Corro. Gosto de correr. Sou um
daqueles caras que você provavelmente já encontrou, logo de manhazinha, na
volta da balada, de shorts e camiseta, com passos apressados, correndo, sabe-se
lá pra onde, sabe-se lá porquê. Sim, sou um corredor de rua. Nem lembro bem o
motivo de ter iniciado. Acho que foi a simplicidade da coisa toda, o fato de
não precisar de time, regras, equipamentos caros e, sobretudo, não precisar de
habilidade. Basta disposição, disciplina e um bom par de tênis e voilá; eis um
corredor!
Nos últimos 10 anos a corrida de
rua tem feito parte da minha vida. Entre idas, vindas e pausas, já acumulei
mais de um milhão de quilômetros em competições e outros tantos milhões em
treinos. 5 km... 10km... 15km... 21km... 42km... Não penso em parar. Faço
porque a corrida me acalma, desestressa, ajuda a clarear a mente e, ao mesmo
tempo, desafia o meu corpo a ser mais rápido, a ir mais longe, a enfrentar as
dificuldades. Mente e corpo. Posso dizer que a corrida é a experiência mais
espiritual da minha vida.
Nunca gostei muito de correr em
parques, esteiras, pistas e ambientes fechados. Gosto da rua, do asfalto, da
cidade e seus ruídos característicos. Nascido e criado em São Paulo, meu
calçadão é qualquer calçada dessa metrópole. Eis que em algum momento, caros
leitores, o asfalto, os semáforos as buzinas dos carros, as luzes dos postes e
o latido do cachorro já não são mais suficientes para o desafio da corrida. É
preciso ir além, aumentar a dificuldade. Aumenta a dose dessa endorfina.
Corrida é vício, bebê!
Corremos, então, atrás de provas
diferentes, exóticas, festivas. Tudo pra alimentar esse vício. Acho que foi por
isso que eu me inscrevi no XTERRA ILHABELA. É lógico que passar um final de
semana num dos lugares mais belos do Brasil não pode ser considerado algo ruim,
mas, correr 22 km, por trilhas, matas, riachos, estradas de terra batidas, ruas
de paralelepípedo e, tudo isso em subida. Ah, meus amigos, isso é vício.
Ilhabela é um dos lugares mais lindos
que já conheci. Águas cristalinas, praias quase desertas, paradisíacas. Os
olhos desse blogueiro ficaram inchados de tanta belezura que testemunharam.
Recomendo a visita a todos os amigos. Vale cada centavo. Bem, como o Patativa
ainda não é um blog de turismo, passo ao relato do que foi o XTERRA ILHABELA.
Largada:
O XTERRA é um evento esportivo gigantesco e muito bem organizado. Num final de semana, foram realizadas competições de natação em mar
aberto, triatlo, mountain bike e duas corridas em trilha: uma de 9 km e a outra
de 22 km. Claro que esse blogueiro, com os seus zilhões de quilômetros rodados
e mais outros cem anos de experiência, inscreveu-se na corrida mais longa.
A largada da prova estava
prevista para o sábado às 08 horas da manhã. De cara observo que muitos
corredores vestiam as suas mochilas de hidratação (Hidrobag), que nada mais é
do que uma mochila com um reservatório embutido de água. Li no Manual do Atleta
que a organização dispunha de 03 postos de hidratação. Quase 01 posto de
hidratação a cada 07 quilômetros. Nas minhas contas era mais do que suficiente.
Confesso que achei esse desfile de hidrobags
bem exagerado.
Levei apenas 03 sachês de gel
carboidrato e 02 bananinhas Paraibuna
; o melhor repositor energético do
mercado. A confiança foi aumentando na medida em que, no pórtico de largada, estavam apenas algumas centenas de
corredores. Comparado às grandes corridas de rua, em São Paulo, estavam apenas
alguns “gatos pingados”. Cheguei até a pensar em pódio, Top 10, Top 20...
Começou. Dada a largada o ritmo era muito
leve, um trote cadenciado por ruas e vielas no centro da cidade. Apesar do sol
forte e do calor, estava tudo sob controle. Primeiros metros e os meus colegas
de corrida estão rindo, contando piadas, tirando sarro de um Pokémon que
apareceu sabe-se lá de onde. Sério, tinha um cara fantasiado de Pokémon na corrida.
Enfim, até então alto astral, como costumam ser todas as corridas.
Com aproximadamente 1 Km
percorrido, começamos a subir a (s) montanha (s). Primeiro uma subidinha leve
com paralelepípedos, depois outra de terra batida e uma terceira, também, de
paralelepípedos. Nessa última vejo boa parte dos meus colegas caminhando. Eu
subo correndo, como manda a tradição da rua. Afinal, caminhar na subida é pra
quem está destreinado, correto? E o calor vai aumentando. No final da subida
entramos numa trilha no meio da mata. Trilha fechada, a tal da “single track”.
Todos correndo em fila indiana. Falta firmeza ao terreno, falta convicção aos
meus pés.
Escorrego numa escadinha de trilha, daquelas construídas por caiçaras, mas, não caio, é só o susto. No meio da mata o calor é insuportável. Imagine correr numa sauna. Pois bem, correr na Mata Atlântica é um pouco pior que isso. Começo a pingar suor da cabeça aos pés. – É, até que um gole d’agua não faria mal.
Essa parte da prova termina numa
parede surpreendente no meio da mata. Um escadão de 7 ou 8 metros de altura com
degraus altos e escorregadios que forçam a minha primeira caminhada. Mas, aí,
realmente, não há como correr. Chego molhado no final desse trecho de mata, com
uma descida revigorante numa estrada de terra batida. Fora da mata minha pele
respira e chego são e salvo no primeiro posto de hidratação. O copinho já vem
aberto, poupando um pouco do trabalho. A água evapora na goela. Esse negócio de
correr na trilha começa a ficar emocionante!
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