quinta-feira, 6 de agosto de 2015

A arquibancada é como a rua no seu cotidiano





Desisti de criticar o futebol brasileiro. Na verdade, desisti de criticar muitas coisas. E chego à essa conclusão depois de ler a pesquisa sobre o público no brasileirão. Algo de novo surgiu na cabeça dos torcedores, que andam frequentando como nunca os nossos estádios. Tudo isso aconteceu em menos de um ano da derrota vexatória da seleção brasileira para Alemanha numa Copa do Mundo. Lembro-me que naquele instante vários envolvidos no esporte espernearam na afirmação que alguma coisa precisaria ser feita para salvar o futebol nacional.

Naquele momento eu acreditei que havíamos chegado ao final do túnel. Não pela derrota em si, mas como diz a praxe futebolística em momentos como esse, a derrota não importa, mas o jeito que fomos derrotados. Então, com o constrangimento daquele dia, pensei numa revolução que envolveria a base, os clubes, os torcedores, os dirigentes, jornalistas; empresários e afins. Pensei numa revolução em que fóruns discutissem como o futebol brasileiro poderia recuperar-se, para daqui alguns anos, não ficasse tão distante do futebol europeu e de alguns países latinos. Pois bem, não houve a tal revolução.

E pior, não houve sequer a aquilo que eu considerava essencial para que o futebol começasse a mudar: a voz dos torcedores. A voz dos torcedores questionando como o futebol brasileiro agia. Como ele se preparava. A voz do torcedor, de alguma forma, fazendo a importância no negócio, no business; em toda a estrutura. A rentabilidade no negócio o futebol em cheque, colocaria nos patrocinadores, na mídia e na própria direção das federações, uma pressão maior por mudanças, por uma forma diferente de fazer a organização do futebol, não apenas restrito ao registro de jogadores e tabela de campeonato; mas na base, na formação, na cultura do futebol.

As arenas lotadas, o campeonato brasileiro prestigiado, tudo isso é um balde de água gelada no meio sonho por uma revolução.

Vai ver estou analisando tudo isso de uma forma errada. Será que precisamos de um futebol brasileiro organizado, planejado e racional? Será que precisamos de um futebol em que sabemos, do início do campeonato até seu final, quais as regras e como se dará seu funcionamento? Será que precisamos de clubes estruturados, sem dívidas, sem jogadores se achando mais do que realmente são? Será que estamos preparados para um futebol em que o improviso não aconteça, as discussões vazias fiquem inibidas; um futebol brasileiro sem ter o que reclamar?

Acho que estamos contentes com a dor, o sofrimento e as lágrimas do futebol. Faz parte do nosso instinto. Acho que estamos acostumados a viver derrotas tão vexatórias, quanto vitórias contestáveis. Na derrota vendemos o jogo, na vitória compramos o árbitro. Assim vai, assim caminha nossa discussão sobre tática, técnica, preferencial sexual, cor do novo uniforme. Caminha nossa discussão sobre quem é melhor Pelé ou o mais medíocre camisa dez de qualquer equipe por esse mundo de amadores. Assim caminha nossa vontade de mudar o futebol.

Queixamo-nos, enchendo os estádios.

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