quinta-feira, 7 de maio de 2015

O bem intencionado


Futebol é escola, aprendizado para a vida. E quem diria que no jogo de ontem a noite eu receberia uma lição tão preciosa a ponto de desmentir a sabedoria popular.


De boa intenção o inferno tá cheio.

Repito essa frase há quarenta anos e, até ontem, no final do jogo entre São Paulo e Cruzeiro esse ditado era a expressão máxima do pragmatismo popular. Afinal, caros leitores, a frase do autor desconhecido faz todo o sentido. Não basta que as intenções sejam boas, é fundamental que o resultado seja igualmente bom. Na noite de ontem, um Morumbi apinhado de gente pôde testemunhar que a frase é uma bobagem e que o seu autor, esse sim, merecia ir pro inferno. Explico.

O São Paulo é um time de jogadores bem intencionados. Não digo aqui do caráter dos futebolistas, mesmo porque não conheço nenhum deles. O jogador bem intencionado é aquele que cumpre o plano de jogo do treinador, mas, executa mal quase todas as funções com a bola nos pés. A boa intenção não é traduzida em gols ou em jogadas de efeito. A boa intenção, no campo de jogo, é só suor. E sua porque não domina a técnica do jogo, não conhece os atalhos do campo. O Messi não sua. O Cristiano Ronaldo também não. Mas, o jogador bem intencionado está sempre suando, ofegante, esparramado no chão, gritando de dor ou de desespero e com o uniforme sujo.

Na noite de ontem, tínhamos um time de onze homens bem intencionados, comandados por um treinador interino, igualmente bem intencionado, enfrentando onze camisas azuis do Cruzeiro. Não vi jogador algum do time mineiro, apenas as camisas. Acredito que o time ficou em Belo Horizonte mesmo, assistindo o jogo em algum telão na Savassi. Mandaram pra São Paulo somente o varal de roupas. Bom, isso não é um grande problema, afinal, recentemente, assisti derrotas terríveis do São Paulo para onze baldes, onze cones de sinalização e até mesmo para onze fogos buscapé.

O time Tricolor dominou a posse de bola e a marcação no meio campo, desde o primeiro minuto de jogo. Infelizmente, os nossos meio campistas eram bem intencionados demais para acertar aquele último passe, a chamada assistência e, mesmo quando acertavam, os nossos atacantes eram bem intencionados demais para anotar os gols que poderiam decretar uma derrota de Scolari às camisas do Cruzeiro. Mas, nada feito. A bola só podia estar com má intenção, porque até o árbitro do jogo, um conhecido gatuno sulamericano, parecia que estava bem intencionado também. Mas, aí acho que num outro sentido.

Quando o desespero já tomava conta das arquibancadas do Morumbi e a saliva já escorria do canto da boca desse blogueiro, eis que um dos jogadores mais bem intencionados em campo, o argentino Centurión, aproveitando um cruzamento que veio da direita, anotou de cabeça, num mergulho daqueles que poderia ilustrar a capa do jornal no dia seguinte, se ainda existisse jornal impresso. O mergulho só não foi mais acrobático que o salto que esse blogueiro deu da poltrona, assustado, no despertar de um sono já bem prazeiroso. Mais importante que isso, foi a queda do mito.

Após o apito final do árbitro, ninguém mais poderia gritar num campo de futebol que de boa intenção o inferno tá cheio. O inferno mencionado na frase, seria a derrota ou até mesmo um empate em casa, mas, às vezes, num campo de futebol, a boa intenção é suficiente pra garantir o resultado. E foi exatamente isso que aconteceu. O gol do argentino bem intencionado, de um time bem intencionado, comandado por um técnico igualmente bem intencionado levou o São Paulo e a sua torcida aos céus.










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