terça-feira, 23 de novembro de 2010

O crime ético do mal-querer


Final de campeonato. Reta final de pontos corridos. E como acontece em todos os anos, temos lá coisas que dão assunto para discussões intermináveis. Pasmem discussão filosófica. Dessa vez a ética em jogo. Não só dessa vez, mas em inúmeras oportunidades, desde que os pontos corridos foram inventados. E a discussão não é meramente futebolística, em outros esportes o corpo mole, a derrota vista como vitória, não é uma coisa tão anormal.

Vimos esse ano a seleção brasileira de vôlei se vangloriar das regras e perder o rumo esportivo. Numa demonstração não muito clara de “entregar o jogo” para pegar um adversário mais fraco na fase posterior, tudo foi justificado. Os meios justificam os fins. Em outro esporte, a F-1, também tivemos “rodadas” onde aquele que venceria perdeu, pois o que estava em jogo era a competição. Ferrari com ordens para massa deixar alonso em primeiro. Tudo assim, com letras bem minúsculas. Deu no que deu: Vettel campeão. Vôlei foi campeã em quadra, pois tinha mérito. F-1 perdeu o rumo, porque tinha defeitos.

No futebol a coisa ficou clara com o jogo entre Fluminense e São Paulo, onde os tricolores viraram uma única torcida, a favor dos cariocas; para prejudicarem o arqui-rival paulista. Mas não foram apenas os saopaulinos que fizeram isso; como eu disse, esse assunto virou coisa velha nas discussões sobre pontos corridos: o próprio Corinthians está tomando o veneno que curtiu o ano passado. Agora, diante do Fluminense, o Palmeiras também toma a frente de dizendo que “uma derrota passará a ser uma vitória, em virtude de tudo que rola no campeonato”. Virtude não é bem a palavra que eu gostaria de usar, mas está ai.

Diante de tudo isso, ficamos com a questão: vale esse corpo mole por parte dos adversários? Onde as coisas podem chegar, daqui a pouco? É um campeonato realmente justo? Sim, porque durante alguns anos de minha vida, ouvi dizer que a justiça seria feita apenas com esse modelo de campeonato, onde times disputariam de forma equânime. Realmente o que não está existindo agora é essa equidade. E digamos que eu concordo ser muito difícil manter essa igualdade nos elementos competitivos, quando equipes têm outros interesses em vista, como é o caso do Palmeiras.

A situação, para mim, não é mais uma disputa ética da teoria da convicção ou da responsabilidade. Cada torcedor irá defender a maneira como o time ganha (ou perde) de sua maneira. A questão agora é acabar com o dogma que quase se tornou universal de que o campeonato de pontos corridos é a mais justa forma de disputa, mais emocionante e coisa e tal. Se existe uma coisa desinteressante hoje, é saber que alguns jogos têm seus resultados tão previsíveis quanto a história de todas as rodadas finais: entregar ou não entregar, eis a questão.

Assim, a decisão sobre o campeonato está em aberto, por mais que o futebol possa nos dizer que coisas óbvias acontecem; temos sempre um elemento surpresa, que desvincula o futebol de qualquer ciência exata: podemos esperar tudo dos jogadores, mesmo quanto eles não tem mais nada com o campeonato. Até porque o burro sempre anda para onde está virada a cenoura.
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2 comentários:

Anônimo disse...

Esse história de "corpo mole" é bobagem. O time para ser campeão tem que estar bem e depender dele mesmo. O São Paulo foi três vezes campeão seguidamente, algum time o atrapalhou na ocasião? Mesmo o Corinthians, se tivesse feito sua parte (vitoria contra o Vitória), não estaria pensando em corpo mole, pois não dependeria de outros resultados.

Cesar Augusto disse...

Quanto ao jogo do São Paulo, sinceramente, acho que não houve entregada. O São Paulo cometeu os mesmos erros de sempre e foi duramente punido por uma equipe melhor e que precisava do resultado. O Muricy armou o Fluminense para destruir o São Paulo e conseguiu.