segunda-feira, 12 de setembro de 2016

XTERRA ILHABELA: Uma aventura na Mata Atlântica (1ª Parte)


Corro. Gosto de correr. Sou um daqueles caras que você provavelmente já encontrou, logo de manhazinha, na volta da balada, de shorts e camiseta, com passos apressados, correndo, sabe-se lá pra onde, sabe-se lá porquê. Sim, sou um corredor de rua. Nem lembro bem o motivo de ter iniciado. Acho que foi a simplicidade da coisa toda, o fato de não precisar de time, regras, equipamentos caros e, sobretudo, não precisar de habilidade. Basta disposição, disciplina e um bom par de tênis e voilá; eis um corredor!


Nos últimos 10 anos a corrida de rua tem feito parte da minha vida. Entre idas, vindas e pausas, já acumulei mais de um milhão de quilômetros em competições e outros tantos milhões em treinos. 5 km... 10km... 15km... 21km... 42km... Não penso em parar. Faço porque a corrida me acalma, desestressa, ajuda a clarear a mente e, ao mesmo tempo, desafia o meu corpo a ser mais rápido, a ir mais longe, a enfrentar as dificuldades. Mente e corpo. Posso dizer que a corrida é a experiência mais espiritual da minha vida.

Nunca gostei muito de correr em parques, esteiras, pistas e ambientes fechados. Gosto da rua, do asfalto, da cidade e seus ruídos característicos. Nascido e criado em São Paulo, meu calçadão é qualquer calçada dessa metrópole. Eis que em algum momento, caros leitores, o asfalto, os semáforos as buzinas dos carros, as luzes dos postes e o latido do cachorro já não são mais suficientes para o desafio da corrida. É preciso ir além, aumentar a dificuldade. Aumenta a dose dessa endorfina. Corrida é vício, bebê!  

Corremos, então, atrás de provas diferentes, exóticas, festivas. Tudo pra alimentar esse vício. Acho que foi por isso que eu me inscrevi no XTERRA ILHABELA. É lógico que passar um final de semana num dos lugares mais belos do Brasil não pode ser considerado algo ruim, mas, correr 22 km, por trilhas, matas, riachos, estradas de terra batidas, ruas de paralelepípedo e, tudo isso em subida. Ah, meus amigos, isso é vício.

Ilhabela é um dos lugares mais lindos que já conheci. Águas cristalinas, praias quase desertas, paradisíacas. Os olhos desse blogueiro ficaram inchados de tanta belezura que testemunharam. Recomendo a visita a todos os amigos. Vale cada centavo. Bem, como o Patativa ainda não é um blog de turismo, passo ao relato do que foi o XTERRA ILHABELA.

Largada:

O XTERRA é um evento esportivo gigantesco e muito bem organizado. Num final de semana, foram realizadas competições de natação em mar aberto, triatlo, mountain bike e duas corridas em trilha: uma de 9 km e a outra de 22 km. Claro que esse blogueiro, com os seus zilhões de quilômetros rodados e mais outros cem anos de experiência, inscreveu-se na corrida mais longa.

A largada da prova estava prevista para o sábado às 08 horas da manhã. De cara observo que muitos corredores vestiam as suas mochilas de hidratação (Hidrobag), que nada mais é do que uma mochila com um reservatório embutido de água. Li no Manual do Atleta que a organização dispunha de 03 postos de hidratação. Quase 01 posto de hidratação a cada 07 quilômetros. Nas minhas contas era mais do que suficiente. Confesso que achei esse desfile de hidrobags  bem exagerado. 

Levei apenas 03 sachês de gel carboidrato e 02 bananinhas Paraibuna
; o melhor repositor energético do mercado. A confiança foi aumentando na medida em que, no pórtico de  largada, estavam apenas algumas centenas de corredores. Comparado às grandes corridas de rua, em São Paulo, estavam apenas alguns “gatos pingados”. Cheguei até a pensar em pódio, Top 10, Top 20...

Começou. Dada a largada o ritmo era muito leve, um trote cadenciado por ruas e vielas no centro da cidade. Apesar do sol forte e do calor, estava tudo sob controle. Primeiros metros e os meus colegas de corrida estão rindo, contando piadas, tirando sarro de um Pokémon que apareceu sabe-se lá de onde. Sério, tinha um cara fantasiado de Pokémon na corrida. Enfim, até então alto astral, como costumam ser todas as corridas.


Com aproximadamente 1 Km percorrido, começamos a subir a (s) montanha (s). Primeiro uma subidinha leve com paralelepípedos, depois outra de terra batida e uma terceira, também, de paralelepípedos. Nessa última vejo boa parte dos meus colegas caminhando. Eu subo correndo, como manda a tradição da rua. Afinal, caminhar na subida é pra quem está destreinado, correto? E o calor vai aumentando. No final da subida entramos numa trilha no meio da mata. Trilha fechada, a tal da “single track”. Todos correndo em fila indiana. Falta firmeza ao terreno, falta convicção aos meus pés.

Escorrego numa escadinha de trilha, daquelas construídas por caiçaras, mas, não caio, é só o susto. No meio da mata o calor é insuportável. Imagine correr numa sauna. Pois bem, correr na Mata Atlântica é um pouco pior que isso. Começo a pingar suor da cabeça aos pés. – É, até que um gole d’agua não faria mal.   

Essa parte da prova termina numa parede surpreendente no meio da mata. Um escadão de 7 ou 8 metros de altura com degraus altos e escorregadios que forçam a minha primeira caminhada. Mas, aí, realmente, não há como correr. Chego molhado no final desse trecho de mata, com uma descida revigorante numa estrada de terra batida. Fora da mata minha pele respira e chego são e salvo no primeiro posto de hidratação. O copinho já vem aberto, poupando um pouco do trabalho. A água evapora na goela. Esse negócio de correr na trilha começa a ficar emocionante!  

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