Todo mundo
conhece uma criança. Claro que conhece. Conhece aquele moleque ligado em jogos
eletrônicos e coisas parecidas. A minha geração vive desconfiada de tanta
tecnologia, principalmente quando o assunto é futebol. Então, voltando a
criança: pergunte qual o seu ídolo no futebol. Acrescente, depois de uma resposta
na ponta da língua; se ela viu esse sujeito jogar alguma vez. Ficarão
espantados com a resposta. Sim, elas têm ídolos no futebol, mas raramente viram
um jogo inteiro, pelo menos um jogo de verdade.
Pasmem, eles têm
ídolos por causa dos jogos eletrônicos.
Vou dizer uma
coisa: o negócio realmente é fantástico. Quem já viu uma partida no Plastation ficou extasiado com a
aproximação de um jogo de futebol de verdade. Com uma diferença: quem manda nos
jogadores são os telespectadores. É claro, para isso é necessário um domínio de
todas as funções do jogo, com seus vários botões, com inúmeras sequencias,
entre R1, L1, R2 e etecetara e tal. Outro dia vi uma criança assistindo um jogo
pela televisão – não me lembro qual era o jogo – Fiz uma pergunta sem muita
pretensão, até mesmo pela minha curiosidade em relação a esse comportamento infantil.
Ela me disse em alto e bom som: não gosto
de assistir jogos de verdade porquê os jogadores perdem muitos gols e erram
muitos passes. Se eu estivesse controlando, não errariam tanto.
Sim, meus caros.
A impressão que essa molecada tem do futebol, pelo menos aquele que passa na
televisão, é que o jogo de verdade é um tanto defeituoso. Os jogos eletrônicos
são completos, seguros e controláveis. Um jogo de futebol onde não se pode
esquecer um 7 x 1 com um reset, não é um jogo interessante. Com tudo isso tenho
algumas questões pendentes: A primeira delas é saber até que ponto essa criança
se tornará um adulto que pode enfrentar os problemas da vida real de uma forma
menos dolorosa. A segunda delas é saber o que será do nosso futebol se cada vez
mais as novas gerações acabam se desinteressando pelo esporte.
Como não sou
psicólogo, penso demais na segunda questão.
A ausência de
campeonatos (pelo menos no Brasil), acaba criando um hiato cheio de dúvidas e
críticas. Todos os comentaristas esportivos, das diversas mídias; são unânimes
ao falar sobre o futebol nacional: estamos na pindaíba. Estamos sem dinheiro,
sem condições de buscar na base a solução; e com dirigentes que acabam se
livrando dos problemas centrais endividando-se ainda mais com contratações
absurdas.
Ao final de
tudo, parece que o jogo eletrônico é o único lugar em que torcedores não morrem
por vingança, jogadores recebem seus salários em dia; e qualquer goleada vira
uma questão de tempo.
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