quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cortina de Fumaça

Nos últimos dias o Ministério Público assinou junto com líderes de mais de 40 torcidas organizadas do Estado de São Paulo o Termo de Ajustamento de Conduta para disciplinar o procedimentos dessas agremiações e aplicar sanções aos infratores, como forma de implantação da política nacional de segurança e de prevenção da violência no futebol.

Tudo bem, a princípio, a idéia pode até parecer boa, mas, para quem conhece um pouco a realidade dos estádios paulistas, não esperem grandes mudanças, nem um ambiente mais seguro para os torcedores.

Em suma, o TAC determina que todas as torcidas sejam constituídas como associações (sociedades simples) e devem identificar e cadastrar todos os seus membros. Cada organizada também se comprometeu a evitar a violência, tumultos, brigas, vídeos com provocação à torcida adversária, desafios públicos ou convites para brigas, bem como a abster-se de provocar ou incitar violência dentro e fora dos estádios, ou estimular desinteligências consistentes em agressões físicas, depredações de bens móveis ou imóveis ou troca de insultos com terceiros.

Em caso de descumprimento de qualquer uma das determinações do TAC, a organizada infratora será multada em R$ 30 mil e ainda terá suspenso o exercício de suas atividades por 120 dias. No caso de brigas, tumultos ou quaisquer atos de violência, a torcida sofrerá a aplicação de medida educativa de advertência ou suspensão de comparecimento aos estádios de futebol.

Bom, vamos por partes. Quem conhece um pouco da realidade das organizadas em São Paulo sabe que, além do torcedor comum, toda torcida tem a sua Tropa de Choque, formada pelos sujeitos mais sanguinários disponíveis e dispostos a praticar todo e qualquer ato de violência e desordem. Obviamente, esses “torcedores” não serão identificados e nem cadastrados. O mesmo será aplicado no caso de “torcedores” com problemas na Justiça. Essa regra é capenga, pois, se um desses “torcedores” for pego na prática de algum ato de violência, a organizada sempre pode alegar que ele, apesar de utilizar a camiseta da entidade, não é um torcedor cadastrado, motivo pelo qual não pode ser responsabilizada por seus atos.

É o nada sendo transportado para lugar algum. É muito difícil imaginar que se uma torcida envolver-se em uma briga generalizada, com feridos e mortos, será punida somente com R$ 30 mil reais e uma suspensão de 04 meses. Na minha opinião, é um absurdo. Esse mesmo acordo foi feito no Rio de Janeiro e no Paraná e eu não tenho notícias de que ir a um estádio de futebol nesses lugares tornou-se uma experiência mais segura.

Como criticar sem apresentar proposta não leva nada, eu proporia mudanças no relacionamento das torcidas organizadas com o Poder Público. Numa cidade como São Paulo, não há nada que justifique o deslocamento de centenas de policiais para garantir a segurança de um evento esportivo, deixando o restante da população desprotegida em diversos pontos da cidade. Qual o motivo de promover escoltas aos ônibus de torcedores se, nenhum de nós, contribuintes podemos ter a mesma regalia quando vamos fazer um saque no banco? Ah, sei, o tal de interesse público? Ok, então. Nos últimos vinte anos tivemos mortos e feridos dentro e fora dos estádios por conta de brigas entre torcedores e a pergunta que fica é; Quantos torcedores foram presos, processados, condenados? O número é ínfimo em relação às ocorrências. A impunidade, neste caso, estimula a violência.

Durante muitos anos a Polícia e, principalmente, o Ministério Público e o Poder Judiciário, empurraram com a barriga esse problema das torcidas, adotando medidas paliativas que ainda estão longe de tornar os estádios um ambiente mais seguro. Termo de Ajustamento de Conduta, acordos com a Polícia Militar, tudo isso parece muito bonito, mas, não vai diminuir o problema, se não vier acompanhada de punições aos infratores.

2 comentários:

Mario disse...

Infelizmente assistir um clássico hoje é correr risco de vida. Se você for com a camisa de seu clube então, é um alvo fácil. E a impunidade e a velha política de "passar a mão na cabeça", tem muito a ver com isso.

Sérgio Oliveira disse...

Prefiro nem entrar em discussão. Fico com medo até de estarmos falando sobre esse pessoal aqui no blog.