O meu primeiro contato com a
Corrida de São Silvestre veio na noite de 31 de dezembro de um ano que eu já
nem me recordo qual. Foi em frente à televisão, assistindo àquela massa de
gente correndo por ruas mal iluminadas do Centro de São Paulo. Aquele ano foi
especial. Um corredor brasileiro cruzava a linha de chegada na primeira
colocação após um longo período de vitórias de atletas estrangeiros. Seu nome:
José João da Silva. Nos anos seguintes acompanhei as vitórias de João da Mata,
dos campeoníssimos portugueses Rosa Mota e Carlos Lopes, do equatoriano Rolando
Vera, entre outros atletas internacionais, que chegavam na Avenida Paulista já
com os fogos de artifício iluminando o céu e assustando os cachorros.
Nos anos 1990, resolveram incluir
a São Silvestre no calendário de provas internacionais, favorecendo a
participação dos melhores corredores de rua profissionais. Primeiro, alteraram
o horário da largada da prova para o período vespertino, a fim de permitir uma
melhor qualidade na transmissão televisiva. Depois, aumentaram o percurso, que
passou de 8 km para 12 km e uns quebrados e, logo após, saltou para 15 km, para
atender às regras da Federação Internacional. A premiação também aumentou e
atletas da África Oriental, sobretudo quenianos e etíopes, começaram a
desembarcar por aqui. Foi a época de Simon Chernwoiywo e do gigante Paul
Tergat. Nessa época, também, abandonei a telinha da TV e passei a acompanhar a
corrida in loco, num ponto pra lá de
estratégico na temida subida da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio. Acredito que tenha
sido ali, assistindo ao esforço dos atletas amadores, que eu assumi o compromisso
de, um dia, correr a Corrida de São Silvestre.
Promessa pode até ser dívida,
mas, não precisa ser paga na hora. Corri a minha primeira São Silvestre somente
no ano de 2006. Já tinha algumas provas no currículo, entre as quais, uma Meia
Maratona do Rio (21km). Assim, naquele primeiro ano nem considerei a São
Silvestre um evento tão importante assim. Encarei os 15km, com chuva durante
todo o percurso, sem sequer olhar para o lado. Se passei por algum atleta
fantasiado, nem me lembro. Eu estava concentrado demais no desempenho, na
altimetria do percurso, no ritmo e na localização dos postos de hidratação,
para atentar para esses pormenores. Assim, corri a primeira São Silvestre como
se tivesse correndo a décima, a vigésima, sem realizar a grandiosidade e a
história do evento.
A ficha caiu somente em 2008. Estava
lá no meio daquele mar de gente, aguardando a largada da prova, como estive
dois anos antes. Preocupado com o forte calor, com o meu posicionamento na
largada, com o ritmo que eu iria fazer o primeiro terço de prova, então, me
deparo com um rapaz, aos prantos, logo ali ao lado. Ele era um daqueles
personagens de histórias de superação que a gente normalmente assiste aos
domingos no Esporte Espetacular, sem dar grande importância, seja pela
distância que temos do protagonista, seja nítida intenção do programa em arrancar
lágrimas de nossos olhos. No caso, o personagem estava bem ali, na minha frente
e a ausências de luzes, filtros, edição e trilha sonora deixavam claro que a
sua emoção não era desmedida.
O rapaz em questão, após conviver
com a obesidade por longos anos, foi obrigado a perder um caminhão de peso para
obter o mínimo de qualidade em sua vida e até mesmo para evitar o óbito
precoce. Ele perdeu quase que metade do seu peso corporal e, como incentivo
durante todo o processo de emagrecimento, prometeu a si mesmo que caso
alcançasse o seu objetivo correria a Corrida de São Silvestre. Estar ali
aguardando a largada da corrida era mais que a realização de um sonho; era a
celebração da vida, uma festa de renascimento. As lágrimas inundaram os seus
olhos quando o sistema de som do evento começou a executar a música doVangelis
Abraços!
Sprints da semana
Playlist:
A primeira dica musical da semana
pra embalar um treino mais “pegado” é uma porrada da Nação Zumbi, chamada “Meu
Maracatu Pesa uma Tonelada”, do álbum homônimo da banda, lançado no ano de 2002
que o leitor pode ouvir aqui.
A segunda dica pra rechear a
seleção musical daquele treino longo de final de semana não é apenas uma
música, mas, um álbum inteiro. Vale a pena baixar e ouvir a trilha sonora do
filme “Into the Wild”, composta pelo Eddie Vedder (Pearl Jam). Músicas simples,
bonitas e com letras inspiradoras. Fica aqui uma pequena mostra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário