terça-feira, 14 de junho de 2016

A escolha de Tite



Há um clamor para que o Tite, atual treinador do Corinthians, assuma a seleção brasileira. Embora seja considerado um dos maiores treinadores contemporâneos no Brasil, ainda assim não considero o melhor nome. É verdade também que, tirando técnicos estrangeiros, não temos outra opção para o lugar do Dunga. Mas, se Tite é o melhor, qual o motivo de não o achar ideal? Bom, tenho três bons motivos. Considerando os trabalhos feitos no Corinthians, temos: Defensivo, cauteloso e leal. Em alguns aspectos, as três características podem ser excelentes para o desempenho de uma equipe, em outros momentos, não.

O esquema tático do Tite prioriza a questão defensiva. Por esse motivo, as críticas em relação ao desempenho do seu ataque, e consequentemente dos seus atacantes, é contumaz. Tite afirma que o equilíbrio faz os vencedores, portanto sabe da questão ofensiva. Acredita que o sistema ofensivo começa com a posse da bola, que pode acontecer com uma bola roubada no ataque, ou a destruição de uma jogada do adversário na defesa. Assim, a questão ofensiva pode começar com a saída de bola dos zagueiros, laterais e volantes. Por esse motivo, os laterais de Tite quase sempre são os melhores em campo, pois são eles que alimentam o meio de campo e o ataque. Talvez treinos específicos e jogadores melhores salvem a inoperância de Tite no ataque, mas é fato que é o seu tendão de Aquiles.

O segundo aspecto de Tite está em ser cauteloso. Inúmeras vezes os torcedores corintianos se queixaram de ver o time perdendo o jogo e o técnico não movendo uma vírgula sequer do seu esquema tático. Por uma questão pragmática, essa forma estática quase sempre obtém resultados surpreendentes. É visível que o time “não se abala” com resultados adversos. Mas também é o fato da “equipe não conseguir sair de algumas armadilhas táticas dos adversários”. Assim, em alguns momentos, o time treinado por Tite mostra demais sua forma de jogar, pois repete a fórmula independente da competição. Esse esquema inalterado explica os motivos do time ter bons resultados, ser estável, mas mesmo assim não conseguir ganhar clássicos ou jogos eliminatórios. São nesses jogos que a tática deve ser alterada, o comportamento modificado; opções reveladas. Corinthians versus Ituano parece igual Corinthians versus Palmeiras, quando não é.

O terceiro aspecto de Tite tem uma relação com a fidelidade aos nomes que trabalham com ele. Considera que todo jogador tem um potencial que pode não estar sendo explorado, principalmente quando o jogador está em péssima fase. Aconteceu isso recentemente com Vágner Love, quando havia críticas por todos os lados, mas o treinador deixou o jogador em campo, e por inúmeras partidas. Na cabeça do treinador talvez rolasse aquele pensamento: “eu sei que esse cara joga, mostra nos treinamentos, uma hora ele tem que colocar isso em prática”. Essa questão, por exemplo, na seleção brasileira é impossível. Não há tempo para as seguidas chances que Tite dá aos seus comandados.

Os lados negativos apresentados são péssimos para a seleção, embora não seja para os clubes que ele dirigiu, principalmente o Corinthians. Algumas vezes, quando os resultados não acontecem, esse lado defensivo, leal e cauteloso do treinador; são colocados em discussão na boca dos torcedores. Mas, esses mesmos lados negativos, têm suas características positivas, e é por elas que Tite virou unanimidade. Resta saber o quanto o treinador irá mudar quando receber o comando da seleção, e se essas mudanças trarão benefícios a seleção.


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