quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Essa tal de São Silvestre - 1ª Parte


O meu primeiro contato com a Corrida de São Silvestre veio na noite de 31 de dezembro de um ano que eu já nem me recordo qual. Foi em frente à televisão, assistindo àquela massa de gente correndo por ruas mal iluminadas do Centro de São Paulo. Aquele ano foi especial. Um corredor brasileiro cruzava a linha de chegada na primeira colocação após um longo período de vitórias de atletas estrangeiros. Seu nome: José João da Silva. Nos anos seguintes acompanhei as vitórias de João da Mata, dos campeoníssimos portugueses Rosa Mota e Carlos Lopes, do equatoriano Rolando Vera, entre outros atletas internacionais, que chegavam na Avenida Paulista já com os fogos de artifício iluminando o céu e assustando os cachorros.


Nos anos 1990, resolveram incluir a São Silvestre no calendário de provas internacionais, favorecendo a participação dos melhores corredores de rua profissionais. Primeiro, alteraram o horário da largada da prova para o período vespertino, a fim de permitir uma melhor qualidade na transmissão televisiva. Depois, aumentaram o percurso, que passou de 8 km para 12 km e uns quebrados e, logo após, saltou para 15 km, para atender às regras da Federação Internacional. A premiação também aumentou e atletas da África Oriental, sobretudo quenianos e etíopes, começaram a desembarcar por aqui. Foi a época de Simon Chernwoiywo e do gigante Paul Tergat. Nessa época, também, abandonei a telinha da TV e passei a acompanhar a corrida in loco, num ponto pra lá de estratégico na temida subida da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio. Acredito que tenha sido ali, assistindo ao esforço dos atletas amadores, que eu assumi o compromisso de, um dia, correr a Corrida de São Silvestre.


Promessa pode até ser dívida, mas, não precisa ser paga na hora. Corri a minha primeira São Silvestre somente no ano de 2006. Já tinha algumas provas no currículo, entre as quais, uma Meia Maratona do Rio (21km). Assim, naquele primeiro ano nem considerei a São Silvestre um evento tão importante assim. Encarei os 15km, com chuva durante todo o percurso, sem sequer olhar para o lado. Se passei por algum atleta fantasiado, nem me lembro. Eu estava concentrado demais no desempenho, na altimetria do percurso, no ritmo e na localização dos postos de hidratação, para atentar para esses pormenores. Assim, corri a primeira São Silvestre como se tivesse correndo a décima, a vigésima, sem realizar a grandiosidade e a história do evento.

A ficha caiu somente em 2008. Estava lá no meio daquele mar de gente, aguardando a largada da prova, como estive dois anos antes. Preocupado com o forte calor, com o meu posicionamento na largada, com o ritmo que eu iria fazer o primeiro terço de prova, então, me deparo com um rapaz, aos prantos, logo ali ao lado. Ele era um daqueles personagens de histórias de superação que a gente normalmente assiste aos domingos no Esporte Espetacular, sem dar grande importância, seja pela distância que temos do protagonista, seja nítida intenção do programa em arrancar lágrimas de nossos olhos. No caso, o personagem estava bem ali, na minha frente e a ausências de luzes, filtros, edição e trilha sonora deixavam claro que a sua emoção não era desmedida.


O rapaz em questão, após conviver com a obesidade por longos anos, foi obrigado a perder um caminhão de peso para obter o mínimo de qualidade em sua vida e até mesmo para evitar o óbito precoce. Ele perdeu quase que metade do seu peso corporal e, como incentivo durante todo o processo de emagrecimento, prometeu a si mesmo que caso alcançasse o seu objetivo correria a Corrida de São Silvestre. Estar ali aguardando a largada da corrida era mais que a realização de um sonho; era a celebração da vida, uma festa de renascimento. As lágrimas inundaram os seus olhos quando o sistema de som do evento começou a executar a música doVangelis
Abraços!



Sprints da semana

Playlist:

A primeira dica musical da semana pra embalar um treino mais “pegado” é uma porrada da Nação Zumbi, chamada “Meu Maracatu Pesa uma Tonelada”, do álbum homônimo da banda, lançado no ano de 2002 que o leitor pode ouvir aqui.


A segunda dica pra rechear a seleção musical daquele treino longo de final de semana não é apenas uma música, mas, um álbum inteiro. Vale a pena baixar e ouvir a trilha sonora do filme “Into the Wild”, composta pelo Eddie Vedder (Pearl Jam). Músicas simples, bonitas e com letras inspiradoras. Fica aqui uma pequena mostra.





   

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