sábado, 6 de dezembro de 2014

30 anos.

“Eu quero votar pra presidente” era uma das frases que tomava conta das faixas na campanha das Diretas Já. 1984 foi um ano de ebulição política e por que não dizer social. Um clima de expectativa e otimismo se intensificava com os últimos dias de ditadura militar.

Na música, o maior fenômeno pop de todos os tempos, Michael Jackson, estava no seu auge, com Thriller, o álbum mais vendido da história.

No futebol, tínhamos o Fluminense de Romerito, e da dupla Washington e Assis como campeão brasileiro. O nacional iniciava, e os campeonatos estaduais encerravam a temporada a partir do segundo semestre. Bem diferente de hoje, os estaduais ainda eram bastante valorizados, e muito competitivos.

Por falar em “Diretas Já”, o Corinthians vivia a chamada fase da “democracia”. O clube talvez contagiado pelo atual momento político do país, e com um jogador como Sócrates que se destacava intelectualmente aos demais, liderava o movimento. Não sei ao certo como isto funcionava internamente no clube, mas todavia os jogadores queriam mais participação e liberdade de decisões tomadas pelo clube e para a sua classe profissional.

Já no Santos, nenhum tipo de movimento revolucionário, pelo contrário. Dificuldades financeiras, e um primeiro semestre ruim com a eliminação da Libertadores ainda na primeira fase. Começou o estadual com uma magra vitória sobre o Comercial: 1x0, gol de Serginho em 1º de julho.

E por falar em momento difícil, o Santos acabou se desfazendo de sua maior revelação após a era Pelé: O meia esquerda Pita numa troca com o São Paulo mandando ao Santos Humberto que jogava na mesma posição e o ponta esquerda Zé Sergio, com as más línguas dizendo que estava “bichado”. Para os são paulinos, talvez uma espécie de troco pelo fato de Serginho (maior artilheiro da história do clube), ter trocado o Morumbi pela Vila Belmiro.

Mas por coisas do futebol, aquele Santos engrenou no segundo semestre. Serginho Chulapa não parava de fazer gols, foi o artilheiro com 16; e os desvalorizados Humberto e Zé Sérgio, passaram a jogar bem e a serem decisivos. Rodolfo Rodríguez, cimentou o gol lá atrás. Tínhamos ainda os zagueiros Gilberto Sorriso, menino da Vila de 1978, e o xerife Márcio Rossini que dava muito trabalho aos jardineiros. O versátil Lino, o “novo Lima” como era apelidado, o mineirinho Paulo Isidoro, o volante Dema e o habilidoso Gersinho, já falecido.

Agora Serginho Chulapa sobre o jogo que decidiu o campeonato paulista naquele ano:

“ Naquele dia, (domingo) acordei um pouco tenso, afinal não era uma partida qualquer, um jogo que valia título, bastante importante. Mas com o passar do tempo fui relaxando. Tivemos um almoço leve com salada de alface, arroz, feijão, bife e purê de batatas. O técnico Castilho fez a preleção e depois fomos para o Morumbi. Quando chegamos ao estádio, a adrenalina foi pra cima quando vi mais de 100 mil torcedores, até mais que os corintianos. A tensão aumentou, mas a confiança era grande.

Apesar de a gente ter sido campeão, digo que dificilmente perderíamos aquele titulo, porque estávamos confiantes e muito determinados. Na semana da decisão, os jogadores do Corinthians tiraram a foto antecipada com a faixa de tricampeão, falavam do título antecipadamente como já tivessem ganho. Isso mexeu muito com a gente. Entramos determinados. Podia jogar até hoje que não iríamos perder. E se o Corinthians estivesse na frente o campeonato não iria acabar, que era o pensamento nosso na época, pois iríamos arrumar confusão. Mas nem precisou disso, pois tínhamos a vantagem do empate e a determinação prevaleceu.”

Fazer o gol em uma decisão foi uma coisa inexplicável. Fui ao delírio mesmo. Quando marquei, sai correndo direto para a torcida. Afinal, não é todo dia que se marca com um estádio lotado. Senti o estádio vibrando. Depois do título foi uma comemoração só. Descemos pra Santos e a cidade parou. Descemos do ônibus e subimos no carro do Corpo de Bombeiros. Naquele dia não comi nada, só bebi cerveja e foram muitas. Cheguei em casa totalmente encharcado às 6 horas da manhã do dia seguinte. Só fui comer alguma coisa na segunda-feira à noite”.

Após as decepções da Copa de 1982 e da perda do título Brasileiro de 1983 para o Flamengo, bastante doídas, finalmente aquele santistinha de 10 anos pode ter uma grande alegria. Provavelmente tenha sido uma espécie de “start” para eu continuar acompanhando o esporte. Caso contrário, talvez teria adotado outra modalidade. Numa política de boa vizinhança, nosso vizinho corintiano veio nos congratular: “O Santos mereceu” parabenizando meu pai. Nem preciso dizer como foi o Natal naquele ano. Afinal, ver seu time campeão pela primeira vez, e ter três meses de férias para curtir, não é todo dia que acontece...


Ficha Técnica:

02/12/1984 – Santos 1 x 0 Corinthians

Gol: Serginho aos 27min do segundo tempo.
Local: Estádio Morumbi
Público: 101.587 pagantes
Renda: Cr$ 419.323.500,00
Árbitro: José de Assis Aragão
Cartões amarelos: Márcio, Humberto, Lino e Mário Sergio; Zenon e Juninho

Santos: Rodolfo Rodriguez; Chiquinho, Márcio, Toninho Carlos e Toninho Oliveira (Gilberto); Dema, Paulo Isidoro, Humberto e Lino; Serginho Chulapa e Zé Sérgio (Mário Sérgio). Técnico: Carlos Castilho.

Corinthians: Carlos; Édson, Juninho, Wagner e Wladimir; Biro-Biro, Dunga, Arturzinho (Paulo César) e Zenon; Lima e João Paulo. Técnico: Jair Picerni




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