segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Barcelona: Um futebol brasileiro pragmático.

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Não foi diferente do que os torcedores do mundo imaginavam: Barcelona campeão mundial. Mas dentro dessa certeza, existia no mundo uma esperança. Quem pode barrar o futebol desse magnífico time? Os brasileiros era a resposta de melhor conceito. Inclusive rumores de que esse time do Barcelona se espelha no futebol brasileiro, principalmente a seleção da Copa de 1970 e 1982.

Mais uma vez esse número mágico toma as conversas sobre futebol. Lembramos de Telê Santana e de tantos craques que povoavam os campos naquela década. A derrota da seleção brasileira em 1982 matou o futebol em ascensão desde 1950. A distorção do que chamávamos competitividade. Posse de bola, a quebra do ataque adversário; busca pela excelência do passe; do arremate, da disposição dos jogadores em campo; tudo roboticamente programado: isso era ser competitivo. Gol tornou-se um detalhe, mas não por não ser importante, mas pela possibilidade de não precisar acontecer com muita freqüência, mas apenas uma vez por jogo.

Crescemos no placar de títulos mundiais, com o pragmático Parreira em 1994. Trouxemos novamente o prêmio de melhor do mundo com Felipão, numa mistura de jogadores pragmáticos com inventivos, com craques e medianos. O futebol tinha uma nova fórmula intermediária. A competitividade era a técnica, habilidade; mas emocionalmente a vontade. Os elementos primordiais do futebol brasileiro, querido por todos os torcedores, era um time criativo com gana de vencer. Ação e emoção.

E o tempo passou e algo se perdeu. Na verdade perdemos muito. Perdemos a técnica dos nossos novos craques, que não jogam mais com bolas imaginárias de meia ou de lata de refrigerante. Perdemos os campos de traves inventadas no vazio, demarcadas apenas com chinelos e pedras achadas no meio do caminho. Perdemos aquele terreno baldio que tem mato por todos os lados, menos no santuário do jogo. Perdemos Pelé, Zico, Romário, Ronaldo, Sócrates e tantos outros craques.

O melhor jogador do nosso atual futebol parece mesmo criado nesses campos de terra batida e dedão do pé sangrando. Mas ele é mais do que isso, ele também é o sujeito que ganha mais dinheiro que toda população operária do Brasil. É cara que vende celular, chocolate, carros, cuecas e ventiladores. Ele pode ser aquele menino da bola de meia, mas para o futebol ele é outra espécie: ele é o modelo da geração que esta vindo e que possivelmente virá nas próximas décadas. O solitário jogador do Santos passou a ser síntese de tudo que há de melhor e pior no futebol brasileiro.

E nele, torcedores brasileiros; torcendo a favor ou não para o Santos; colocavam a nossa maior fé: o futebol do Santos, melhor do Brasil, era o renascimento do futebol brasileiro. Pois é, para nosso desespero ele não foi. Nem será. O futebol brasileiro que perdeu para o Barcelona é o futebol que temos de melhor, isso é preocupante. Podemos justificar que o time campeão do mundo vence todos os times da Europa, mas mesmo assim, a derrota do Santos foi diferente.

Perdemos, todos nos brasileiros, com o Santos. Não foi uma derrota simples, mas uma derrota de conceito. Não perdemos porquê o Durval falhou num lance ou por causa do Muricy escalando errado (segundo opiniões dos entendedores de futebol). Perdemos porque não sabemos mais jogar o futebol brasileiro. Real Madri perde para o Barcelona, mas perde porque o Barcelona é superior. Santos não só perdeu porque o Barcelona é melhor, mas perdeu porque não sabe mais jogar futebol. Santos, como o resto do mundo, joga um esporte parecido com o futebol, mas futebol mesmo somente o Barcelona.

Poucos dias antes da partida ouvi dizer: “Mas quem o Barcelona enfrenta? Lá só existe o Real Madri”. Bingo! O futebol brasileiro sempre se vangloriou de ser o melhor (e era) e por isso mesmo acha que esse bando de times desajeitados, confusos e medrosos fossem realmente parâmetro para treinar o Santos. Se, numa hipótese remota, Barcelona e Real participassem do campeonato brasileiro; teríamos entre os times nativos uma briga ferrenha pelo terceiro lugar. Simples e fácil.

E vamos ser sinceros: O time do Barcelona é espetacular por fazer o que há de mais óbvio para o futebol: marcar, posse de bola, toque, drible, tabela e chute. Não há segredo na fórmula, mas existe um abismo imenso na prática. E melhor ainda: o Barcelona pratica o futebol com uma simplicidade que, aos olhos de leigos, não há nada de extraordinário.

Qual o momento do jogo você viu jogadas grandiosas? Nenhuma. Mas o futebol pragmático, compacto e robótico existe em todos instantes. Mas para o Barcelona esses termos tão pejorativos para o resto do mundo (e tão essenciais ao futebol competitivo), tornam-se qualidades. Os jogadores, que são os aspectos humanos em campo, fazem hoje a diferença que os jogadores brasileiros sabiam fazer no passado.

O Barcelona é o futebol pragmático do Brasil da década de 80, por isso invencível.

Assim, tristemente o futebol brasileiro perdeu mais uma vez. Mais do que os torcedores santistas, mas todos que gostam de futebol ouvindo mais uma vez a triste notícia: Depois da realidade do futebol maravilhoso de 1982 morrendo, temos agora não a realidade, mas a esperança da reinvenção do futebol brasileiro também morrendo. A realidade não existe mais, e o sonho do novo futebol brasileiro não passou de um pesadelo.

Se o Barcelona nasceu pelo futebol brasileiro, hoje temos é que aprender com eles.
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Um comentário:

Mario disse...

O "aluno" ensinando o "mestre" para completar a idéia da última frase do seu post.