sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Há 95 anos, nascia um Alçapão.



1916 é um ano de mudanças para a história do Santos Futebol Clube e para o futebol paulista. Em 1913 o Santos estreava no campeonato paulista, mas abandonou a competição; o dinheiro era insuficiente para as dispendiosas viagens de trem, alimentação e hospedagens. Na verdade, até meados dos anos 20, o campeonato paulista era uma competição basicamente paulistana. O Santos portanto, era o único "intruso" entre os times da capital e o que acabava sendo mais penalizado pelos gastos e pelas cansativas viagens. Dois anos e meio sem subir a serra, e o Santos só voltaria a disputar o campeonato paulista em 1916, portanto.

Para amenizar este problema, e não ter que subir a serra inúmeras vezes, a solução era que o Alvinegro Praiano tivesse sua própria casa. Em julho de 1915, ocorrera uma reunião entre dirigentes para definir a aquisição de um terreno. A área pretendida era onde hoje está localizado atualmente o hospital da Beneficência Portuguesa. Mas o custo ultrapassava as finanças do clube e optou-se por um outro terreno, próximo à uma antiga vila operária, loteada por Belmiro Ribeiro de Moraes e Silva. A segunda opção, além de mais barata, também gozava de certa infraestrutura: " Não possui condôminos, é alto (72 centímetros acima do nível da rua), tem luz elétrica, esgoto e bondes na porta". O terreno custou Cr$ 66.600, 00 (uma passagem de bonde custava 10 centavos).




Após a inauguração da praça de esportes em 12 de outubro de 1916, a partida de inauguração ficaria marcada para o dia 22, dez dias depois. (Diz a lenda que Urbano Caldeira e torcedores plantavam grama em noites enluaradas para que o gramado ficasse pronto a tempo). As arquibancadas eram de madeira e uma cerca separava o público do gramado conforme se vê na foto acima (acredito que o leitor não esperasse aqui por um "Camp Nou").


Para inauguração, um dos clubes mais populares e tradicionais da capital paulista: O Clube Atlético Ypiranga. Clube alvinegro, fundado por operários e que já havia contado com Arthur Friedenreich, que naquele ano defendia um clube da elite, o Paulistano. Foi o último ano em que o campeonato paulista seria disputado em duas ligas distintas; a LPF e a APEA. Esta última, organizaria o campeonato até 1925 antes dele rachar novamente, entre amadores e profissionais. A APEA (que disputavam o Paulistano, o A.A São Bento, Mackenzie, Ypiranga, Santos, Palestra Itália, e A.A das Palmeiras), absorveu a antiga LPF (que contava com Corinthians, União Lapa, S.C Alumni, Campos Elíseos, Americano, Germânia, dentre outros). No ano seguinte porém, teríamos um campeonato unificado, porém ainda essencialmente paulistano, com excessão do Santos.


Estava tudo pronto para o "match" e assim era a manchete de um jornal de Santos na véspera, em 21 de outubro:


"É extraordinário, é ardente, o enthusiasmo que se nota entre os innumeros associados do Santos e os varios apreciadores do salutar sport britannico, pela grandiosa pugna que, amanhã na praça de esportes, a Villa Belmiro, se vae travar entre o galhardo campeão santista e a valorosa equipe da paulicea. O interresse que este encontro vem despertando em todas as rodas sportivas é a prova mais cabal da necessidade imperiosa que, desde há muito, se impunha, diante do nosso progresso sportivo, desta extraordinária obra que um grupo de esforçados e arrojados sportemen acaba de legar a esta cidade." (...) "De accordo com o estabelecido pela Associação Paulista de Sports Athleticos, as senhoras pagarão ingresso e os menores de 14 annos quando acompanhados de suas famílias terão entrada franca".


Estima-se que 2000 pessoas acompanharam o jogo de nº 491 do Campeonato Paulista, com o Santos vencendo o Ypiranga por 2x1. O ponta-direita Adolpho Millon (que já tinha uma Copa Roca em seu currículo) foi o autor do primeiro gol da Vila Belmiro, abrindo o placar para os santistas. Bororó empatou para o Ypiranga e Jarbas pôs os santistas novamente na frente, fechando o placar. Assim foi descrito o gol de Millon:


"Ha momentos em que a luta é vigorosa e obriga a assistencia a empolgar-se pelo seu desfecho. Num desses lances Millon aproveita a esphera e faz uma segura avançada e, num shoot enviezado consegue fazer estremecer a rêde do retangulo paulistano, marcando entre fartos applausos. É digna de registro a maneira cavalheiresca da immensa assistencia, que revelou o mais alto civismo e melhor disciplina.(...) A diretoria do Santos e os seus associados que foram encarregados da bôa ordem no campo, durante os matches, merecem os nossos apllausos pela maneira cavalheiresca por que se desempenharam da sua espinhosa missão."


(Percebe-se o trato com o texto, característica dos jornais da época. Bem diferente dos jornais esportivos de hoje). O título paulista da Associação Paulista de Esportes Atléticos (APEA) ficou com o Paulistano. A.A. São Bento com o vice, Mackenzie em 3º, Ypiranga em 4º e o Santos em 5º, à frente do Palestra Itália e da Associação Atlética das Palmeiras.





Neste sábado, dia 22 de outubro, a Vila Belmiro completa 95 anos. Parabéns à Vila famosa.




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