Alguém já ouviu falar do termo “bandit”? Ou corredor bandido? Não?
Então que tal a expressão “pipoca”?
Enfim, todas essas denominações são usadas para identificar aquele atleta que
comparece nos eventos de corrida, sem estar oficialmente inscrito, em suma, sem
pagar nada. No Brasil, o termo “pipoca” conferiu certo quê de gaiatice e bom humor
a essa prática que ocorre em todo o lugar do mundo.
Comecei a correr em 2004 e, desde
aquela época a pipocagem era um
fenômeno comum, principalmente, nas provas mais concorridas, como era o caso da
São Silvestre. Afinal, as inscrições acabavam muito rápido, não supriam a
demanda de corredores e, um corredor a mais, um a menos não fazia a menor
diferença. Mesmo nos eventos menores, a prática era utilizada por corredores
sedentos por realizar um treino de corrida num percurso oficial, aferido, e com
todo o conteúdo motivacional de uma competição.
Eu fui um praticante assíduo da pipocagem no início da minha carreira de
corredor. Queria fazer um treino sabendo, exatamente, o quanto eu havia
corrido, sem ter que treinar nos mesmos percursos de sempre (Usp e Ibirapuera).
Normalmente, me posicionava no pórtico de largada, vestindo a minha camelbak[i],
corria sem parar em nenhum posto de hidratação, afinal sabia que não tinha pago
pela água distribuída no evento e, ao final, voltava pra casa. Essa era a minha
pipocagem.
A minha defesa e a de outros pipocas era a de que a rua é pública. Se,
costumeiramente, treino na rua, ninguém pode me impedir de utilizar a via
pública pra correr. O argumento, na verdade, é impreciso. A rua é pública, mas
em determinadas situações, o seu uso pode ser limitado ou restringido pelo
Poder Público, para atender a um evento privado. É o que acontece com as
corridas de rua. O Estado permite ao organizador da corrida utilizar aquela via
pública em determinado horário, limitando o acesso de veículos e pedestres. E é
uma prerrogativa do organizador impedir que pessoas não inscritas ou
autorizadas tenham acesso ao percurso.
Como já mencionei aqui no
Patativa fiquei um bom período sem participar de provas, principalmente após
2010. Nesse período, a prática da pipocagem
mudou bastante. Ficou mais pro “bandit”
ou bandido mesmo. O pipoca, versão 2010, considera todo o valor de inscrição
alto, mas, mesmo assim, comparece, religiosamente, em todos os eventos. Sem
inscrição oficial, claro. Utilizam, graciosamente, toda a estrutura oferecida
pelo organizador durante o percurso aos atletas inscritos (água, isotônico,
frutas) e, ainda, em alguns casos, conseguem até pegar a medalha de
participação.
O organizador sabe que o pipoca
aparecerá em grande número, portanto, é obrigado a oferecer uma estrutura muito
maior para atender a todos (inscritos e não inscritos). Isso tudo encarece o
evento. Como não há patrocínio direto (capital) da iniciativa privada, mas
tão-somente apoio institucional ou permutas que geralmente são aqueles produtos
que recheiam os kits dos corredores,
o custo do evento é bancado somente pelo valor da inscrição, ou melhor dizendo,
pelo corredor inscrito.
Até aí, convenhamos, tudo bem.
Nós, corredores, estamos acostumados a pagar caro e gostamos disso. Por outro
lado, se o organizador sabe que o pipoca aparecerá, por que não cria condições
para coibir essa prática, instruindo os staffs a não entregar os recursos da
prova àqueles que não estão oficialmente inscritos? Bom, parece que os
organizadores não estão lá muito ocupados com esse “problema”. Preferem receber
toda a sorte de críticas pela organização de um evento ruim, porque sabem que o
corredor brasileiro, em sua maioria, não está nem aí para a organização de
prova, preocupa-se com a camiseta e a sacola do kit, com os brindes, mas com a
prova em si, nada.
Exemplo disso aconteceu ontem, na
TIMÃO RUN, evento que percorreu as ruas do entorno do Estádio Itaquerão[ii].
Correm nas redes sociais as críticas de corredores inscritos que, pasmem, não
receberam a medalha de participação, sob a alegação de que haviam acabado? Como
isso é possível? A organização confeccionou menos medalhas que o número de
inscritos? Provavelmente não. Em semana de comemoração de título, é possível
que alguns pipocas (bandidos) tenham
levado, acidentalmente, uma medalha de participação, ou ainda, os próprios
staffs tenha resolvido levar para casa alguma recordação para presentear aquele
tio corintiano tão querido.
Enfim, parece que a organização
da TIMÃO RUN mandará as medalhas pelo correio, aos atletas/consumidores
lesados, mas o momento da celebração, da entrega da medalha de finisher, da
materialização da superação, do dever cumprido, esse foi roubado dos atletas. A
dúvida é identificar o bandido que praticou o roubo.
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