quarta-feira, 6 de maio de 2015

Treino, paciência e canja de galinha aos boleiros da rede pública estadual

O Patativa, agora, atende a uma vontade narcisista desse blogueiro expor as suas experiências pessoais e voltar no tempo, mais especificamente o ano de 1989. No que diz respeito ao futebol, se o leitor não for vascaíno, o ano em questão não teve nada de significativo, exceção feita ao folclórico jogo de Eliminatórias entre o Brasil e o Chile, no Maracanã, que alçou a fogueteira Rosemery como a grande celebridade.

Fogos de artifício à parte, aciono a máquina do tempo desse DeLorean escrito para falar do maior acontecimento daquele ano: a greve dos professores da rede pública do Estado de São Paulo. Foram oitenta dias de paralisação e ameaças de represálias do governo. A maior greve da história da categoria. Se os professores não ganharam tudo que reivindicavam, ao menos ganharam uma boa parte, com um aumento significativo do piso salarial. Entre os perdedores da paralisação estavam os alunos, entre os quais esse blogueiro, que, presos na "Ilha de Lost" do conhecimento, perderam grande parte do currículo previsto para aquele ano letivo.

Como o regulamento daquela paralisação prejudicou todo mundo, não houve rebaixamento, ninguém repetiu o ano. Na verdade, alguns até repetiram, mas, conseguiram sair da zona da degola no tapetão, por meio de recursos que fugiam à lógica matemática. Se bem que esse é um assunto para uma outra oportunidade.

A greve desse ano já dura mais de 50 dias. É mais longa que o Paulistão, por exemplo. E, como veterano do assunto não posso deixar de dar algumas dicas aos estudantes boleiros para o melhor aproveitamento do tempo disponível:

1 – Treine os fundamentos do jogo – se não tem professor na escola pra ensinar, o jeito é rever aquilo que já foi lecionado. Pode parecer bobagem, num primeiro momento, mas, os espanhóis começaram a ganhar tudo quando começaram a treinar exaustivamente os fundamentos do jogo.

2 – Estude os próximo adversários – o segredo desse jogo é antecipação. O técnico não está dando treino, mas, a tabela do campeonato já é conhecida. Não custa nada ir até uma biblioteca pública pra ler os livros que sempre são exigidos nos vestibulares mais concorridos. O jogo ainda está no começo pra vocês, não tem essa de tocar pro lado.

3 – “Treino secreto” - esse assunto é um pouco polêmico. Nos meus tempos de greve alguns professores, extraoficialmente, iam à escola e ministravam aulas, sem anotação de presença dos alunos. Isso, de maneira alguma, significa furar a greve, mas sim, oferecer aos estudantes uma alternativa para o cumprimento do currículo escolar. Agradeço a todos os Mestres que adotam o “treino secreto” em tempos de greve.

Por fim, um pensamento. A luta dos professores não é somente pela grana, pelo vil metal, mas, por condições profissionais dignas. Algo que todo ser humano almeja. Deus me livre ser professor. Não tenho vocação e nem vontade pra isso, mas, respeito e admiro que utiliza o seu tempo, paciência e carinho pra botar algo que preste na cabeça de um semelhante.

Dois anos após a greve, sofri um bocado pra tentar colocar o currículo escolar em dia para o vestibular tal foi o prejuízo da greve, mas, a luta dos professores na campanha de 1989 permitiu, ao menos, sensível melhoria nas condições de trabalho para os professores, diretores e para os alunos que vieram depois. Infelizmente, no perverso jogo político que nos cerca, tais mudanças somente são possíveis pelo instrumento da greve, da paralisação.


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