quarta-feira, 25 de março de 2015

Namorando o modernismo – Flertando a tradição

 

Pois bem. Mais um jogo da seleção brasileira. Mais um jogo que poderia ser muito interessante, mas não é. Perdemos o resto de brilho; perdemos a confiança. Ainda há torcedores fanáticos, apaixonados pelo hino nacional, como se ele fosse realmente a cara de um país. Ando me acostumando com a ideia de separar o joio do trigo, o patriotismo do campo de futebol. É difícil, mas não impossível. O jogo da seleção brasileira eu não sei, nem me interesso. Vai ver que estou prestes a aceitar essa nova fase, a Nova Era.

A Nova Era do nosso futebol trará ainda resultados devastadores. O primeiro deles foi o modernismo das famosas arenas. Os conservadores do futebol com cabelo alvoroçado, vendo pouco a pouco ruínas dos velhos estádios de futebol. Depois das modernas arenas pró-copa, depois da quase totalidade reforma do estádio do Palmeiras; eis que agora surge a notícia que o histórico Canindé mudará de rumo. Piadas a parte, não encontrarão o trator enterrado no campo, mas com certeza estão tirando os fantasmas do amadorismo do armário. Uma nova obra pode ficar pronta daqui três anos, com área de conveniência, hotéis, lojas e afins.

É o dinheiro erguendo coisas belas, como diz a música. Dinheiro que é bem-vindo no mundo dos negócios. Mas dinheiro que não se importa tanto com a tradição. Tradição versus modernismo. Vamos chorar pelo Canindé no chão depois da arena pronta? Alguma saudade do Palestra antigo? Nostálgicos não terão vez no futebol brasileiro. Logo sucumbirá os regionais, os clubes menores; tudo que antes era salutar e hoje não é mais. Acabaremos com os tradicionais e centenários clubes pois eles não conseguiram se adaptar ao que o futebol é hoje.

O fim da Portuguesa como é, mostra o símbolo do futebol como será: tradição não ganha jogo, não paga bicho; não amedronta. Valerá para todas equipes, inclusive para seleção brasileira. Mais sorte terá a Lusa, pior será para o Guarani: Brinco de Ouro não vale nada para essa gente, vale apenas para os torcedores; que só podem mesmo lamentar. Corinthians, Palmeiras, Ponte Preta e Santos sobrevivem em suas burocracias e amadorismos graças aos torcedores, que pressionam mudanças; querem o clube no futuro. A seleção brasileira foi abandonada, traída; uma mulher da vida.

Não só o nível técnico levará torcedores para os espetáculos europeus. Não apenas os grandes jogadores, a organização; o nível tático. Os torcedores nascituros quererão os grandes jogos da Espanha, Itália e Alemanha. Torcerão pelos clubes nacionais, mas saberão que o amor será vulnerável. Não mais aquele amor fiel, indiscutível. E tudo isso porque um item explorado inconscientemente pelos torcedores começará a perder força, vantagem; a tradição. O futebol brasileiro ainda respira, pois em nós ainda essa desculpa.

Pode ser um tiro no pé acabar com o passado, mas pode ser a modernização nossa única saída.



Nenhum comentário: