Olá leitores!
Esse final de semana eu me lembrei de uma frase clássica da
época do jejum da Ferrari entre os títulos de 1979 do Scheckter e de 2000 do
Schummy, aquela época em que havia dezenas de problemas técnico-administrativos
na equipe, e eu ouvia muito que após a corrida a imprensa italiana “ia tocar o
bumbo na porta de Maranello”. Pois é, após a largada do GP de Cingapura eu
acredito que os bumbos sairão do armário, pois a disputa pelo título, em
condições normais, acabou, já era, c’est fini.
Mas teve coisa pior do que o resultado da corrida para a
Ferrari: a transmissão da corrida no Brasil. Como invejei aqueles que podem ter
acesso à transmissão do Sky Sports, BBC, ou outros canais europeus que sabem
fazer a coisa direito. Habitualmente não gosto da transmissão da emissora
oficial, haja vista que o narrador titular é chato de dar azia em copo de
bicarbonato de sódio e o reserva (que foi quem transmitiu hoje) deixa bastante
a desejar. Normalmente eu tiro o som da TV e ouço a narração pelo rádio. Pois
bem, hoje fui obrigado a ouvir pela emissora oficial, que foi o lugar em que a
narração estava menos pior. E menos pior é o termo exato, já que em duas
emissoras que seriam a alternativa à locução da TV os narradores estavam
sofrendo de diarreia cerebral, tamanha a quantidade e gravidade da bobagens que
saíam a respeito do assunto “acidente da largada”. Ouví “imprensa especializada”
dizendo que a culpa foi do Kimi pois “ele largou muito bem”. Para, para
tudo!!!! Então o piloto fazer uma largada melhor que a dupla à sua frente é errado?
Autêntica “jabuticaba” (aquela coisa que só existe no Brasil) do jornalismo
brasileiro, aquele que tem, mas acabou. Eu entendi como acidente de corrida, e
se tivesse que colocar a culpa em alguém seria nos velhinhos encarquilhados da
FIA, que não aceitam copiar o automobilismo americano e colocar spotter para os
pilotos – medida em minha opinião absolutamente necessária depois que, por
motivos e medidas de segurança, o piloto não consegue mais virar a cabeça para
ver quem está ao seu lado. Com a cobertura digital das imagens, dá para “escolher”
qual piloto você quer acompanhar, e seria perfeitamente possível a existência
de spotters em cada equipe, acompanhando o piloto por monitores.
Enfim, em condições normais o Sebastian Vasco, digo, Vettel,
não supera essa diferença de 28 pontos por nada nesse mundo. Precisaria o carro
da Mercedes quebrar uma corrida, o Vettel vencer (o que, mesmo sem o Lewis na
pista, não está nem um pouco fácil) e ainda vencer outra prova com o inglês em
2º. Esquece, a equipe pode começar a se dedicar 100% ao carro de 2018, tentar
fazer algo minimamente tão bom quanto o da Mercedes, pois este ano está
perdido. E perdido pois não tinha um spotter para lembrar o elemento que a pista
estava molhada, e que ele poderia perfeitamente seguir em linha reta até a
primeira curva, não tinha rigorosamente a menor necessidade de largar fechando
a porta do Verstappen. E ainda teve jornalista colocando a culpa no Kimi, santa
ignorância, Batman... não, eu não me conformei com esse absurdo.
Enfim, vitória do virtual campeão de 2017, Lewis Hamilton,
que não foi bem na classificação mas teve sorte de campeão, com o principal adversário
cometendo erro de iniciante. Se fosse o Stroll a fazer aquele tipo de
movimento, perfeito, eu entenderia 100%, mas um tetracampeão não dá para
entender... depois da lambança rossa, foi só levar o carro no colo até o final
da prova, já que Ricciardo foi muito bem no treino mas na corrida literalmente
não tinha ritmo para acompanhar Hamilton. Seu companheiro Valtteri Bottas (3º) aproveitou
para minimizar o prejuízo da classificação, e agora tem uma meta clara: superar
o Vettel na pontuação. Levando em conta a capacidade de tomar decisões erradas
do alemão e a diferença de apenas 23 pontos para 6 corridas, meta perfeitamente
plausível, e eu até arrisco que facilmente alcançável.
Em 2º chegou Daniel Ricciardo, que arrancou tudo o que o
carro da Red Bull poderia proporcionar e chegou ao seu 3º segundo lugar nessa
pista, o sétimo pódio na temporada. Levando em conta que a equipe informou que
ele apresentou problema de câmbio durante a prova, um resultado realmente impressionante.
Seu companheiro Max Verstappen (19º) pode ser avaliado apenas pelo excelente
trabalho na classificação. Na largada tracionou menos do que se poderia
esperar, o que acabou fazendo com que se envolvesse no imbróglio rosso... ao
menos dessa vez ele não teve como reclamar de quebra do motor, ou do câmbio, se
é que isso é um consolo.
Em 4º chegou Carlos Sainz Jr., de saída para a Renault ano
que vem (eles se cansaram do Palmer e resolveram contratar um piloto de verdade
para 2018), que propiciou à Toro Rosso seu melhor resultado do ano (com o
auxílio luxuoso da Ferrari, é verdade) e o seu próprio melhor resultado até
hoje. Merecido, absolutamente merecido. Seu companheiro Daniil Kvyat (17º)
estava fazendo uma corrida honesta, disputando posições, quando logo após uma
ultrapassagem sobre Magnussen (e ultrapassar nessa pista não é das coisas mais
fáceis) acabou travando os pneus, perdeu o controle do carro e acertou o muro.
Rapaz quando está concentrado não é ruim, apenas azarado.
Em 5º chegou Sérgio Pérez, feliz por ter renovado o contrato
com a Force India (que ano que vem será apenas Force) para 2018, nem tão feliz
com o resultado da corrida. Afinal, ele tinha pneus melhores que os de Sainz
Jr. e não conseguiu o ultrapassar, mas faz parte do jogo. Como já disse,
ultrapassar em Cingapura não é exatamente fácil. Seu companheiro Esteban Ocon
(10º) levou um pontinho de consolação por ter feito uma corrida abaixo das próprias
expectativas no dia do seu aniversário (completou 21 verões do hemisfério norte),
mas levando em conta a conjuntura geral da corrida, não foi exatamente dos
piores resultados.
Em 6º terminou Jolyon Palmer, que após ser informado que ao
final da temporada deverá passar no setor de RH da Renault para receber seu
bilhete azul resolveu acelerar. Se tivesse feito isso antes, talvez não
precisasse passar no Departamento Pessoal... enfim, a atribulada largada e as
vezes que o safety-car entrou na pista propiciaram ao garoto o seu melhor
resultado na carreira. Seu grande momento foi ter conseguido ultrapassar o
Bottas, ao menos uma vez na vida... seu companheiro Nico Hülkemberg (14º) teve
de abandonar por problema mecânico.
Em 7º terminou Stoffel Vandoorne, que aproveitou a pista
travada e a chuva do começo da prova para descontar a diferença que seu McLaren
tem para os outros carros e conquistar um ótimo resultado para um carro que
enfrenta tantos problemas como o desse ano. Além disso, fez uma classificação
surpreendente no sábado. Seu companheiro Alonso (17º) arrancou um elefante da
cartola no treino classificatório, e largou bem o suficiente para, quando foi
alvejado pelos carros de Kimi e Max – ambos já sem controle algum – , já estivesse
à frente do Hamilton... supondo que não tivesse acontecido o acidente da
largada, poderia ter um grande resultado. Fica para ano que vem, com a McLaren
já com motor Renault (outro grande aviso desse final de semana, com a Honda
saindo da McLaren e indo para a Toro Rosso).
Em 8º chegou Lance Stroll, que tanto no sábado como no
domingo demonstrou insuspeita qualidade de pilotagem na chuva, e fez uma
corrida sem erros... bem melhor que a do seu companheiro de equipe Miojinho,
digo, Felipe Massa (11º), que fez uma corrida (lamen)tável e insistiu no pneu
de chuva forte quando praticamente todo mundo estava de intermediário. Depois
trocam ele pelo Kubica em 2018 e ele vai reclamar...
Em 9º terminou Romain Grosjean, conseguindo mais 2 pontinhos
para a Haas, aproveitando a escolha correta de pneus para a largada
(intermediários) e fazendo uma pilotagem das melhores que ele fez esse ano após
a primeira saída do safety-car. Seu companheiro Kevin Magnussen (13º) não tem muito
o que agradecer esse final de semana, cuja maré de azar culminou com um
problema mecânico a 8 voltas do final.
Próxima etapa Malásia, pista teoricamente favorável à
Ferrari, mas que periga ser novamente um clamoroso fracasso (como diria Mestre
Claudio Carsughi, um dos melhores jornalistas automobilísticos do Brasil, que
talvez não por acaso seja italiano), pois o emocional da equipe italiana após a
pane cerebral da largada de Cingapura deve estar bem prejudicado. Se eu tivesse
que apostar dinheiro, apostaria no Hamilton como vencedor.
Mas não tivemos apenas F-1 esse final de semana. No sábado em
Austin aconteceu mais uma etapa do WEC, as 6 Horas dos EUA, com mais uma
dobradinha Porsche na LMP1, com o carro #2 de Bamber/Bernhardt/Hartley
recebendo a vitória das mãos do carro #1 de Jani/Lotterer/Tandy, graças ao
clássico expediente do jogo de equipe. Em 3º chegou o Toyota do trio
Buémi/Nakajima/Sarrazin, que dessa vez andou um pouco menos longe dos Porsche,
mas não o suficiente para efetivamente ameaçar a dobradinha. E teve Brasil no
pódio da LMP2, com a vitória do carro de Lapierre/Menezes/Negrão, seguido por
outro carro com brasileiro em 2º (Beche/Hansson/Piquet Jr.) e mais um piloto
brasileiro terminando em 3º, no carro de Canal/Prost/Senna. Um sábado para o automobilismo
brasileiro comemorar.
Esse domingo aconteceu a primeira prova dos playoffs da NASCAR,
mas o torcedor brasileiro não conseguiu acompanhar pois o canal “responsável”
pela transmissão, o Fox Sports 2, preferiu passar um jogo de futebol de outro
país, de qualidade e relevância para o tal campeonato duvidosa, ao invés de
passar a prova da NASCAR. Trata-se de um hábito bastante comum nas emissoras
brasileiras, compram os direitos de transmissão de uma categoria e não
transmitem a prova depois. O barulho nas redes sociais foi grande, e a ira
contra a direção da emissora mais do que justificada. Enfim, o vencedor foi o
líder da temporada regular, Martin Truex Jr., que alcançou a sua 5ª vitória na
temporada, a 2ª seguida em Chicagoland, e a 12ª da sua carreira. Praticamente
não precisou de todos aqueles pontos de playoffs que acumulou vencendo
segmentos durante a temporada... eu diria que, assim como na F-1, pintou o
campeão. Pouco adiantou Kyle Busch (que terminou num mau 15º lugar) vencer o 1º
segmento, e bem que Chase Elliot (que terminou em 2º) fez a sua parte ao vencer
o 2º segmento, mas esse ano Truex Jr. está naquela fase em que tudo, rigorosamente
tudo, dá certo. Em 3º ficou Kevin Harvick, que pela consistência de resultados
nunca pode ser descartado em um playoff, em 4º tivemos Denny Hamlin e fechando
o Top 5 chegou Kyle Larson, mais um bom resultado para Chip Ganassi.
E também no domingo teve decisão do campeonato da Fórmula
Indy, e o caneco ficou nas (ótimas) mãos do Josef Newgarden, um dos melhores
pilotos da nova geração da categoria. E se ele não se mudar para outra
competição, podem escrever, esse foi o primeiro mas não será o último título
dele. Parabéns ao Newgarden, o troféu não poderia estar em melhores mãos. O
pódio foi todo Penske, com a vitória do Simon Pagenaud, 2º lugar do Newgarden e
3º do Will Power. O brasileiro Hélio Castroneves, que no meio da temporada
parecia que poderia levantar o título dessa temporada, mais uma vez nadou,
nadou e morreu na praia, terminando a corrida em 5º lugar e em 4º na pontuação.
Tony Kanaan encerrou sua participação na equipe de Chip Ganassi com um
melancólico 16º lugar. Que tenha melhor sorte ano que vem. E aconteceu um marco
histórico: pela primeira vez em Sonoma, a corrida não teve nenhuma intervenção
do pace-car...
Até a próxima!
Alexandre Bianchini
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