Futebol é
escola, aprendizado para a vida. E quem diria que no jogo de ontem a
noite eu receberia uma lição tão preciosa a ponto de desmentir a
sabedoria popular.
De boa
intenção o inferno tá cheio.
Repito
essa frase há quarenta anos e, até ontem, no final do jogo entre
São Paulo e Cruzeiro esse ditado era a expressão máxima do
pragmatismo popular. Afinal, caros leitores, a frase do autor
desconhecido faz todo o sentido. Não basta que as intenções sejam
boas, é fundamental que o resultado seja igualmente bom. Na noite de
ontem, um Morumbi apinhado de gente pôde testemunhar que a frase é
uma bobagem e que o seu autor, esse sim, merecia ir pro inferno.
Explico.
O São
Paulo é um time de jogadores bem intencionados. Não digo aqui do
caráter dos futebolistas, mesmo porque não conheço nenhum deles. O
jogador bem intencionado é aquele que cumpre o plano de jogo do
treinador, mas, executa mal quase todas as funções com a bola nos
pés. A boa intenção não é traduzida em gols ou em jogadas de
efeito. A boa intenção, no campo de jogo, é só suor. E sua porque
não domina a técnica do jogo, não conhece os atalhos do campo. O
Messi não sua. O Cristiano Ronaldo também não. Mas, o jogador bem
intencionado está sempre suando, ofegante, esparramado no chão,
gritando de dor ou de desespero e com o uniforme sujo.
Na noite
de ontem, tínhamos um time de onze homens bem intencionados,
comandados por um treinador interino, igualmente bem intencionado,
enfrentando onze camisas azuis do Cruzeiro. Não vi jogador algum do
time mineiro, apenas as camisas. Acredito que o time ficou em Belo
Horizonte mesmo, assistindo o jogo em algum telão na Savassi.
Mandaram pra São Paulo somente o varal de roupas. Bom, isso não é
um grande problema, afinal, recentemente, assisti derrotas terríveis
do São Paulo para onze baldes, onze cones de sinalização e até
mesmo para onze fogos buscapé.
O time
Tricolor dominou a posse de bola e a marcação no meio campo, desde
o primeiro minuto de jogo. Infelizmente, os nossos meio campistas
eram bem intencionados demais para acertar aquele último passe, a
chamada assistência e, mesmo quando acertavam, os nossos atacantes
eram bem intencionados demais para anotar os gols que poderiam
decretar uma derrota de Scolari às camisas do Cruzeiro. Mas, nada
feito. A bola só podia estar com má intenção, porque até o
árbitro do jogo, um conhecido gatuno sulamericano, parecia que
estava bem intencionado também. Mas, aí acho que num outro sentido.
Quando o
desespero já tomava conta das arquibancadas do Morumbi e a saliva já
escorria do canto da boca desse blogueiro, eis que um dos jogadores
mais bem intencionados em campo, o argentino Centurión, aproveitando
um cruzamento que veio da direita, anotou de cabeça, num mergulho
daqueles que poderia ilustrar a capa do jornal no dia seguinte, se
ainda existisse jornal impresso. O mergulho só não foi mais
acrobático que o salto que esse blogueiro deu da poltrona,
assustado, no despertar de um sono já bem prazeiroso. Mais
importante que isso, foi a queda do mito.
Após o
apito final do árbitro, ninguém mais poderia gritar num campo de
futebol que de boa intenção o inferno tá cheio. O inferno
mencionado na frase, seria a derrota ou até mesmo um empate em casa,
mas, às vezes, num campo de futebol, a boa intenção é suficiente
pra garantir o resultado. E foi exatamente isso que aconteceu. O gol
do argentino bem intencionado, de um time bem intencionado, comandado
por um técnico igualmente bem intencionado levou o São Paulo e a
sua torcida aos céus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário