Falar sobre o ano de 1963, , é mergulhar um pouco na história de um ano repleto de eventos, com desdobramentos que transformaram a cultura, a política e o esporte em nosso país. Se no início daquele ano o presidente João Goulart poderia comemorar o retorno do país ao regime presidencialista, a verdade é que o seu governo progressista, apoiado em reformas necessárias, mas, contrárias aos interesses dos setores mais conservadoras do país, parecia estar com os dias contados. A intensa agitação política daquele ano deixava evidente o desfecho trágico que ocorreria no ano seguinte.No esporte, após aquela gloriosa vitória do time canarinho em gramados chilenos, no ano anterior, o país tinha mais uma razão para bater no peito orgulhoso da sua nacionalidade: o basquete, ou como diriam na época a bola ao cesto. O time liderado por Amaury Passos e Wlamir Marques tornava-se bi campeão mundial. Um delírio, talvez até maior que a coroa de Miss Universo entregue à gaúcha Ieda Maria Vargas, também em 1963.
Foi nesse clima de orgulho nacional, a tal da febre do “com brasileiro não há quem possa” que a CBD organizou mais uma edição da Taça Brasil, com a participação de 20 campeões estaduais. Além de os campeões de São Paulo e Guanabara já entrarem na fase semifinal, a confederação conseguiu criar uma pirâmide social entre os clubes participantes na qual o time de mais tradição entrava sempre em uma fase posterior. Se a separação dos clubes por tradição histórica é difícil nos dias de hoje, que dirá na década de 1960 quando, raramente, os clubes faziam confrontos fora de seu próprio Estado.
Participaram do torneio: Campinense/PB, ABC/RN, Capelense/AL, Confiança/SE, Ceará/CE, Bahia/BA, Sampaio Correia/MA, River/PI, Paysandu/PA, Sport/PE, Defelê/DF, Vila Nova/GO, Fonseca/RJ, Rio Branco/ES, Atlético/MG, Londrina/PR, Metropol/SC e Grêmio/RS.
Bahia, Sport/PE, Atlético/MG e Grêmio/RS foram os campeões dos grupos regionais e tiveram que se enfrentar na fase seguinte para decidir quem jogaria as semis contra o Santos (Campeão Paulista) e o Botafogo (Campeão da Guanabara). Deu Bahia no confronto contra o Sport/PE e deu Grêmio/RS contra Atlético/MG.
Enquanto a bola rolava solta, o mundo curvava-se ao talento dos quatro rapazes de Liverpool que emplacavam o irresistível “She loves you” no primeiro lugar das paradas britânicas. Na banda de cá do Meridiano de Greenwich entrava no ar “2-5499 Ocupado”. Quem tiver curiosidade pode googlar o título. Pronto? E isso mesmo, caro leitor, a praga das telenovelas diárias começou aí. E, por incrível que pareça a novela foi estrelada pelo casal Glória Menezes e Tarcísio Meira. O sucesso da empreitada foi tão grande que o resto da história todos nós conhecemos. E dá-lhe correria para chegar em casa no dia do último capítulo da novela!
Voltando ao nobre esporte bretão, as semifinais foram disputadas entre Bahia e Botafogo, de um lado e, Grêmio e Santos de outro. Na primeira semifinal veio a surpresa; o Bahia conseguia superar o fantástico time do Botafogo em dois jogos (1 a 0 e 0 a 0). Na outra semifinal a zebra passou longe dos gramados e o Santos bateu o Grêmio, sem grandes dificuldades (3 a 1 e 4 a 3). Bahia e Santos na final, novamente, em clima de “negra”.
No primeiro jogo, no Pacaembu, o Santos goleou o time baiano com sonoros 6 a 0, com direito a chocolate e gols de Pelé (2), Pepe (2), Coutinho e Mengálvio. Vamos combinar que o jogo da revanche, disputado no Estádio da Fonte Nova foi só pra cumprir tabela. Depois de tomar um sacode daqueles, não havia nem clima para uma vitória do Bahia e, convenhamos, o gol do Pelé logo de início não ajudou muito. Final do jogo com o placar de 2 a 0 para os paulistas. O Santos já tinha conquistado o Brasil, as Américas e o Mundo, fazendo com que a letra daquela marchinha mudasse de “com brasileiro não há quem possa” para “com o Santos não há quem possa”.
Uma curiosidade sobre esse título santista veio estampada na edição da Gazeta Esportiva do dia 29 de janeiro de 1964. Em destaque maior está uma proposta de 1 bilhão de cruzeiros, feita por investidores corintianos para tentar tirar o Pelé do Santos. A empreitada não deu certo, mas, deixa claro que os jovens talentos santistas sempre foram o objeto de desejo do alvinegro da Capital.
Um comentário:
Pelé sempre foi assediado a vida toda, principalmente pelos clubes europeus, mas sempre quis ficar no Santos. E o jeito de conseguir dinheiro para segurar o Rei e o elenco, era fazer excursões.
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