O futebol sempre teve suas
peculiaridades. Nos estádios, o cidadão comum muitas vezes extravasa o estresse
do dia-a-dia ou suas frustrações. O alvo, geralmente o árbitro ou aquele
jogador que não está em boa fase ou que ele não gosta. Vaias ou xingamentos
de diversos tipos.
O estádio parece um mundo à
parte, onde algumas “regras” ou comportamentos são permitidos ou toleráveis ao
contrário do que ocorre no mundo lá fora.
O público que vai ao estádio
(nome muito mais apropriado que “arena”), mudou bastante de 30, ou que se arraigou de 15 anos para cá. Gradativamente foram acabando com as gerais, depois com as
arquibancadas; substituíram por cadeirinhas para aumentarem o preço (o que é
bom em termos de conforto) e inventaram um padrão de qualidade, com um selo ou
“padrão Fifa”. E não me refiro apenas aos estádios que serviram à Copa.
O público das “arenas”, está cada
vez mais homogêneo. Aquele torcedor com o radinho de pilha colado na orelha com
aquela camisa desbotada do seu time de coração está deixando de existir. Virou um arquivo do
“Canal 100”. Continuam as organizadas, mas esta é uma categoria à parte. São
“profissionais” alimentados pelos clubes, e também é um tema e um caso à parte
(ou até um caso de polícia, se preferirem).
Racismo e preconceito existe em
todas as classes sociais. Inclusive do pobre contra o pobre, do negro contra o
negro, do nativo contra o emigrado, casos específicos e não menos ignorantes que os demais. Mas o que vimos com o goleiro Aranha, denotou um
padrão elitista e bairrista. Uma elite (ou os que pensam como tal) que vive num estado que pensa que é a
Europa. Não à toa estas manifestações coletivas de racismo nos estádios de
futebol aqui no Brasil apareceram primeiro por lá. Copiaram o que espanhóis ou
outros europeus fazem com jogadores brasileiros e imigrantes e acham bonito
isto. Mas se o Rio Grande do Sul se separar do Brasil, abre falência em duas
semanas ou é anexado ao Uruguai.
O estádio deixa de ser uma
“bolha” ou um mundo paralelo podemos assim dizer, quando o personagem, como o
jogador, o árbitro, bandeirinha ou gandula, se transforma no pessoal ou no
social. Não foi o goleiro Aranha (o personagem) o ofendido. As ofensas partiram
para o cidadão Mario Lúcio Duarte da Costa. E como cidadão tem que fazer valer
seus direitos, já que existe uma Constituição para isto.
Na volta de Aranha ao estádio
Olímpico nesta última quinta-feira, vaias para o goleiro e provocações individuais de torcedores.
Permitido no mundo do futebol, apesar do histórico anterior. Provocações com
boa dose de ironia. Tudo bem, desta vez passou. Mas que no próximo Grêmio x
Santos ou vice-versa, o futebol volte a ser o assunto principal, e que manifestações desta monta não ocorram mais.
Um comentário:
Olha, sinceramente, não me interessa o que os compatriotas do Sul pensam que são. A lei está aí pra ser cumprida. Não acredito que exista, hoje, em nossa sociedade, um local onde toda e qualquer manifestação deve ser compreendida ou tolerada. O futebol é um entretenimento e o estádio não é um divã de terapeuta para o torcedor extravasar as suas frustrações exibindo o seu comportamento antissocial. O respeito deve prevalecer. Esse é o tipo de episódio que faz com que eu perca o pouco que me resta de apreço pelo jogo de futebol. Repudio, claro, o comportamento da torcida, dos dirigentes e comissão técnica do Grêmio no episódio. E não gostei da forma como o assunto foi tratado pela maior parte da mídia. Mais uma vez, abdicamos da discussão séria em prol da espetacularização da tragédia humana.
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