Domingo decisivo no campeonato brasileiro. Como a maioria dos são-paulinos eu já tinha jogado a toalha do título na metade do torneio e a toalha da Libertadores há algumas rodadas atrás. Faz parte. É do jogo. Nem tento fazer essas contas malucas que só mesmo os matemáticos mais laureados ou torcedores mais coléricos conseguem fazer. Na minha opinião, a vaca tricolor já tinha ganhado morada no brejo há muito tempo.Pra aqueles que, como eu, acordaram tarde, com aquela cara amassada, típica de quem se divertiu na noite de sábado, o dia começou com a notícia triste do falecimento do Doutor Sócrates. Uma figura ímpar no futebol, um meia clássico, com aquela altivez e elegância em campo que somente alguns poucos conseguem ostentar, um articulador de jogadas e de idéias. O Magrão destoou da classe boleira até nisso. Fora de campo era a solidariedade em pessoa, levantando a bandeira por um país mais democrático, menos desigual. Esse vestia a camisa desse país, mesmo sem estar em campo. Figura rara que nos deixou nesse domingo. É, meu saudoso Cazuza, os meus heróis também estão morrendo e alguns dos nossos inimigos continuam no poder.
Tirei algumas horas da manhã de domingo para acompanhar a repercussão da notícia. Duas manifestações chamaram minha atenção a ponto de apertar ainda mais aquele nó na garganta que já incomodava. A primeira veio do twitter (enfim descobri para que serve essa rede social), do jogador de basquete Steve Nash. Para quem não conhece é um armador canadense da NBA (Phoenix Suns), que já ganhou por duas vezes seguidas o título de melhor jogador da temporada. Ele twitou o pesar pela morte do Magrão, seu ídolo de infância, a quem classificou como uma verdadeira lenda. A outra manifestação foi inesperada e talvez, por essa razão tenha sido tão bonita. A Fiorentina, única agremiação que o Doutor defendeu fora do Brasil entrou em campo de luto, no jogo contra a Roma. E olha que o Sócrates jogou apenas vinte e cinco partidas pelo clube. Isso dá uma mostra da importância desse craque na história do futebol.
Enfim, o jeito é enxugar as lágrimas porque o show tem que continuar. A rodada prometia um turbilhão de emoções para todos os gostos. Foram oito clássicos regionais, mas, as atenções estavam voltadas para o Pacaembu e para o Engenhão onde seria definido o campeão brasileiro de 2011. A situação do Corinthians era, aparentemente, mais tranqüila, pois, necessitava apenas de um empate para levantar o caneco. O Vasco deveria ganhar do Flamengo e ainda torcer por uma vitória do Palmeiras no clássico paulista.
Resolvi assitir ao clássico carioca. O Vasco começou num ritmo alucinante. Foram a campo para decidir o campeonato mesmo, sem diplomacia. Deu um belo sufoco no Flamengo que parecia que não conseguiria resistir muito tempo. Controle remoto inseparável. Hora de espiar o clássico paulista. O jogo parecia meio lento, quase arrastado, do jeito que o Corinthians precisa. Alguns fogos são ouvidos na janela. Bem poucos para falar a verdade. Diego Souza abre o placar no Engenhão. O campeonato ganha um novo contorno. O Corinthians ainda estava com a taça na mão, mas, a pressão pelo resultado poderia fazer as pernas fraquejarem algum momento. Numa demonstração de masoquismo futebolístico tentei saber o resultado do clássico San-São, em Mogi-Mirim. 3 a 0 para o Tricolor contra o misto geladíssimo escalado pelo Muricy Ramalho. Final de primeira etapa.
No segundo tempo o resumo da ópera foi o seguinte; torcer para o Palmeiras marcar um golzinho nem que fosse de mão, impedido, para dar o título ao Gigante da Colina. É isso mesmo. A secagem do rival faz parte da boa torcida. Volto pro jogo do Engenhão e não é que o tal de Renato Abreu empata o jogo para o Flamengo? Fogos em quantidade são ouvidos da janela. Melhor mudar de canal antes que o rubro-negro vire esse jogo. Leio no Facebook alguém dizendo que se o Inter perder para o Grêmio o São Paulo estará na Libertadores do ano que vem. Inacreditável. Aonde que está passando esse Gre-Nal? O jeito é sintonizar na Rádio Gaúcha, mas, como é difícil ouvir a narração de outros Estados. O acento e o sotaque do narrador não permitem saber, logo de cara, quem está melhor na partida. Pelo que entendi do gauchês do narrador o jogo estava 0 a 0 e o Grêmio estava melhor na partida. Será que vai dar?
Novos fogos são ouvidos da janela. Não foram estourados em grande quantidade. Gol do Vasco? Gol do Palmeiras? Ou melhor, as duas coisas? Nada disso! Foi o Valdívia que tomou o cartão vermelho, numa jogada até certo ponto discutível. Foi a tal da “força desnecessária” e o chileno deixou o time na mão. Com um homem a menos seria quase impossível a vitória. Se o Palmeiras ganhasse seria histórico. No Engenhão, tudo igual. Em Mogi-Mirim o Santos diminuiu o placar; 3 a 1. Pois é, até pra quem já tinha jogado a toalha pareceu-me apropriado torcer um pouquinho pelo meu time de coração.
Volto para o Engenhão e o jogo tinha mudado. O Vasco já não dominava as ações. Não estava entendendo nada até que o comentarista disse que a expulsão do Jumar teria prejudicado o time cruz-maltino. Como é que o sujeito consegue ser expulso num jogo importante desses? Está muito silencioso na rua. Talvez o Palmeiras tenha anotado um gol. Volta pro Pacaembu. Que nada, o jogo continuava empatado, mas, agora o Corinthians também tinha um jogador expulso. Que dramalhão! E ninguém fala nada do jogo no Beira-Rio, carambolas? Sou obrigado a sintonizar na Rádio Gaúcha. Demorou bem uns quinze minutos para saber que o Inter estava na frente com um gol do D’Alessandro. Argentino miserável! Não cobrem comportamento politicamente correto nessas horas. Sou um torcedor como qualquer um de vocês, pô!
Volto pro Engenhão. Nada de novo. Pior, parece que o Flamengo está mais próximo do gol de desempate. O Vasco sentiu o peso da maratona de jogos. Acho que não terão pernas pra buscar a vitória. Pacaembu de novo. De repente começa um qüiproquó danado em campo. O Jorge Henrique fez uma bobagem que irritou os palmeirenses e resultou em alguns pescoções. Baixaria desnecessária porque o Corinthians já estava com as duas mãos na taça. No Engenhão também teve sopapos no final. Rodada de clássicos decisivos é assim mesmo. Em Mogi-Mirim o São Paulo encerrou a temporada com uma vitória de 4 a 1. Foi contra um misto frio do Santos, mas, tubo bem, vai pra história. Infelizmente, no Beira-Rio o Inter manteve a vantagem e ganhou a vaga para a Libertadores 2011.
Fim de papo, fim de história. O Corinthians é o novo campeão brasileiro. Parabenizo a toda torcida corintiana pelo resultado. Foi merecido, sem asteriscos. O Vasco, também, está de parabéns pelo resgate de sua história vencedora. Eu, da minha parte, como disse no início do texto, já tinha jogado a toalha. Não estou de cabeça inchada.
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