terça-feira, 17 de maio de 2011

A gente diferenciada está com vergonha do clube diferenciado.

Desde que me conheço por gente ouço aos quatro cantos que o São Paulo é um clube diferenciado. É diferenciado em cúpula administrativa, formada por profissionais destacados nos seus respectivos ramos de atuação, é diferenciado na forma como conduz a administração de seu clube, notabilizada pela alternância de poder, é diferenciado nos seus jogadores, extremamente técnicos e profissionais e diferenciado, até mesmo em sua torcida, que evita reações violentas contra o time por acreditar, simplesmente, que o seu clube de coração é diferenciado.

Nos últimos anos, entretanto, o torcedor são paulino foi obrigado a encarar um choque de realidade ao descobrir que o seu clube não é assim tão diferenciado.

A cúpula do São Paulo, outrora formada por profissionais destacados e prestigiados nos seus ramos de atuação, cidadãos preocupados com a boa imagem da instituição dificilmente ergueriam as armas para alimentar a estúpida e oportunista guerra com Corinthians, o Flamengo, a CBF, Rede Globo e a Federação Paulista. É lógico que se a luta é justa a bandeira deve ser levantada, mas, no caso, ao que tudo indica, não passa de mais um delírio egocêntrico do principal mandatário do clube que deu de ombros para as necessidades da instituição e do próprio futebol brasileiro.

Por falar em mandatário, lembro com orgulho do tempo em que o São Paulo era um clube que, ao seu modo, primava pela democracia, não permitia que odor inebriante do poder viciasse os parasitas de regalias. Cumpra o seu mandato e rua! Era assim. Infelizmente, atualmente, chegaram ao cúmulo de mudar o estatuto do clube, a Carta Magna da instituição, para permitir mais alguns anos de poder ao presidente. Ai que saudade do tempo que eu podia caçoar dos palmeirenses com os seus Mustafás e dos corintianos com os seus Dualibs. Tenho que agüentar calado o Juvenal.

E os jogadores, hein? Que saudades dos Menudos, do Expressinho, dos Mineiros e Josués de um passado recente. O que vejo hoje é um misto de mediocridade e arrogância que chega a dar nojo. Os jogadores sub-40 exigem respeito e a camisa de titular mesmo que não demonstrem, há muito tempo, serem merecedores da honraria. Os mais jovens então, se jogassem metade da bola que acham que jogam, sinceramente, não teríamos mais dor de cabeça com esse time. Mas, a maioria do elenco é operária. Isso mesmo. Aquele tipo que acorda todos os dias no mesmo horário, chega pontualmente no treino, almoça, treina, vai pra casa no mesmo horário, dorme e, se não for escalado para o próximo jogo, tudo bem, a vida continua. O que falta em qualidade sobra em passividade e bons contratos, é claro.

O que falar dos torcedores. Bom, o clube cresceu, tornou-se popular e a torcida, felizmente, está mais heterogênea, mas, ao mesmo tempo menos exigente. O bom futebol, o toque de bola, que se tornaram marcantes do São Paulo nos anos 1980 não existem mais, entretanto, acredito que, entre os torcedores, ninguém mais se importa com isso, afinal, o que vale é levantar o caneco. Nesse ponto até a nossa torcida ficou semelhante à dos rivais. O grito nas arquibancadas é sempre pelo suor e, dane-se o fino trato com a bola.

Para o leitor que conseguiu acompanhar até o final esse verdadeiro tratado do mau humor futebolístico e que já deve ter mandado esse blogueiro catar coquinho já no segundo parágrafo, eu peço desculpas. A rabugice e falta de paciência vêm junto com os cabelos brancos. É inevitável. Principalmente quando se trata daquelas pequenas coisas que nos são caras. O futebol ainda é uma delas. É bom que se diga que continuarei são paulino, apesar de todos os pesares. Tentarei aproveitar esse espaço do Patativa somente para trocar idéias sobre o nobre esporte bretão, de forma menos sisuda, panfletária e mais poética, leve, como deve ser. Mas, se tudo isso não der certo, sempre haverá o Barcelona pra gente torcer, não é mesmo?

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