Alguma coisa grave aconteceu. Embora
eu ainda não saiba definir exatamente, uma coisa é certa: o futebol em mim não
é mais o mesmo. Pode ser que a coisa mude com o passar do tempo, pode ser que
daqui alguns dias eu desista dessa bobagem; de querer o futebol brasileiro como
algo grandioso, cheio de elogios; os maiores e melhores comentários. Por hora,
por meses; quem sabe até o final do ano, tudo é péssimo, desagradável e sem
sentido. Perdi o interesse em assistir, torcer e aquilo que mais me preocupa:
escrever sobre futebol.
Acho que a gota que faltava foi a
humilhação. Às vezes lidamos bem com a derrota, mas a humilhação quase sempre é
arrebatadora. Não esperava uma grande exibição da nossa seleção brasileira, mas
perder do jeito que foi, contra a Alemanha; não é para qualquer um. Podem até
justificar o mal resultado a fatos estranhos ao futebol, teorias conspiratórias
ou mesmo politicagem. Para amenizar, podem dizer que a seleção não representa
uma nação, que a CBF é coisa e tal; e assim por diante. Mas tanto na alegria, quanto
na tristeza; os brasileiros estão vinculados à história da seleção. Por mais
que a torcida de alguns tenha sido contra, ainda assim, o brasileiro; em
qualquer lugar que esteja, estampará a figura da amarelinha. Bom; passou,
chegou; já deu. O assunto seleção brasileira ficará para uma outra
oportunidade.
Mas os clubes? O futebol da televisão,
aquele do nosso dia-a-dia. Como ele fica? Meu medo era que a seleção brasileira
e seu vexame esfriasse também minha relação com o futebol. De certo modo é como
abandonar uma paixão na primeira desilusão. Sim, a paixão pelo futebol estremeceu.
Ficou abalada. Olhar para o futebol do resto do mundo e perceber que alguma
coisa em nós anda errada não é coisa fácil. Pior que a traição é a passividade
diante dela. O futebol brasileiro, e tudo que envolve o esporte; andam querendo
muito, retribuindo com o pouco. Jogos terríveis, jogadores muito mal formados
em princípios básicos para o esporte. Torcedores que acham mais vibrante saírem
na porrada. Onde fomos parar?
Depois da Copa do Mundo um balde de
água gelada caiu sobre nossas cabeças. Enfim, depois de trinta e dois anos
descobrimos que o país não é do futebol. Não temos os campeonatos mais
atrativos, a média de público perde para as principais praças onde o esporte é
praticado; jogadores mal estruturados dentro e fora de campo; uma reclamação
infantil de um disse-me-disse que chega a dar vergonha em programas de fofoca.
Mulheres, carrões; chuteira colorida. Cabelos desalinhados e tingidos; pulseira
e corrente de ouro. O nosso futebol pé-descalço anda se perdendo na promoção
futebol-hollywood: imagem é tudo.
Despencando a cada ano, o futebol ainda
é receita valiosa para o negócio que gira milhões de reais por ano. Talvez por
isso, ainda que muito tarde; o desinteresse pelo esporte tenha causado algumas
discussões do pessoal que comanda e ganha dinheiro com ele. Nada é mais
assustador para a velha elite da bola que, de uma hora para outra; o número de
pessoas que não querem saber de futebol seja maior, ou igual, a soma de todas
as outras torcidas. O produto perde a força, perde o investimento; perdendo o
investimento, perde a qualidade. O fim do futebol não será pela minha causa, ou
pela sua. O fim estará próximo quando as empresas, empresários e gente do poder
achar lugar melhor para obter lucros, fazer dinheiro. Quando o desinteresse
pelo futebol não ficar restrito apenas às questões técnicas, ou a dor da
humilhação; ai deveremos ficar preocupados.
Por hora, é apenas uma queixa, uma
depressão pós-Copa do Mundo; algo passageiro e sem importância. Mas quando
deixarmos de seguir o futebol, quando todo mundo achar que não vale mais as horas
perdidas; pode contar que estaremos preparados para um renascimento. Por enquanto,
aqueles que deveriam e podem mudar não estão se importando muito, apesar de
começarem a sentir os efeitos no bolso.
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Um comentário:
Passando tanto jogo ontem, que eu não sabia qual campeonato que era: Se Campeonato Brasileiro, Copa do Brasil ou Sulamericana; Uma overdose de campeonatos inchados, encavalados e de jogos ruins.
Outro fato é a idolatria demasiada em relação ao futebol e clubes europeus, coisa que não havia, até algum tempo atrás.
E a proliferação dos empresários de futebol.
Muita coisa pra mudar, isto é, se é que vai mudar...
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