Olá leitores!
Devo dizer que fico muito feliz quando queimo a minha língua
para o lado positivo. Semana passada eu dei uma “pré cornetada” no GP do
Bahrein, afinal desde que a corrida aconteceu pela primeira vez em 2004 que as
provas têm sido bastante monótonas. Esse ano tivemos uma novidade: a corrida
começou com o entardecer, e além da noite ter contribuído positivamente para a
beleza do autódromo (com as luzes de iluminação não dá para ver o deserto em volta
da pista) também trouxe temperatura ambiente mais baixa. E com a temperatura
mais baixa os ânimos dos pilotos esquentaram, e o resultado foi uma das
melhores corridas dos últimos tempos. Fazia muito tempo que eu não via uma
corrida tão empolgante, mesmo com os dois primeiros colocados tão distanciados
do “resto”. E ao contrário da Malásia, onde a “emoção” ficou por conta de
acompanhar as mensagens de rádio, o pessoal dos boxes interferiu muito pouco. No
caso da McLaren, por exemplo, com seus dois pilotos se digladiando a faca na
pista, o que se ouviu foi “tragam os carros de volta para os boxes”, ou seja,
apenas pedindo que disputassem sem contato físico ou saídas de pista. Imaginem
que esse tipo de coisa aconteceria na Ferrari... nem em sonho!
A vitória, mais que merecida, com direito a aula de
pilotagem, ficou com Hamilton, que capitaneou a dobradinha da Mercedes e ganhou
a posição do companheiro (e dono da pole-position) Rosberg já na primeira
curva. A partir desse momento, o que se viu foi uma intensa luta pela
liderança, salvo quando os carros voltavam das trocas de pneu. A McLaren, vendo
o ímpeto dos seus pilotos na primeira parte da corrida, mudou a estratégia de
pneus (fazendo com que Rosberg usasse os pneus mais duros na parte
intermediária da prova e o Hamilton os usasse no final) para ver se afastava os
seus pilotos na pista... teve sucesso apenas parcial. E no final da prova,
Hamilton com pneus mais duros e Rosberg com os macios protagonizaram um duelo
dos mais belos da categoria. Com sua maior habilidade e coragem, Hamilton
prevaleceu. Não que Rosberg tenha pilotado mal, na verdade fez uma apresentação
quase digna do seu pai, mas não foi suficiente para bater um dos 3 melhores
pilotos da atualidade. Monumental. E públicos parabéns à equipe McLaren por
permitir aos seus pilotos a saudável disputa de posições na pista, sem ordens
de rádio. Deu gosto de ver.
Em 3º (ou primeiro dos “normais”, já que o carro da Mercedes
nitidamente está um nível acima do resto) chegou o Pérez, dando um merecido
pódio para a Force India, que estava com um carro muito veloz e que também teve
a saudável atitude de deixar seus pilotos disputarem posição no meio da corrida
sem ficar interferindo via rádio. Pena que Pérez é um piloto inconstante:
quando o alinhamento planetário ajuda, ele faz apresentações de alto nível como
as vistas nessa corrida. Seu companheiro Hülkemberg (5º) foi ainda mais
exuberante, já que Pérez largou em 4º e Hülkemberg em 11º. Podia ter sido 4º ou
mesmo 3º colocado, mas ao final da prova os pneus já tinham ido para o espaço.
Esse fez uma apresentação de acordo com o seu padrão, que é muito bom.
Em 4º chegou o jovem australiano Ricciardo, outro que deu
show na pista, largando em 13º (fez o 3º tempo, mas por conta de punição
recebida em etapa anterior perdeu 10 posições no grid) e ultrapassando os
pilotos à sua frente com maturidade e arrojo. Foi ele o protagonista de um dos
momentos mais interessantes da corrida: ele vinha com bom ritmo, seu
companheiro Vettel estava com problemas na asa móvel, aí chega a mensagem de
rádio para o tetracampeão: Daniel is faster than you. Vettel, profissional,
sabendo que estava com o carro comprometido, deixou o australiano passar. Após
a saída do safety-car acionado devido à lambança protagonizada por Maldonado
(em mais um momento “Maldanado” ou “baterista dos Muppets”) atingindo Gutiérrez
à meia nau e o fazendo capotar, estava com um ritmo de corrida bastante forte e
provavelmente teria chegado ao pódio se a corrida tivesse mais duas voltas (ou
se o safety-car tivesse saído da pista duas voltas antes, já que a intervenção dele
foi razoavelmente prolongada). Seu companheiro Vettel (6º) não teve um domingo
dos mais inspirados, e após ser ultrapassado pelo Ricciardo por duas vezes deve
estar sentindo uma saudade daquelas do Webber. Seu “ponto alto” foi a agressiva
defesa de posição quando Massa tentou a ultrapassagem na segunda reta do
circuito.
Em 7º e 8º terminaram os carros da Williams, respectivamente
Massa e Bottas. Dessa vez a equipe ficou na dela, não deu um pio no rádio para pedir
aos pilotos para se conterem, e eles tiveram duelos razoavelmente acalorados na
pista. O Massa já deve ter percebido que tem que ficar esperto, pois o companheiro
de equipe é tão rápido quanto ele e não tem medo de partir para cima em disputas
de posição. Não vai ser um ano fácil para ele.
Fechando a zona de pontuação, em 9º e 10º, chegou a dupla da
Ferrari, respectivamente Alonso e Räikkönen. É, as coisas estão feias para os
lados de Maranello. Quando um carro da Ferrari sofre de falta de velocidade
máxima e o piloto fica reclamando de falta de potência, é hora de correr para
as pranchetas e começar a refazer algumas partes do carro. Justiça seja feita,
uma parte do mau resultado também pode ser influência do pé frio do presidente da
fábrica, o Luca de Montezemolo, que cada vez que vai assistir uma corrida os
carros andam para trás. De qualquer maneira, a facilidade com que os outros
pilotos ultrapassavam os carros da Ferrari era desconcertante. O bumbo já deve
estar recebendo manutenção, troca do couro e uma afinação, para começar a soar
lá na Itália. Para tristeza da imprensa italiana, dessa vez não tem o Massa
para colocar a culpa, já que nem o Alonso está conseguindo fazer a charrete
vermelha andar.
Próxima corrida dia 20/04, GP da China, em Xangai. Pista bonita,
visibilidade geralmente precária por causa da poluição, e prepare-se para
acordar de madrugada no dia da Páscoa para assistir a corrida. Espero que seja
emocionante e valha a pena o sacrifício de acordar tão cedo, já que a largada
deve ser por volta das 4 horas da madrugada.
Até a próxima!
Alexandre Bianchini
Nenhum comentário:
Postar um comentário