raciocínio Lógico: O
corredor é um chato. Eu sou corredor. Logo, sou chato. Mesmo que,
eventualmente, seja chamado de metódico, formalista ou alguma outra expressão
lisonjeira. Sei que, na verdade, estou sendo chamado de chato. E a corrida,
apesar de aparentemente simples, tem de tudo que um chato gosta. Tem planilha,
calendário, cálculo de tempo, de ritmo, de inclinação acumulada, limiares
aeróbicos e anaeróbicos, microciclo, mesociclo, macrociclo, e mais uma infinidade
de expressões, índices, fórmulas que permitem ao ser humano realizar a segunda
atividade motora mais comum após a caminhada; a corrida.
De todo esse emaranhado de
informações, ficarei apenas com o calendário, pois, na minha opinião, é a
informação mais importante. Afinal, esse calendário vai determinar quais as
provas que eu participarei e, consequentemente, o quanto de treino eu devo
fazer para chegar bem, trincando, nesses eventos. Além disso, sabendo quais as
provas que participarei, posso estimar os custos, que vão de pares de tênis, inscrições
para as corridas, transporte e hospedagem para as provas fora da cidade. "Boring"!!
Não tem jeito, independentemente
do seu objetivo, corrida envolve planejamento, cronograma, programação e o
corredor deve ser chato o suficiente para cumprir esse planejamento à risca. Por
essa razão é importante programar-se previamente, identificar as competições
alvo e estabelecer o tempo que terá disponível para realizar os treinamentos, caso
contrário, qualquer objetivo na corrida, sem preparação adequada, não passa de “sonho de corredor”. E, eventualmente,
esses sonhos acabam com o corredor sentado no meio fio chorando de dor. Deus me
livre... “pé de pato magalô treis veis”!
Assim, todos os anos, logo no
início do ano, ou mesmo antes disso, preparo o meu calendário, destacando as
corridas da seguinte forma: as provas que
preciso correr, as provas que gostaria
de correr e as provas que posso
correr
As provas que preciso correr
são aquelas nas quais eu foco o meu objetivo na temporada. Por exemplo, em
2017, o meu objetivo principal na corrida de rua é concluir a minha segunda
maratona. O tempo de conclusão agora não é importante, vou deixar esse número
para quando iniciar os treinamentos, de modo que eu tenha uma expectativa
realista. Nada de sonho de corredor aqui!
Na corrida em trilha, o meu objetivo é voltar Ao XTerra de Ilhabela e realizar
os mais de 20 km do Half Trail Run. Dessa vez, com um pouco mais de experiência
e conhecimento espero curtir muito mais o evento. Sem tempo definido, o
objetivo é cruzar a linha de chegada, cansado, mas, com um sorriso no rosto.
Já as provas que gostaria de correr
são aquelas secundárias. São provas que quero correr, seja pelo desafio, seja
pela beleza percurso, ou ainda, pela viagem, mas, só correrei se não atrapalharem o
meu cronograma de treinamentos para as provas
que preciso correr e desde que eu tenha tempo e dinheiro disponível para realiza-las.
Sim, vivemos tempos de crise! Estão nesse balaio a Meia Maratona do Rio, a
Volta da Pampulha, Xterra de Paraty e, ao menos 02 etapas da Copa Paulista de
Corridas de Montanha.
Por fim, o meu calendário tem as provas
que eu posso correr. São aquelas corridas que aparecem de última hora
na programação, mas, como não dependem de nenhuma preparação específica, podem
ser realizadas sem problemas. São aquelas corridas nas quais eu ganho inscrição
ou vou acompanhar alguém durante o percurso, ou ainda, vou fazer o percurso da
prova como “pipoca”, sem inscrição. Essas provas não envolvem nenhum
planejamento prévio, ou treinos específicos. É só chegar e correr mesmo.
Enfim, em outros tempos, logo
quando comecei, corria toda e qualquer prova disponível, competia domingo sim,
domingo não, mas, acho que meu corpo pagou um preço por isso. Hoje, passados
mais de dez anos, com mais experiência, não vejo necessidade nessa caça por
competições, não estou tão focado em performance. A corrida assumiu em minha
mente um caráter quase que meditativo, no qual deixo os pensamentos surgirem e
se afastarem enquanto corro e observo as reações de meu corpo. Quando quero aproveitar alguma nova
experiência em corrida, simplesmente mudo o local do treino, ou mudo o horário,
ou mudo o percurso. Quando termina não tem linha de chegada ou medalha, mas, o regozijo, aquele
sentimento de dever cumprido, acreditem, é bem parecido.
Por hoje é só, pessoal!
Com ou sem planejamento, tenham uma semana corrida!
Playlist:
A minha playlist de hoje é um pouco
diferente. Indico o livro “Do que eu falo quando falo de corrida” do Haruki Murakami. Obviamente, o livro é sobre corrida, mas, no caso
não é um desses manuais de treinamento, cheios de termos técnicos, científicos.
É apenas a corrida de longa distância observada do ponto de vista do corredor.
No caso, esse corredor é próprio Murakami que é adepto da corrida há muitos anos, tem dezenas de maratonas no currículo e, melhor de tudo, é um renomado escritor e
começou a correr após os 30 anos, como eu. Identificação imediata com o livro e
autor.
Para quem não está acostumado a
ler, a boa notícia é que o livro não é extenso. Eu li toda a obra de “uma
sentada” só. A quem interessar segue o link da cópia do livro no Google
Drive https://drive.google.com/open?id=0B0KnEqKPipLJQzNrN0tFMHg4Q3c
Que esse livro, disponibilizado,
gratuitamente, seja o primeiro de muitos que vocês leiam em 2017. As nossas
editoras e livrarias estão fechando por falta de consumidores, os presídios estão
superlotando e políticos e líderes religiosos estão enriquecendo. Algo de
estranho acontece.
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