Desisti de
criticar o futebol brasileiro. Na verdade, desisti de criticar muitas coisas. E
chego à essa conclusão depois de ler a pesquisa sobre o público no brasileirão.
Algo de novo surgiu na cabeça dos torcedores, que andam frequentando como nunca
os nossos estádios. Tudo isso aconteceu em menos de um ano da derrota vexatória
da seleção brasileira para Alemanha numa Copa do Mundo. Lembro-me que naquele
instante vários envolvidos no esporte espernearam na afirmação que alguma coisa
precisaria ser feita para salvar o futebol nacional.
Naquele momento
eu acreditei que havíamos chegado ao final do túnel. Não pela derrota em si,
mas como diz a praxe futebolística em momentos como esse, a derrota não
importa, mas o jeito que fomos derrotados. Então, com o constrangimento daquele
dia, pensei numa revolução que envolveria a base, os clubes, os torcedores, os
dirigentes, jornalistas; empresários e afins. Pensei numa revolução em que
fóruns discutissem como o futebol brasileiro poderia recuperar-se, para daqui
alguns anos, não ficasse tão distante do futebol europeu e de alguns países
latinos. Pois bem, não houve a tal revolução.
E pior, não
houve sequer a aquilo que eu considerava essencial para que o futebol começasse
a mudar: a voz dos torcedores. A voz dos torcedores questionando como o futebol
brasileiro agia. Como ele se preparava. A voz do torcedor, de alguma forma,
fazendo a importância no negócio, no business;
em toda a estrutura. A rentabilidade no negócio o futebol em cheque, colocaria
nos patrocinadores, na mídia e na própria direção das federações, uma pressão
maior por mudanças, por uma forma diferente de fazer a organização do futebol,
não apenas restrito ao registro de jogadores e tabela de campeonato; mas na
base, na formação, na cultura do futebol.
As arenas
lotadas, o campeonato brasileiro prestigiado, tudo isso é um balde de água
gelada no meio sonho por uma revolução.
Vai ver estou
analisando tudo isso de uma forma errada. Será que precisamos de um futebol
brasileiro organizado, planejado e racional? Será que precisamos de um futebol
em que sabemos, do início do campeonato até seu final, quais as regras e como
se dará seu funcionamento? Será que precisamos de clubes estruturados, sem
dívidas, sem jogadores se achando mais do que realmente são? Será que estamos
preparados para um futebol em que o improviso não aconteça, as discussões
vazias fiquem inibidas; um futebol brasileiro sem ter o que reclamar?
Acho que estamos
contentes com a dor, o sofrimento e as lágrimas do futebol. Faz parte do nosso
instinto. Acho que estamos acostumados a viver derrotas tão vexatórias, quanto
vitórias contestáveis. Na derrota vendemos o jogo, na vitória compramos o
árbitro. Assim vai, assim caminha nossa discussão sobre tática, técnica,
preferencial sexual, cor do novo uniforme. Caminha nossa discussão sobre quem é
melhor Pelé ou o mais medíocre camisa dez de qualquer equipe por esse mundo de
amadores. Assim caminha nossa vontade de mudar o futebol.
Queixamo-nos,
enchendo os estádios.
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