“Eu quero votar pra presidente”
era uma das frases que tomava conta das faixas na campanha das Diretas Já. 1984
foi um ano de ebulição política e por que não dizer social. Um clima de
expectativa e otimismo se intensificava com os últimos dias de ditadura
militar.
Na música, o maior fenômeno pop
de todos os tempos, Michael Jackson, estava no seu auge, com Thriller, o álbum
mais vendido da história.
No futebol, tínhamos o Fluminense
de Romerito, e da dupla Washington e Assis como campeão brasileiro. O nacional iniciava, e os campeonatos estaduais encerravam a temporada a partir do segundo semestre.
Bem diferente de hoje, os estaduais ainda eram bastante valorizados, e muito
competitivos.
Por falar em “Diretas Já”, o
Corinthians vivia a chamada fase da “democracia”. O clube talvez contagiado
pelo atual momento político do país, e com um jogador como Sócrates que se
destacava intelectualmente aos demais, liderava o movimento. Não sei ao certo
como isto funcionava internamente no clube, mas todavia os jogadores queriam
mais participação e liberdade de decisões tomadas pelo clube e para a sua classe profissional.
Já no Santos, nenhum tipo de
movimento revolucionário, pelo contrário. Dificuldades financeiras, e um
primeiro semestre ruim com a eliminação da Libertadores ainda na primeira fase.
Começou o estadual com uma magra vitória sobre o Comercial: 1x0, gol de Serginho em 1º de
julho.
E por falar em momento difícil, o
Santos acabou se desfazendo de sua maior revelação após a era Pelé: O meia
esquerda Pita numa troca com o São Paulo mandando ao Santos Humberto que jogava
na mesma posição e o ponta esquerda Zé Sergio, com as más línguas dizendo que
estava “bichado”. Para os são paulinos, talvez uma espécie de troco pelo fato
de Serginho (maior artilheiro da história do clube), ter trocado o Morumbi pela
Vila Belmiro.
Mas por coisas do futebol, aquele
Santos engrenou no segundo semestre. Serginho Chulapa não parava de fazer gols, foi o artilheiro
com 16; e os desvalorizados Humberto e Zé Sérgio, passaram a jogar bem e a
serem decisivos. Rodolfo Rodríguez, cimentou o gol lá atrás. Tínhamos ainda os
zagueiros Gilberto Sorriso, menino da Vila de 1978, e o xerife Márcio Rossini que dava muito trabalho aos jardineiros. O versátil Lino, o “novo Lima” como era apelidado, o mineirinho Paulo Isidoro, o
volante Dema e o habilidoso Gersinho, já falecido.
Agora Serginho Chulapa sobre o jogo que decidiu o campeonato paulista naquele ano:
Agora Serginho Chulapa sobre o jogo que decidiu o campeonato paulista naquele ano:
“ Naquele dia, (domingo) acordei um pouco tenso, afinal não era uma
partida qualquer, um jogo que valia título, bastante importante. Mas com o
passar do tempo fui relaxando. Tivemos um almoço leve com salada de alface,
arroz, feijão, bife e purê de batatas. O técnico Castilho fez a preleção e
depois fomos para o Morumbi. Quando chegamos ao estádio, a adrenalina foi pra
cima quando vi mais de 100 mil torcedores, até mais que os corintianos. A
tensão aumentou, mas a confiança era grande.
Apesar de a gente ter sido campeão, digo que dificilmente perderíamos
aquele titulo, porque estávamos confiantes e muito determinados. Na semana da
decisão, os jogadores do Corinthians tiraram a foto antecipada com a faixa de
tricampeão, falavam do título antecipadamente como já tivessem ganho. Isso
mexeu muito com a gente. Entramos determinados. Podia jogar até hoje que não
iríamos perder. E se o Corinthians estivesse na frente o campeonato não iria
acabar, que era o pensamento nosso na época, pois iríamos arrumar confusão. Mas
nem precisou disso, pois tínhamos a vantagem do empate e a determinação
prevaleceu.”
Fazer o gol em uma decisão foi uma coisa inexplicável. Fui ao delírio
mesmo. Quando marquei, sai correndo direto para a torcida. Afinal, não é todo
dia que se marca com um estádio lotado. Senti o estádio vibrando. Depois do
título foi uma comemoração só. Descemos pra Santos e a cidade parou. Descemos
do ônibus e subimos no carro do Corpo de Bombeiros. Naquele dia não comi nada,
só bebi cerveja e foram muitas. Cheguei em casa totalmente encharcado às 6
horas da manhã do dia seguinte. Só fui comer alguma coisa na segunda-feira à noite”.
Após as decepções da Copa de 1982
e da perda do título Brasileiro de 1983 para o Flamengo, bastante doídas,
finalmente aquele santistinha de 10 anos pode ter uma grande alegria. Provavelmente
tenha sido uma espécie de “start” para eu continuar acompanhando o esporte. Caso
contrário, talvez teria adotado outra modalidade. Numa política de boa
vizinhança, nosso vizinho corintiano veio nos congratular: “O Santos mereceu”
parabenizando meu pai. Nem preciso dizer como foi o Natal naquele ano. Afinal,
ver seu time campeão pela primeira vez, e ter três meses de férias para curtir, não é todo dia
que acontece...
Ficha Técnica:
02/12/1984 – Santos 1 x 0 Corinthians
Gol: Serginho aos 27min do segundo tempo.
Local: Estádio Morumbi
Público: 101.587 pagantes
Renda: Cr$ 419.323.500,00
Árbitro: José de Assis Aragão
Cartões amarelos: Márcio, Humberto, Lino e Mário Sergio;
Zenon e Juninho
Santos: Rodolfo Rodriguez; Chiquinho, Márcio, Toninho Carlos e Toninho Oliveira
(Gilberto); Dema, Paulo Isidoro, Humberto e Lino; Serginho Chulapa e Zé Sérgio
(Mário Sérgio). Técnico: Carlos Castilho.
Corinthians: Carlos; Édson, Juninho, Wagner e Wladimir; Biro-Biro,
Dunga, Arturzinho (Paulo César) e Zenon; Lima e João Paulo. Técnico: Jair
Picerni
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