Olá leitores!
Já que tivemos dois eventos automobilísticos dignos de nota
esse final de semana, vamos começar com o menos importante e terminar com o
mais importante. Então vamos para o (a meu ver incorretamente batizado) GP da
Europa, no Azerbaijão. O quê? Onde? É, uma daquelas republicas que se separaram
após a implosão da União Soviética, às margens do Mar Cáspio, em uma região que
apenas poucos mapas situam como Europa, com a maioria o classificando (mais
corretamente, a meu ver) como Ásia. Enfim, é um lugar montado no dinheiro e é
isso que importa para o Mau Velhinho, então tivemos uma corrida lá na capital
desse país, Baku, esse final de semana.
A data foi cientificamente estudada pela FIA para coincidir
com o final de semana da verdadeira corrida importante desse final de semana,
as 24 Horas de Le Mans (calma, chegarei lá...), de forma que o campeão das 24
Horas do ano passado, Nico Hülkemberg, não pôde defender seu título. Até admito
que achei a pista bonita. Tilke, o Maldito, mesclou a parte nova de Baku (com
uma reta dos boxes simplesmente gigantesca, lembrou o Paul Ricard de antes da
morte do Elio de Angelis e seus 1800m de reta Mistral) com a parte histórica,
passando ao lado do castelo em um trecho absolutamente claustrofóbico (largura
de Mônaco mas com prédios mais altos de ambos os lados) e sem a mais vaga
possibilidade de instalação de uma grua para retirar um possível carro acidentado.
As corridas da GP2 foram caóticas, e havia a expectativa da F-1 ser minimamente
emocionante. Que nada! Definição da corrida em 3 palavras: coisa extremamente
chata. Talvez uma vingança kármica pela escolha da data e por fazerem uma
corrida lá no Baku do mundo, a prova foi tão chata, mas tão chata, que o
narrador da emissora oficial lá pelas tantas se impressionou com um mastro de
bandeira e ficou tecendo comentários sobre o tamanho do mastro (eu, hein...) no
meio da corrida. Lamentável.
O vencedor do GP da Europa na Ásia acabou sendo Nico
Rosberg, que praticamente fez um desfile pela cidade. Largou na frente, após as
primeiras voltas não foi incomodado mais e só teve o trabalho de levar o carro
na ponta até o final. Seu companheiro Lewis Hamilton acabou apenas em 5º,
depois de largar em 10º por conta de um erro na classificação que destruiu a
barra de direção do carro. No meio da corrida reclamou de problema no motor,
que deveria ser corrigido por conta da alteração de parâmetros de configuração
eletrônica. A Mercedes disse que o Rosberg teve o mesmo problema, mas se teve o
Nico corrigiu rapidamente, ao passo que o Lewis nitidamente teve sérios
problemas para fazer isso (deveria estudar melhor os parâmetros de regulagem do
carro entre uma corrida e outra ao invés de ficar frequentando baladas, mas
enfim...) e reclamou muito da proibição da FIA a respeito dos boxes passarem configurações
via rádio. Como eu acabei de escrever, consta que Rosberg também teve, mas
conseguiu resolver sozinho sem dar pití no rádio.
Em 2º chegou Vettel, dessa vez feliz e sem reclamar de tudo
e de todos como fez no Canadá. Também, dessa vez a Ferrari não o prejudicou na
estratégia... Fez uma corrida consistente, mas nada de espetacular. Seu
companheiro Räikkönen (4º) estava em uma estratégia diferente, e reclamou muito
da punição de 5 segundos por passar sobre a linha branca na entrada dos boxes
(estreitíssima essa entrada, por sinal), da não possiblidade dos boxes
responderem a respeito de dúvidas sobre a configuração do motor e – segundo ele
– da falta de exibição das bandeiras azuis para retardatários. Opinião
estritamente pessoal: os pilotos de F-1 estão extremamente mal acostumados a esse
negócio de bandeira azul. Em tudo quanto é categoria, existem duas bandeiras azuis,
a parada que significa que um carro mais rápido se aproxima e o piloto deverá
ficar atento para uma iminente ultrapassagem, e a agitada que significa, em
resumo, “saia da frente logo, pô!”. Na F-1 hoje em dia a bandeira azul
significa que o piloto da frente tem que OBRIGATORIAMENTE dar a passagem em até
3 curvas após a exibição, a partir daí ele fica sujeito a punição. Simplesmente
ridículo. Isso apenas fomenta o mimimi dessa geração chorona de pilotos.
Em 3º chegou um sorridente Sérgio Pérez, aproveitando que
seu Force India anda muito bem em longas retas e fazendo um trabalho muito bom
na parte nova da cidade. Corridaça do mexicano. Seu companheiro Nico Hülkemberg
(que sinceramente preferia estar em Le Mans do que em Baku, mas enfim...)
terminou apenas em 9º, após um final de semana complicado que envolveu desde
erro na classificação até toque por trás recebido de outro carro. Haja vista as
dificuldades todas, a posição não foi ruim.
Em 6º chegou um Valtteri Bottas com sentimentos opostos.
Estava feliz por ter arrancado tudo o que o carro podia oferecer, mas
nitidamente insatisfeito com o ritmo de corrida da máquina. Ainda que conseguiu
resultado melhor que seu companheiro Massa, que chegou em 10º lugar reclamando
muito de tudo, principalmente dos pneus.
Em 7º e 8º chegou a dupla da Red Bull, respectivamente Daniel
Ricciardo e Max Verstappen. Com carros que destruíam os pneus mais macios à
disposição (mesmo sem ter à disposição a mesma cavalaria da Mercedes), o
resultado deve ser encarado como um bom serviço. Nitidamente não alcançaram o
acerto ideal do equipamento para a nova pista.
Próxima corrida daqui a 2 semanas, no Red Bull Ring, na
Áustria.
Agora vamos ao que realmente interessa: as 24 Horas de Le
Mans. Quem assistiu no sábado a largada com o Brad Pitt participando da
cerimônia de largada, e com outros astros como Jason Statham, Jackie Chan e
Patrick Dempsey (que além de piloto nas horas vagas é dono de equipe de
Endurance), não poderia imaginar que o final da corrida, 24 horas depois, seria
algo que nem os mais “viajandões” roteiristas de Hollywood conceberiam. Estava
tudo traçado para a primeira vitória da Toyota na corrida, Kazuki Nakajima
vinha administrando a vantagem para o Porsche #2 que estava em 2º lugar a cerca
de 30 segundos de distância dele, quando na penúltima volta, na reta
Hunaudiéres, o carro não passava de 180 km/h, sem conseguir passar de 4ª marcha.
A uma volta e meia do final, cerca de 5 minutos antes da bandeirada, uma pane
no Toyota #5 acabou com o sonho japonês de vencer em La Sarthe. Para completar
a crueldade, o regulamento das 24 Horas de Le Mans é um pouco diferente do
restante do campeonato de Endurance, e além da pontuação dobrada na corrida,
você só faz jus à pontuação – e à classificação na corrida – se cruzar a linha de
chegada. E mais: não pode completar a volta em mais de 6 minutos. O Toyota, que
na abertura da última volta parou na reta dos boxes após Nakajima avisar a
equipe que estava sem potência no motor, voltou a andar para completar a última
volta (provavelmente o japonês reiniciou os sistemas eletrônicos do carro na
parada), mas completou a volta em cerca de 11 minutos... na pista foram o 2º colocado,
mas perderam o lugar no pódio por conta do regulamento da corrida. O pódio da
categoria principal (LMP1) acabou ficando com o trio Romain Dumas, Neel Jani e
Marc Lieb (Porsche) em 1º lugar, Stéphane Sarrazin/Kamui Kobayashi/Mike Conway
(Toyota) em 2º e Lucas Di Grassi/Loic Duval/Oliver Jarvis (Audi) em 3º, mesmo com
10 voltas de desvantagem. Nas categorias de GTs, domínio da Ford e da Ferrari,
com a Ford vencendo na LMGTE-Pro (apenas pilotos profissionais) com o carro
capitaneado pelo piloto local (local mesmo, nascido na cidade de Le Mans)
Sébastien Bourdais (sim, aquele mesmo da Champ Car) e a Ferrari vencendo na
LMGTE-Am (profissionais dividindo o carro com um “gentleman driver”).
E a LMP2? Afinal, tinha brasileiro correndo por lá... bom ,
o ótimo Oswaldo Negri chegou em 9º na categoria e 14º na geral, Bruno Senna
acabou em 10º na categoria e 15º na geral e Pipo Derani apenas o 42º na geral.
Mas isso não importa, pois a LMP2 foi palco do maior exemplo de superação
pessoal, de realização de um sonho, que eu vi na vida. Aquele tipo de coisa que
faz você repensar suas atitudes perante o mundo. Em um protótipo Morgan EVO
Nissan adaptado para suas necessidades, o quadriamputado – sim, isso mesmo, ele
teve amputações nos QUATRO MEMBROS após uma septicemia necrosante – Frédéric Sausset
realizou seu sonho de participar das 24 Horas de Le Mans. A organização separou
para a equipe dele o Box 56, tradicionalmente reservado para projetos
experimentais, e sem nenhuma preocupação com desempenho, apenas chegar ao final
da corrida, lá foi ele participar da corrida. Foram instaladas extensões para
ele acionar os pedais com os tocos que sobraram das pernas, e no turno dele o
carro não tinha volante, sendo direcionado por um adaptador preso diretamente
na coluna de direção, movimentado por uma prótese presa ao antebraço direito do
piloto. Um negócio absolutamente fantástico. Como eu relatei, não tinham
pretensão nenhuma de alto desempenho na pista, mas terminaram em um honroso 38º
lugar entre 44 carros que cruzaram a linha de chegada. Diante disso, desculpem,
mas qualquer outro resultado entre os carros LMP2 ficou eclipsado.
Até a próxima!
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