Fogos de
artifício à parte, aciono a máquina do tempo desse DeLorean
escrito para falar do maior acontecimento daquele ano: a greve dos
professores da rede pública do Estado de São Paulo. Foram oitenta
dias de paralisação e ameaças de represálias do governo. A maior
greve da história da categoria. Se os professores não ganharam tudo
que reivindicavam, ao menos ganharam uma boa parte, com um aumento
significativo do piso salarial. Entre os perdedores da paralisação
estavam os alunos, entre os quais esse blogueiro, que, presos na "Ilha
de Lost" do conhecimento, perderam grande parte do currículo previsto
para aquele ano letivo.
Como o
regulamento daquela paralisação prejudicou todo mundo, não houve
rebaixamento, ninguém repetiu o ano. Na verdade, alguns até
repetiram, mas, conseguiram sair da zona da degola no tapetão, por
meio de recursos que fugiam à lógica matemática. Se bem que esse é
um assunto para uma outra oportunidade.
A greve
desse ano já dura mais de 50 dias. É mais longa que o Paulistão,
por exemplo. E, como veterano do assunto não posso deixar de dar
algumas dicas aos estudantes boleiros para o melhor aproveitamento do
tempo disponível:
1 –
Treine os fundamentos do jogo – se não tem professor na escola pra
ensinar, o jeito é rever aquilo que já foi lecionado. Pode parecer
bobagem, num primeiro momento, mas, os espanhóis começaram a ganhar
tudo quando começaram a treinar exaustivamente os fundamentos do
jogo.
2 –
Estude os próximo adversários – o segredo desse jogo é
antecipação. O técnico não está dando treino, mas, a tabela do
campeonato já é conhecida. Não custa nada ir até uma biblioteca
pública pra ler os livros que sempre são exigidos nos vestibulares
mais concorridos. O jogo ainda está no começo pra vocês, não tem
essa de tocar pro lado.
3 –
“Treino secreto” - esse assunto é um pouco polêmico. Nos meus
tempos de greve alguns professores, extraoficialmente, iam à escola
e ministravam aulas, sem anotação de presença dos alunos. Isso, de
maneira alguma, significa furar a greve, mas sim, oferecer aos
estudantes uma alternativa para o cumprimento do currículo escolar.
Agradeço a todos os Mestres que adotam o “treino secreto” em
tempos de greve.
Por fim,
um pensamento. A luta dos professores não é somente pela grana,
pelo vil metal, mas, por condições profissionais dignas. Algo que
todo ser humano almeja. Deus me livre ser professor. Não tenho
vocação e nem vontade pra isso, mas, respeito e admiro que utiliza
o seu tempo, paciência e carinho pra botar algo que preste na cabeça
de um semelhante.
Dois anos
após a greve, sofri um bocado pra tentar colocar o currículo
escolar em dia para o vestibular tal foi o prejuízo da greve, mas, a
luta dos professores na campanha de 1989 permitiu, ao menos, sensível
melhoria nas condições de trabalho para os professores, diretores e
para os alunos que vieram depois. Infelizmente, no perverso jogo
político que nos cerca, tais mudanças somente são possíveis pelo
instrumento da greve, da paralisação.
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