Caros leitores, a bola de 2017
começou a rolar nesse final de semana com a rodada de abertura dos torneios
estaduais espalhados pelo país. Mas, foi um comunicado da Fifa, entidade
organizadora do futebol internacional, que causou os debates mais acalorados nas
Rádios Peão e Balcão, de onde esse blogueiro, orgulhosamente, tira a inspiração
para os seus textos.
Pra quem não está atualizado
sobre o ocorrido, a Fifa, organização que tem alguns de seus dirigentes presos
e investigados por tudo quanto é picaretagem na organização de eventos
esportivos, afirmou que reconhece como campeões mundiais interclubes somente
aqueles que venceram o seu torneio, disputado a partir do ano 2000.
Pronto. Foi o que bastou para uma
onda de gozações e agressões entre torcedores ganhasse corpo. Foi um tal de
colorado tirando sarro de gremista, de corintiano tirando sarro de palmeirense
e de anti-flamenguistas tirarem sarro dos rubro-negros. A gozação, como tem
sido frequente, virou bate boca, que logo virou agressão, xingamento e bloqueio
nas redes sociais.
Mais uma vez, amigos, brigamos
pelos motivos errados. A Fifa está correta ao valorizar o seu torneio
interclubes. Afinal, esse é o seu produto. Justíssimo. Pessoalmente, acho um
torneio grandioso demais, enfadonho e não vejo, sequer, o mérito esportivo em
reunir clubes campeões intercontinentais, como se um título do torneio da
Oceania pudesse valer a mesma coisa que um título de Liga dos Campeões ou de
uma Libertadores. Mas, enfim, essa é apenas uma opinião.
Alguns dirão que os torneios
intercontinentais disputados entre Europa e América do Sul não valem como mundial,
pois, as outras confederações continentais não estavam representadas. Ora, meu
amigo, se o argumento fosse válido, as Copas do Mundo de 1958 e 1962, ganhas
pela Seleção Brasileira, não poderiam ser consideradas como títulos mundiais,
na medida em que só existiam representantes da Europa e das Américas, que eram
os dois continentes com o futebol mais competitivo e organizado.
Outros sustentarão que somente a
Fifa, organizadora do futebol mundial, poderia conferir o título mundial aos
clubes. Eu até aceito o argumento, mas, obviamente, não concordo. A Fifa foi
fundada no início do século XX e, mesmo sediada na Europa, e podendo acompanhar
de camarote as turnês vitoriosas que clubes tradicionais sul-americanos, como o
Santos, o Botafogo, o River Plate e o Peñarol realizaram no Velho Continente, nunca
se interessou por realizar um torneio mundial.
Pra falar a verdade, no pós
guerra, a ideia de um Mundial interclubes ganhou força entre sul-americanos e europeus.
Vários torneios foram criados com o propósito de medir forças entre as duas maiores
escolas de futebol, com fórmulas bem parecidas; sempre com metade de clubes
europeus e metade de sul-americanos. Como exemplo, tivemos a “Pequeña Copa del Mundo de Clubes”, o “Tournoi de Paris” e, lógico, a “Copa Rio”. Entretanto, nem europeus, nem
sulamericanos realizavam torneios continentais que pudessem credenciar equipes
para a disputa de um torneio mundial. O mérito esportivo daqueles torneios
restava comprometido, pois, os clubes participantes eram meramente convidados.
Com a criação da Copa dos Clubes
Campeões da Europa (atual Liga dos Campeões), em 1955, o Velho Continente já tinha
condições de apresentar ao mundo o seu melhor time. Faltava a América do Sul.
Para se ter uma idéia da dificuldade de se criar uma competição
intercontinental definitiva, o Brasil, então campeão do mundo em 1958, não
tinha sequer um campeonato nacional. A solução foi dada num ajuste da
cartolagem para a criação da Taça Brasil, em 1959, meramente classificatória
para a Taça Libertadores e Taça Intercontinental, ambas criadas no ano
seguinte, em 1960, que tinham como objetivo titular a melhor equipe do
continente sul-americano e a melhor equipe do mundo, respectivamente.
Inicialmente, entre os anos de
1960 a 1979 os confrontos intercontinentais eram realizados em jogos de ida e
volta. Entretanto, os países sul-americanos, socialmente conturbados e,
politicamente, comandados por governos militares, ditatoriais e que insuflavam o
nacionalismo na sua forma mais cafajeste, abusaram da violência nos jogos
disputados em seus domínios, motivando a desistência de vários campeões europeus
e o esvaziamento da competição, a ponto de o torneio de 1979 ser disputado
entre o paraguaio Olímpia e o Malmöe, da Suécia, num estádio sueco às moscas.
A solução foi realizar a disputa em campo neutro. O local escolhido foi o Japão. Desta forma, desde 1980 a Copa Intercontinental passou a ser disputada em jogo único, com o apoio financeiro de uma multinacional de origem japonesa; a Toyota. Com segurança, estrutura e, principalmente, dinheiro, a competição sobreviveu por mais duas décadas. E, todos os anos o campeão levava duas taças pra casa; a da Copa Intercontinental, concedida pela Uefa e Conmebol e a da Copa Toyota, concedida pelo patrocinador, além de um veículo zero para o melhor jogador em campo.
A solução foi realizar a disputa em campo neutro. O local escolhido foi o Japão. Desta forma, desde 1980 a Copa Intercontinental passou a ser disputada em jogo único, com o apoio financeiro de uma multinacional de origem japonesa; a Toyota. Com segurança, estrutura e, principalmente, dinheiro, a competição sobreviveu por mais duas décadas. E, todos os anos o campeão levava duas taças pra casa; a da Copa Intercontinental, concedida pela Uefa e Conmebol e a da Copa Toyota, concedida pelo patrocinador, além de um veículo zero para o melhor jogador em campo.
Assim, independente do que diz o
comunicado da Fifa, a Copa Intercontinental foi, desde 1960 o
único torneio
capaz de medir forças entre as duas maiores escolas do futebol mundial; a
Europa, onde o jogo foi criado e organizado e a América do Sul, onde o jogo
ganhou em improviso, criatividade e espontaneidade. A junção dessas duas formas
diferentes de ver e viver o futebol, tornaram esse jogo uma paixão mundial,
inspirando a criação e o crescimento de clubes de futebol na África, na Ásia,
nas Américas Central e do Norte e na Oceania. Reconhecer a importância mundial
desses torneios seria o mínimo a fazer, mas, infelizmente, a Fifa optou por
privilegiar a sua marca e coloca-la acima dos interesses do próprio esporte.
Após o infame comunicado da Fifa e
de sua repercussão nas redes sociais, tomei a iniciativa de consultar os sites
do Peñarol, do River Plate e do Feyenoord Roterdã, clubes que ganharam a Copa
Intercontinental. Nenhuma linha, nenhum comentário. Em minha opinião, esse
comunicado só interessa aos brasileiros mesmo, principalmente aos dirigentes, que
de uns anos para cá tentam sobrelevar a importância de algumas taças
empoeiradas da sala de troféus. Ao invés de investir na formação de jogadores,
na qualidade do jogo, a cartolagem brasileira investe dinheiro (e muito!) na
elaboração de dossiês assinados por historiadores, pesquisadores e jornalistas,
com o único propósito de conseguir um carimbo, um selo de importância num
título ganho no passado.
Em suma, todo título é parte da
história do clube e cada título tem a sua importância, de acordo com o seu
momento histórico. Duvido, sinceramente, que para um corintiano de seus 60 ou
70 anos, o Mundial da Fifa, em 2000, seja mais importante que o título paulista
de 1977. Ou então que um torcedor do Palmeiras da mesma idade considere o
título da Copa do Rio de 1951 mais importante que qualquer título estadual
conquistado pela Academia nos anos 1960 e 1970 sobre o Santos. Duvido! O
momento histórico faz toda a diferença.
Sou são paulino! E, a despeito de
qualquer comunicado da Fifa, em minha opinião, o título mais importante da
história do São Paulo foi o MUNDIAL de 1992, no Japão, contra o Barcelona, com
direito à entrega das chaves do carro ao Raí. Até ganhamos um Mundial da Fifa,
em 2005, foi muito legal, comemorei bastante, também, mas, nada se compara a
ganhar aquele MUNDIAL de 1992, com o time que tínhamos naquela época, vencendo
o Barcelona, comandado pelo Cruyiff. Enfim, não é o carimbo dessa ou daquela
entidade que faz a importância do título. A importância da conquista pode ser
medida num sorriso espontâneo que nós, torcedores, damos sem querer, quando as
memórias daquele título invadem a nossa mente, exatamente, como esse meu
sorriso ao lembrar daquele gol de falta do Raí, em 1992... Que golaço!!
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