domingo, 30 de abril de 2017

Bola da vez.

Acompanhando no youtube o quadro “Polêmicas vazias” do editor e comentarista do Esporte Interativo Bruno Formiga, sobre assuntos considerados (como o próprio tema diz) polêmicos do futebol. Ou aqueles que geralmente discutimos no boteco. Bruno é muito coerente nas suas posições, e procura justificá-las com base em alguns fundamentos (ao contrário das nossas exaltadas discussões na mesa do bar). Destrincha alguns temas, como a recém-polêmica  dos Intercontinentais x Mundiais da Fifa, Campeonatos Nacionais, clássicos brasileiros, e também discorreu sobre Pelé x Messi, tema sempre recorrente. Quem seria melhor?  E já vou adiantar: para ele, Messi é melhor que o nosso Rei.

Verdade é que não existe unanimidade, nem na vida, quem dirá no futebol. Tirando esta geração que desde cedo aprendeu a cultuar os clubes e jogadores da Champions (na qual não levo muito estas opiniões em consideração), há profissionais da área que compartilham da mesma opinião que Bruno. Pecado? Não. Até concordei com ele quando disse que “endeusamos” algumas figuras consideradas intocáveis como Pelé. Mas ele também concorda que o mito, e caráter histórico desde jogador é algo fora do campo de discussão. Ponto. O que estaria em discussão, portando é o caráter técnico. Mas também não sei se apenas este quesito, seria suficiente para chegarmos a uma conclusão.

De fato, o futebol hoje, está mais intenso e exige mais do atleta que no passado. Messi,  teria um grau de exigência maior que o Rei do Futebol. Tem que voltar, marcar, fugir da marcação “sob pressão”. Mas será que isso faz com que jogadores se tornem melhores?  

Esta polêmica, no entanto, não é nova: Já lá pelos anos 50/60, profissionais europeus do mundo futebolístico, sejam jogadores, treinadores ou comentaristas, achavam que Pelé não cumprira a “prova de fogo” que seria a de jogar no competitivo futebol do velho mundo. Por estas razões que Di Stéfano, Euzébio, e mesmo Cruyff (apelidado inclusive de “Pelé branco”), foram colocados no mesmo ou até em pedestais superiores ao do Rei. Cruyff não se considerava a altura, ao contrário de Di Stéfano e Euzébio. E nem adianta discutir com os velhos torcedores do Real, do Benfica e do Ajax. Aqui no Brasil, os sessentões botafoguenses escolherão Garrincha, e os quarentões flamenguistas escolherão o Zico.

Mas algo aqui tem que ser levado em consideração, e o nosso Bruno levanta também uma questão embora superficialmente: Sobre conceitos de futebol.  Explico: Messi, apesar de toda sua técnica e genialidade, não apresentou nada de novo. A última grande mudança no futebol, foi com a Holanda de 1974 (da qual participava o próprio Cruyff) que por sinal fora inspirada na Seleção Brasileira de 1970 ( com jogadores jogando fora de suas posições originais e incumbidos de marcação). Uma verdadeira revolução.  De lá para cá, apenas variações destes esquemas, com a compactação do jogo e o tic-tac da seleção espanhola e do Barcelona.

Messi, faz parte de uma engrenagem que já existe ou existia; moldou-se e cumpre sua função com extrema competência, parabéns pra ele. Pelé por sua vez, não foi moldado e apresentaria  algo novo: Introduziria o conceito de atleta no futebol. Extremamente preocupado com a forma física, não fumava, não bebia e tinha treinamento semelhante a um corredor de 200, 100 metros rasos. O resultado é que ele deixava um time todo para trás, percorrendo 100 metros em 11 segundos, marca de um atleta olímpico na época ( um campo de futebol tem 110 metros de comprimento se não errei nos cálculos). Claro que para isto, Pelé tinha preparadores específicos para ele, o que também seria uma inovação para o mundo do futebol: a da preparação física.

Quando comparamos jogadores de épocas diferentes, caímos também no campo da subjetividade. Explico novamente: Se Messi é melhor por participar de jogos mais intensos e , mais competitivos, também não podemos isolá-lo. Pela “lógica” (se é que ela existe neste terreno), um jogador médio de hoje teria também que ser melhor que o jogador médio do passado. Afinal, ele também é mais participativo no jogo. Mas nesta teoria não podemos cravar. Surge então outra questão: o que faz, ou faria, um futebol ser melhor. Em cima disto Bruno também enfatiza que “para existir um Messi, teria que ter tido antes um Maradona, que por sua vez um Pelé, e por sua vez um Didi”. Para ele, seria a própria evolução do futebol.

Mas em contrapartida a evolução atlética no futebol não fora acompanhada da mesma evolução técnica. E sou testemunha disto, pois acompanhado futebol há mais de trinta anos e nem peguei os anos considerados de ouro do futebol brasileiro. Não se trata de romantismo. Hoje temos jogadores que correm os noventa minutos, mais a prorrogação, e mais um dia se precisar. Só que com deficiências em fundamentos como passes ou chutes. Quantos cobradores de falta existem hoje no futebol? Quantas chances de gol são criadas e ao mesmo tempo perdidas?


Messi ou Pelé, cada torcedor pode ter sua preferência. O futebol permite isso. Podem até achar que “Obina é melhor que Pelé”, e por aí vai. Mas sempre quando aparece um “melhor do mundo” a referência sempre acaba sendo este último. Acaso? Foi assim com Di Stéfano, foi assim com Eusébio, Garrincha, Cruyff, Maradona, Ronaldo Fenômeno. O “bola da vez” hoje é o fora de série Lionel Messi.  Até que surja o próximo.





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