sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Não seremos mais os mesmos?



Alguma coisa grave aconteceu. Embora eu ainda não saiba definir exatamente, uma coisa é certa: o futebol em mim não é mais o mesmo. Pode ser que a coisa mude com o passar do tempo, pode ser que daqui alguns dias eu desista dessa bobagem; de querer o futebol brasileiro como algo grandioso, cheio de elogios; os maiores e melhores comentários. Por hora, por meses; quem sabe até o final do ano, tudo é péssimo, desagradável e sem sentido. Perdi o interesse em assistir, torcer e aquilo que mais me preocupa: escrever sobre futebol.

Acho que a gota que faltava foi a humilhação. Às vezes lidamos bem com a derrota, mas a humilhação quase sempre é arrebatadora. Não esperava uma grande exibição da nossa seleção brasileira, mas perder do jeito que foi, contra a Alemanha; não é para qualquer um. Podem até justificar o mal resultado a fatos estranhos ao futebol, teorias conspiratórias ou mesmo politicagem. Para amenizar, podem dizer que a seleção não representa uma nação, que a CBF é coisa e tal; e assim por diante. Mas tanto na alegria, quanto na tristeza; os brasileiros estão vinculados à história da seleção. Por mais que a torcida de alguns tenha sido contra, ainda assim, o brasileiro; em qualquer lugar que esteja, estampará a figura da amarelinha. Bom; passou, chegou; já deu. O assunto seleção brasileira ficará para uma outra oportunidade.

Mas os clubes? O futebol da televisão, aquele do nosso dia-a-dia. Como ele fica? Meu medo era que a seleção brasileira e seu vexame esfriasse também minha relação com o futebol. De certo modo é como abandonar uma paixão na primeira desilusão. Sim, a paixão pelo futebol estremeceu. Ficou abalada. Olhar para o futebol do resto do mundo e perceber que alguma coisa em nós anda errada não é coisa fácil. Pior que a traição é a passividade diante dela. O futebol brasileiro, e tudo que envolve o esporte; andam querendo muito, retribuindo com o pouco. Jogos terríveis, jogadores muito mal formados em princípios básicos para o esporte. Torcedores que acham mais vibrante saírem na porrada. Onde fomos parar?

Depois da Copa do Mundo um balde de água gelada caiu sobre nossas cabeças. Enfim, depois de trinta e dois anos descobrimos que o país não é do futebol. Não temos os campeonatos mais atrativos, a média de público perde para as principais praças onde o esporte é praticado; jogadores mal estruturados dentro e fora de campo; uma reclamação infantil de um disse-me-disse que chega a dar vergonha em programas de fofoca. Mulheres, carrões; chuteira colorida. Cabelos desalinhados e tingidos; pulseira e corrente de ouro. O nosso futebol pé-descalço anda se perdendo na promoção futebol-hollywood: imagem é tudo.

Despencando a cada ano, o futebol ainda é receita valiosa para o negócio que gira milhões de reais por ano. Talvez por isso, ainda que muito tarde; o desinteresse pelo esporte tenha causado algumas discussões do pessoal que comanda e ganha dinheiro com ele. Nada é mais assustador para a velha elite da bola que, de uma hora para outra; o número de pessoas que não querem saber de futebol seja maior, ou igual, a soma de todas as outras torcidas. O produto perde a força, perde o investimento; perdendo o investimento, perde a qualidade. O fim do futebol não será pela minha causa, ou pela sua. O fim estará próximo quando as empresas, empresários e gente do poder achar lugar melhor para obter lucros, fazer dinheiro. Quando o desinteresse pelo futebol não ficar restrito apenas às questões técnicas, ou a dor da humilhação; ai deveremos ficar preocupados.


Por hora, é apenas uma queixa, uma depressão pós-Copa do Mundo; algo passageiro e sem importância. Mas quando deixarmos de seguir o futebol, quando todo mundo achar que não vale mais as horas perdidas; pode contar que estaremos preparados para um renascimento. Por enquanto, aqueles que deveriam e podem mudar não estão se importando muito, apesar de começarem a sentir os efeitos no bolso.




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Um comentário:

Mario disse...

Passando tanto jogo ontem, que eu não sabia qual campeonato que era: Se Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil ou Sulamericana; Uma overdose de campeonatos inchados, encavalados e de jogos ruins.

Outro fato é a idolatria demasiada em relação ao futebol e clubes europeus, coisa que não havia, até algum tempo atrás.

E a proliferação dos empresários de futebol.

Muita coisa pra mudar, isto é, se é que vai mudar...